Gelson Merisio foi do PSD, e de voto declarado em Bolsonaro, para a campanha de Lula.
Dário Berger ensaiou ida ao PSB para fazer palanque para Lula, mas continua no MDB. Embora ninguém no MDB tenha pedido para ele ficar.
E agora corre o risco de Merisio ocupar a cadeira que poderia ser dele.
Movimentos da política do estado que chamaram a atenção na semana.
Nada surpreende mais, no entanto, que a movimentação do governador Carlos Moisés.
Ele quer o MDB na sua campanha em busca da reeleição, mas acusa emedebistas de “roubalheira”.
Não diretamente, mas na medida em que bate no peito e proclama que acabou com a roubalheira e que antes a prática comum era desviar recursos.
O “antes” é tempo em que o MDB tocava o governo.
Em dois mandatos com governador, em outros dois com vice, e muitos secretários, adjuntos, diretores e uma “multidão” de cargos de confiança.
Além do MDB, quando fala em roubalheira alcança também PSD, PSDB e PP, que ele também quer no seu palanque.
O discurso polêmico de Moisés foi feito aqui, em Criciúma, ao lado de Eduardo Moreira, governador que o antecedeu, e vice nos três mandatos que tiveram antes dele.
Além de Eduardo, secretários de governos passados e deputados aliados que são de partidos “atingidos”.
Mesmo assim, MDB e Moisés continuam discutindo como estar juntos na eleição.
O MDB parece não se incomodar com a “roubalheira” atribuída aos seus mandatos.
“Ele quer é atingir o Colombo”, dizem.
Raimundo Colombo foi duas vezes governador imediatamente antes de Moisés, nas duas vezes com Eduardo Moreira de vice.
Está claro que eles se querem, mesmo assim. MDB e Moisés.
Só que o MDB quer Moisés filiado, e Moisés quer o MDB sem filiação (ou sem certidão de casamento).
Uma espécie de “relação aberta”, sem compromisso formal.
Moisés tem dito que sua preferência é filiação em um partido pequeno, sem tradição, e sem história na política do estado.
Faz lembrar Esperidião Amin quando governador do estado na década de 90.
Ele defendeu a filiação de Vilson Kleinübing numa sigla “não conspícua”, para facilitar apoio de vários partidos e políticos de origens distintas.
Se procurar no Aurélio, conspícua quer dizer claramente visível, facilmente notado, que salta à vista.
Sigla não conspícua é desconhecida, sem expressão. Sem histórico.
Trazendo aos tempos de hoje, mas repetindo o passado, Moisés estaria projetando filiação numa sigla “não conspícua”.
Na tese de Amin, o partido não era importante porque ele e Kleinübing tinham “exército”.
Eram políticos conhecidos, reconhecidos, com aliados e defensores por todo o estado, prontos para “entrar na guerra” por eles, quando chamados.
Moisés entende que está na mesma condição.
Que tem luz própria e apoio popular maiores do que qualquer partido.
Suficientes para mantê-lo no Palácio da Agronômica por mais um mandato.
Mas, será?
Era um ilustre desconhecido até 2018, quando foi colocado candidato a governador pelo partido de Bolsonaro.
Fez campanha colado em Bolsonaro, fazendo sinal de “arminha” em cada aparição pública, e praticamente repetindo discursos e bandeiras.
Por ser o candidato do Bolsonaro, e por problemas nas campanhas dos adversários, passou para o segundo turno.
Bolsonaro buscou distância dele, chegando a dizer que em Santa Catarina tem um “certo bombeiro” de candidato do partido, mas que eles não tinham nenhuma relação.
Dias depois, pressionado por militares e aliados, voltou atrás. Fez uma foto com Moisés, onde ficava evidente que não estava a vontade, pela cara de poucos amigos.
Mas foi o suficiente para colar. E Moisés fez praticamente a votação de Bolsonaro no segundo turno.
No cargo, rompeu com Bolsonaro, procurou se afastar do ambiente da direita mais radical e assumiu bandeiras avançadas, inclusive algumas à esquerda.
Se apresentou como “fundador da nova política”, virando as costas para os políticos tradicionais, partidos e estruturas de poder.
Estava decidido a governar “só com o povo”.
Mas, depois de denúncias de improbidade e desvios no seu governo, enfrentou dois processos de impeachment e não viu o povo nas ruas para apoiá-lo.
Teve que recorrer aos políticos tradicionais para não sair mais cedo do cargo.
Mais que isso, loteou o governo com eles.
Assim, garantiu uma base de apoio na Assembléia Legislativa com praticamente 80% dos deputados.
Depois, passou a distribuir dinheiro pelo estado, numa prática batizada de “show do milhão”.
Passou a navegar em águas tranquilas.
E de novo se convenceu que o povo está com ele, independente de partido.
Mesmo que por uma sigla não conspícua.
Será?