Estava muito difícil diferenciar o que era Psd e o que era União Brasil no salão Topázio do Lira Tênis Clube, em Florianópolis, na noite de quarta-feira. Todos os detalhes, gestos e presenças apontavam para a conjugação de forças dos dois partidos que são os herdeiros legítimos da antigo Partido da Frente Liberal (Pfl) e que celebravam naquele momento a filiação do prefeito florianopolitano Topázio Silveira Neto ao Psd, selando um dos acordos que culminaram no apoio pessedista à pré-candidatura do ex-prefeito Gean Loureiro (União) ao governo do Estado. O salão do tradicional clube da Capital ter o mesmo nome do dono da festa foi apenas uma das coincidências que chamam atenção em momentos como este, quando signos e significados pairam no ar.
O Psd catarinense fez uma festa de porte estadual para receber Topázio Neto, o empresário bem-sucedido que entrou na política como vice de Gean e herdou o comando da Capital do Estado com a renúncia do colega no final de março. Não por acaso. Os pessedistas também voltam a comandar Florianópolis, a terceira capital brasileira do partido, e podem agora ostentar uma conta relevante: é o partido que mais governa catarinenses nos municípios, embora seja o terceiro que mais detém prefeituras – atrás do Mdb e do Progressistas. Uma lógica que explicita a força do partido em centros urbanos maiores. Nas dez maiores cidades do Estado, o Psd governa também São José, Chapecó e Lages.
A demonstração de unidade partidária – e o Psd herdou do Pfl a capacidade de brigar a portas fechadas e sorrir para as fotos – foi impressionante. O presidente nacional Gilberto Kassab veio prestigiar o evento. Das bancadas, estavam lá o deputado federal Ricardo Guidi e os deputados estaduais Júlio Garcia, Ismael dos Santos e Marlene Fengler. Prefeitos e vereadores de outras cidades, além de diversos postulantes a conquistar mandatos este ano, também – cito aqui os ex-prefeitos Napoleão Bernardes (Blumenau) e José Caramori (Chapecó), além do ex-deputado federal Paulo Bornhausen, reintegrado ao partido após as excursões pelo Psb e pelo Podemos.
Estava lá, fora do palco, mas citado nos discursos, o ex-governador e pré-candidato a senador Raimundo Colombo. Foi seu gesto de antecipar a decisão de desistir de uma nova candidatura ao governo que propiciou que o evento acontecesse ontem. O que não significa que esteja interrompida a disputa interna que opunha o prefeito chapecoense João Rodrigues – na palco, representando todos os prefeitos pessedistas -, Júlio Garcia e Eron Giordani. O prefeito de Chapecó foi festejado por Gean Loureiro em seu discurso, quando anunciou o convite para que ele coordene sua candidatura ao governo. A força de João Rodrigues no Oeste é considerava vital para a interiorização de uma pré-candidatura que hoje enfrenta dificuldades fora da Grande Florianópolis.
Ao seu estilo característico, João Rodrigues domou o microfone quando foi sua vez de falar. Uma fala cheia de recados que atingiram diretamente os citados. Disse que sempre foi da “ala radical de direita” do Psd e condicionou seu apoio pessoal a Gean Loureiro, que ele anunciou, à adesão à candidatura do presidente Jair Bolsonaro (Pl) à reeleição. Foi além. Disse que não vai pedir votos para nenhum deputado federal ou senador que não esteja engajado pela reeleição e pelo apoio a um segundo mandato do presidente. Segundo o prefeito. não ajudará a eleger “quem vai atrapalhar” Bolsonaro depois. Estava ali o primeiro recado a Colombo, que nunca se atraiu pelo canto da sereia bolsonarista. Curiosamente, a saudação do prefeito chapecoense a Bolsonaro foi recebida em silêncio pela maior parte da plateia presente.
O segundo recado, veio quando Rodrigues subiu o tom de voz para dizer que o Psd terá o candidato a vice-governador na chapa de Gean e silenciou sobre a vaga ao Senado, pretendida por Colombo. O jogo está claro. O prefeito de Chapecó, com aval de Júlio Garcia, quer indicar o vice de Gean – pode ser Marlene Fengler ou Eron Giordani – e ceder a vaga de senador para composição com outro partido. Não se trata apenas de uma rivalidade interna pessedista ou pragmatismo eleitoral. É não trazer de volta ao jogo com mandato quem pode ser adversário nas eleições de 2026. Curiosamente, é um jogo que interessa mais a esse grupo pessedista do que ao próprio Gean, que teria em Colombo uma boa parceria na tarefa de estadualização.
Enquanto o Psd se encaminha para uma nova disputa interna que culminará em sorrisos amarelos de futuras fotografias, Gean colhe os frutos da aliança que conquistou. A filiação de Topázio também foi um ato de cruzamento de sangue entre os dois herdeiros do Pfl. Simbolizado ali, claramente, pela presença e filiação do ex-governador, ex-senador e fundador do Pfl, Jorge Bornhausen. Em seu discurso, Gean disse que o experiente articulador era o maior responsável por aquele momento. Citou o Psd como um irmão mais velho que ampara o caçula União. Contagiou seu público de lideranças da Grande Florianópolis, maior parte do contingente presente ao evento, mas também deu confiança a quem veio de fora da Capital ver o que o manezinho tem. A pré-candidatura de Gean ganhou robustez e contradições. Sem isso, dificilmente alguém chega à Casa d’Agronômica.