É muito difícil convencer um antivacina a mudar de ideia, mesmo usando as melhores informações disponíveis.
Embora com todas as informações já disponíveis provando a segurança e efetividade das vacinas contra a Covid, eles resistem.
Apesar de terem vivenciado as mortes de amigos e familiares ou passado por situações de risco iminente de morte, como algumas semanas em UTI, mantêm sua descabida posição.
O que move toda essa fé fundamentalista?
Ou, melhor, como convencê-los a mudar de ideia?
Uma boa análise é fornecida pelos médicos Anupam B. Jena e Christopher M. Worsham, especialistas em saúde pública da Escola de Medicina de Harvard.
O ensaio foi publicado no New York Times, de 21 de dezembro de 2021.
Os autores fazem suas colocações dentro da realidade norte americana, onde o movimento antivacina é muito mais forte do que em nosso meio.
HPV e Covid
Há comprovada associação entre câncer do colo do útero e infecções pelo papilomavírus humano (HPV), preveníveis por vacinação.
Desde que foi aprovado, em 2006, esse imunizante sofre um forte patrulhamento de grupos conservadores e religiosos que associam o seu uso à promoção de atividades sexuais.
Virou um bom alvo para os antivacinas.
Os autores do texto haviam publicado há pouco um trabalho em que analisaram dados de cerca de 750.000 crianças elegíveis para a vacina contra o HPV.
Queriam saber se as mães que tiveram câncer do colo do útero estariam mais predispostas a vacinar os seus filhos contra esse vírus.
Surpreendentemente, não: o percentual de filhos vacinados foi semelhante aos filhos de mulheres que nunca tiveram a doença.
Algo semelhante parece acontecer no caso da vacinação contra a Covid.
“Os relatos dos médicos sobre os casos de desespero que veem no hospital podem não ter um efeito significativo nas taxas de vacinação”.
Depois de tanta divulgação sobre a doença “é pouco provável que o fornecimento de mais informações possa ajudar”.
Assim, que tipo de intervenções poderia funcionar?
“A investigação nas ciências comportamentais sugere que uma das melhores formas de motivar o comportamento é através de incentivos, sejam eles positivos ou negativos”.
Eles simplesmente funcionam porque não forçam as pessoas a mudar as suas convicções.
“Um cliente pode não mudar de fornecedor de serviços de telefonia celular porque pensa que o novo fornecedor é melhor, mas porque lhe é oferecido um iPhone gratuito se ele mudar (incentivo positivo)”.
“Uma adolescente que volta para casa antes da hora combinada com os seus pais num sábado à noite não o faz porque esteja convencida de que é perigoso ficar fora até tarde, mas porque sabe que os seus pais vão tirar as chaves do carro se ela ainda estiver fora depois da meia-noite (incentivo negativo)”.
Segundo os autores, embora pequenos incentivos possam motivar algumas pessoas, não parecem ter a capacidade para alavancar a imunização de forma significativa.
Na verdade, o que os dados de vida real mostram é que o que realmente funcionou foram os incentivos negativos: “vacine-se ou será despedido”.
“A United Airlines, que exigiu a vacinação contra a Covid dos seus empregados no verão passado, informou em novembro que 100% dos empregados em contato direto com clientes tinham sido vacinados, e apenas cerca de 200 dos seus 67.000 empregados tinham optado por ser despedidos em vez de serem vacinados”.
O mesmo aconteceu nos hospitais associados a Universidade de Harvard, onde trabalham os autores do estudo.
“Já é evidente que o sistema de saúde pública não sabe como mudar a opinião das pessoas sobre as vacinas. Até encontrarem a fórmula para o fazer, os nossos governos devem optar por outras estratégias, especialmente aquelas que já provaram a sua eficácia”.
Devemos continuar a informar para incentivar a vacinação.
Mas sabendo das suas limitações.