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Davos, a Montanha Mágica e a tuberculose

Por Dr. Renato Matos Edição 07/01/2022
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A história da tuberculose é milenar. 

O bacilo causador da doença já foi encontrado em múmias do antigo Egito (3000 A.C.).
A doença se disseminou na Europa no século XVII e ficou conhecida como a peste branca.
Levou - e ainda leva - milhões de pessoas à morte.

No Brasil, no período que antecedeu o tratamento medicamentoso, era responsável por quase 70% das mortes provocadas por doenças infecciosas.

Apesar do bacilo causador da doença ter sido identificado apenas em 1882, por Robert Koch, já se sabia da sua transmissão pela via aérea.
Para evitar sua propagação, as pessoas infectadas eram isoladas, muitas em hospitais especializados, onde ficavam por anos, até sua morte ou eventual cura.
Sem tratamento efetivo, 75% das pessoas internadas acabavam morrendo em 5 anos.

A falta de conhecimento científico da época fazia com que a tuberculose fosse vista como resultado de comportamento social inadequado, falta de higiene e ar impuro.
Surge daí a hipótese de que ar puro, alimentação reforçada e repouso seriam o tratamento ideal para esses pacientes.

A busca por esse ar salvador, idealizado no ar das montanhas, levou ao surgimento de lugares especializados no acolhimento a esses doentes – os chamados sanatórios.
Como toda a energia deveria ser canalizada para o que o organismo fizesse frente à infecção, a rotina consistia em repouso quase absoluto.
Heresia atualmente, o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas eram liberados.

Um dos mais importantes centros de tratamento de pacientes com tuberculose na Europa foi em Davos, pequena cidade nos Alpes Suíços.
Sim, Davos, onde, desde a década de 70, se realiza o Fórum Econômico Mundial.

Abrigou os mais requintados sanatórios da época, disputados pela elite econômica.

Greta Jones, autora da “História da Tuberculose”, afirma que na década de 1930 havia em Davos até 6000 tuberculosos, atendidos em 16 sanatórios e 40 pensões especializadas.
Um dos clássicos da literatura mundial, que rendeu ao seu autor um prêmio Nobel, “A Montanha Mágica”, do alemão Thomas Mann, passa-se dentro de um desses sanatórios.
Internada em Davos estava Katia Mann, mulher do escritor. 

O autor se inspirou nessa experiência para escrever seu encorpado livro de 800 páginas, uma alegoria da Europa pouco antes da primeira grande guerra mundial.

O equivalente nacional de Davos foi Campos do Jordão. O primeiro estudo brasileiro a associar a cura da tuberculose com a Serra da Mantiqueira por causa do seu clima frio e seco foi publicado em 1880. Era o começo da climatoterapia – a qualidade do ar era considerada condição essencial para a cura de doenças.
Por volta de 1908, ao retornar de uma viagem pela Europa para estudar tuberculose, o médico sanitarista Emílio Ribas teve a ideia de transformar o vilarejo paulista em vila sanitária para tísicos, como eram chamados os tuberculosos na época.

No auge da climatoterapia no Brasil, entre 1926 e 1941, somente as pensões de Campos do Jordão chegaram a receber 3.563 tuberculosos, entre eles pacientes ilustres, como os escritores Monteiro Lobato, Manuel Bandeira e Nelson Rodrigues.

A descoberta da estreptomicina, do ácido para-aminosalicílico e da isoniazida, entre 1944 e 1952, terminou com as ilusões – e ganhos – dos climatoterapeutas. 

Hoje, os pacientes com tuberculose são curados em casa, com medicamentos fornecidos gratuitamente pelo SUS.
 

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