A experiência do pós-parto imediato pode ser bem desafiadora. Os relatos de estranhamento e até decepção com a maternidade são bastante frequentes na escuta clínica e, em geral, compõem um tanto dos estados ambivalentes e até adoecidos das mulheres e parturientes nas primeiras semanas envolvidas na função materna.
Não é novidade: sabemos que o pós-parto é um momento crucial de cuidados para garantir a sobrevivência de parturiente e do recém-nascido, e também para apoiar o desenvolvimento e o bem-estar físico, mental e emocional de ambos e da família. Ainda assim, em todo o mundo, mais de três em cada 10 mulheres e bebês atualmente não recebem cuidados pós-natais nos primeiros dias após o nascimento - o período em que ocorre a maioria das mortes maternas e infantis. De todo modo, quando recebem, vale observar: quem cuida das consequências emocionais do parto? Dos desafios psíquicos de desfazer-se de si e dos outros e fazer-se mãe?
Mora também aí a relevância da diretriz lançada no ultimo dia 30 pela Organização Mundial da Saúde. O documento, que completa uma trilogia de diretrizes para atenção integral à maternidade durante a gravidez, durante e após o parto, visa a promoção de uma “experiência pós-natal positiva”, e está centrado no atendimento das necessidades de todas as pessoas que dão à luz e aos seus bebês e na defesa de um atendimento em saúde em que as todas, todos e todes sejam tratadas com dignidade e respeito e possam participar ativamente nas decisões.
Entre as mais de sessenta recomendações, a OMS destaca que as mulheres, parturientes e famílias devem receber aconselhamento sobre aleitamento materno, acesso à contracepção pós-natal, e triagem para depressão, ansiedade e outros sofrimentos mentais e emocionais no pós-parto.
Com essa diretriz, a luta em defesa ao cuidado com a saúde mental materna ganha corpo e força internacional!
Afinal, só é possível mudar o mundo cuidando de quem cuida de todo mundo, não é mesmo?