Apesar de tantas ameaças veladas e avisos disparados de diversos países, com destaque para o Pentâgono, dos EUA, a ação militar da Rússia sobre a Ucrânia chocou o mundo na madrugada da última quinta-feira, 24.
A ofensiva foi ordenada por Vladimir Putin, presidente russo, às 5h55 (horário de Moscou). No discurso, Putin avisou ao mundo que, quem intervir sofrerá consequências jamais vistas mundialmente.
Frente à (até então) iminente invasão russa, os mesmos Estados que alertavam quando ao risco anunciavam medidas punitivas a serem aplicados caso a ofensiva acontecesse. Fato consumado, pelo menos 16 áreas bombardeadas, mais de 170 ucranianos mortos até o início da noite de quinta-feira, sanções anunciadas. Entre elas está a retirada do país do sistema Swift.
Mas, afinal, o que é Swift?
Criada em 1973 por 239 bancos de 15 países, a Society for Worldwide Interbank Financial Communication, (Sociedade para a Comunicação Financeira Interbancária Mundial, em inglês) é o sistema que possibilita a realização de transações bancárias, como transferências e ordens de pagamento, entre instituições de diferentes países. Se compararmos com números telefônicos, que tem padrões diferentes em cada país, o Swift seria o DDI.
Atualmente essa sociedade é composta por mais de 11 mil instituições financeiras em cerca de 200 países. Cada uma delas conta com seu código Swift, também conhecido como BIC (Código Internacional Bancário, em inglês), composto por um conjunto de 8 a 11 caracteres, seguindo o seguinte padrão:
AAAA BB CC DDD
AAAA: letras que identificam a instituição. BRAS para Banco do Brasil, ITAU para Itaú, BCSI para Sicredi.
BB: letras que identificam o país. BR para Brasil, RU para Rússia, UA para Ucrânia.
CC: letras ou números que identificam o local do banco. SP para São Paulo, RJ para Rio de Janeiro, RS para Rio Grande do Sul
DD: identificam a agência e não existem em instituições virtuais ou com apenas uma unidade.
É por esse sistema de mensagens criptografadas interbancárias que os países (desde os Governos até os cidadãos) conseguem por em prática a economia sem fronteira que move o mundo em 2022, facilitando o fluxo de riquezas além-mar, antes transportadas nos porões de navios.
Um público que deve muitas homenagens ao Swift são os produtores de conteúdo digital, com destaque para o YouTubers. Boa parte da renda dos grandes canais vem da publicidade veiculada pelo Google (aquelas propagandas chatas que aparecem antes de cada vídeo). O Google, por sua vez, paga a comissão aos titulares dos canais em dólar, direto dos EUA. Para receber é necessário cadastrar na sua conta o código internacional do seu banco.
Explicada a função e a construção do código Swift, você pode estar se perguntando...
O que isso tem a ver com a invasão russa?
Em matéria publicada no site da CNN Brasil no fim de janeiro, quando já se antevia a investida sobre a Ucrânia e, por consequência, já eram discutidas as punições a serem aplicadas, Nikolai Zhuravlev, vice-presidente da câmara alta do parlamento russo disse ao veículo estatal russo Tass que “se a Rússia for desconectada da Swift, não receberemos moeda [estrangeira]”.
A sanção solicitada pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e apoiada por diversos líderes mundiais consiste em desligar o sistema bancário russo do mercado internacional. Na prática, essa medida criaria uma espécie de barreira financeira impermeável entre a Rússia e o resto do mundo, tornando inviável qualquer operação de importação ou exportação, seja de alimentos, equipamentos, matéria-prima,…
Em palavras mais diretas, aplicada essa medida, o país terá que produzir (plantar, explorar, refinar,...) por si próprio tudo o que precisa. Algo impraticável atualmente, quando cada país tem suas especialidades, que exporta, em troca de recursos para importar o que não consegue ou não vale a pena produzir.
Se as sanções vão mesmo existir, saberemos nos próximos dias. Se a Rússia vai ter sucesso no seu projeto de criar um Swift paralela, provavelmente interligando seus bancos com os de aliados políticos, é uma icognita.
Mas o que vale reflexão é que, contra a lógica aprendida em filmes e livros da Primeira e Segunda Guerras Mundiais, a contraofensiva não conta com bases, bunkers, tanques ou soldados. No lugar do conflito, a estratégia é o isolamento.