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O Viagra e a prevenção do mal de Alzheimer

Por Dr. Renato Matos Edição 24/12/2021
Foto: Divulgação
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Bombou nas manchetes dos grandes jornais a informação de que o Viagra (nome comercial da Sildenafila) pode reduzir a incidência do mal de Alzheimer, a principal causa de demência no mundo. 

Pesquisadores do Cleveland Clinic's Genomic Medicine Institute, em estudo publicado na Nature Aging, em 6 de dezembro passado, avaliaram dados obtidos de seguradoras de saúde de 7,2 milhões de idosos nos EUA. 

Ao final, encontraram que pessoas (na maior parte homens) que faziam uso do Viagra tinham uma probabilidade 69% menor de desenvolver o mal de Alzheimer, num período de 6 anos, em comparação àqueles que não usavam a droga.

Esses valores foram obtidos após ajustes para sexo, idade e presença de outras doenças.

Os pesquisadores também cultivaram em laboratório neurônios humanos misturados à Sildenafila e observaram que houve redução nos biomarcadores de Alzheimer – substâncias presentes em níveis elevados nos pacientes com a doença.

Importante salientar que nas experiências com as células nervosas, os investigadores utilizaram concentrações do fármaco que são cerca de 100 vezes superiores às obtidas quando se toma um comprimido de Viagra. 

Já vimos recentemente essa história com a Cloroquina e a Ivermectina – em culturas de vírus e doses inalcançáveis na prática, os medicamentos do Kit Covid matavam o SARS-CoV-2.

Os dados encontrados pelos pesquisadores de Cleveland foram excepcionalmente bons – até para serem verdadeiros.

No seu uso habitual, para tratamento de disfunção erétil, a eficácia da Sildenafila, encontrada numa análise de 27 ensaios clínicos, foi de 57%, em comparação com 21% do grupo placebo.

Abaixo dos 69% encontrados na suposta “prevenção do Alzheimer”.

A descoberta da ação da Sildenafila contra a disfunção erétil – sua principal indicação – se deu por acaso. 

Conta Ian Osterloh, pesquisador da Pfizer, num artigo intitulado “How I discovered Viagra”, que, no início dos anos 90, a empresa começou a testar uma nova droga vasodilatadora para ser usada em pacientes com angina.

Os resultados não foram animadores

No entanto, chamou a atenção que num dos grupos estudados, os voluntários masculinos relataram um aumento das ereções vários dias após a dose inicial. 

“Nenhum de nós da Pfizer pensou muito sobre este efeito secundário na época. Lembro-me de pensar que mesmo que funcionasse, quem iria querer tomar um medicamento numa quarta-feira para ter uma ereção num sábado? Por isso prosseguimos com os estudos da angina”.

Coincidentemente, naquela época, outros estudos revelaram informações sobre o caminho bioquímico envolvido no processo de vasodilatação/ ereção, o que explicaria o “efeito colateral” do Viagra.

Os pesquisadores da Pfizer mudaram, então, o foco da pesquisa. 

No estudo inicial, os homens assistiram a vídeos eróticos enquanto um dispositivo monitorizava a circunferência e a dureza do seu pênis. 

Os resultados iniciais foram encorajadores e mostraram que a droga era muito mais eficaz do que um placebo.

Conhecemos o desenrolar da história 

O Viagra é um dos medicamentos de maior sucesso de vendas – e de falsificações - da história.

O trabalho apresentado pelo grupo de Cleveland sobre o Viagra e o Alzheimer é um estudo observacional, com diversos fatores de confusão.

Um dos principais é a conhecida redução da libido já nas fases iniciais da doença. 

O indivíduo teve menos Alzheimer porque usou a droga ou foi a sua procura que marca uma menor predisposição para a doença?

O estudo sugere correlação entre o uso de Viagra e o desenvolvimento do Alzheimer, mas não relação de causa e efeito.

Só demorados e complexos ensaios clínicos bem desenhados poderão nos dar a resposta correta.

Com certeza, não é hora de tomar o medicamento pensando que com ele reduzirá as chances de desenvolver a doença nos próximos anos.

Mas, quem sabe?

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