Se você abrir o Google agora e pesquisar técnicas de desfralde, vai observar a gigante quantidade de passo a passos: de tirar as fraldas no verão à permitir que a criança urine em si até que aprenda a ir ao banheiro. Agora, será que são efetivas?
Provavelmente você conhece algum caso em que técnicas como estas foram aplicadas e deram certo. Eu também conheço. No entanto, nem sempre, a médio prazo, elas são bem sucedidas. São muitos (muitos mesmo!) os casos em que a criança deixa de usar fraldas, mas desenvolve prisão de ventre ou enurese noturna (o popular "xixi na cama") até os 8, 9, 10 anos. Em outras palavras, o desfralde impositivo pode provocar mais trauma do que autonomia – ao menos para a criança.
Então, se o seu objetivo, dada sua rotina, seu trabalho, sua vida corrida, é que você, pai, mãe, adulto responsável, que você tenha autonomia, ok seguir um tutorial na internet. Agora, se a questão é a autonomia e o saudável desenvolvimento do seu pequeno, como já dissemos aqui outras vezes, respeite o seu tempo!
Não é difícil compreender que a criança tem o seu tempo quando fazemos uma analogia com o caminhar. Sim, eu sei, todos nós estamos ansiosos para ver os primeiros passinhos da criança. Inclusive, é um ponto de preocupação se estaremos presentes quando isso acontecer ou se acabará sendo na creche ou na casa da vovó. Por isso, imagine que seu bebê ainda engatinha, mas você, adulto, acredita que está na hora de ele caminhar sozinho. Assim, pega o bebê, o coloca com os dois pezinhos no chão e o diz para dar um passo. Você acha que vai dar certo?
É importante esclarecer que, grosso modo, a criança tem seu controle e desenvolvimento corporal no sentido cima-baixo. É por isso que ela vai primeiro deixar o pescoço firme e depois, somente depois, conseguir se apoiar e ficar de pé. A questão do desfralde vai na mesma linha, pois depende do controle dos esfincters, que ela só vai ter depois que essa "direção cima-baixo" concluir. Quer um sinal de que ela já tem controle vertical do corpo? A criança já consegue pular com os dois pés ao mesmo tempo.
Tecnicamente, se diz que a partir dos dois anos a criança tem controle dos esfincters, mas isso é bem relativo. O importante aqui é o olhar atento dos adultos, que precisam ter paciência e disposição para notar os sinais cognitivos, emocionais e motores da criança. A seguir, você encontra um resumo bem objetivo das três fases que envolvem o desfralde e os sinais que conseguimos observar em cada uma delas:
Fase 1 - Passado: É o momento do "já fiz xixi", ou seja, a criança não identifica que está com vontade, só quando já o fez. O desfralde está longe!
Fase 2 - Presente: "Estou fazendo xixi" é a frase da vez, o que em outras palavras significa dizer que a criança identifica que fez xixi, se incomoda, mas ainda não consegue prever. O desfralde está a caminho, mas ainda não é a hora. Espere um pouquinho mais ;)
Fase 3 - Futuro: "Mamãe, papai, vou fazer xixi!" Aqui, a criança percebe e consegue avisar antes de fazer xixi, tem controle para segurar até que chegue ao vaso sanitário. Prontinho, chegou a hora de fazer o desfralde!
E já que esta fase chegou, vamos a algumas dicas bem práticas:
1) Pressão da escola? D@s profs? Não cedam! No entanto, é comum que as crianças se incomodem de permanecer de fralda quando os coleguinhas da escola não usam mais. Em geral, ela mesmo pede para tirar. Neste caso, observe se a Fase 3 já chegou e inicie o processo.
2) Penico ou redutor de acento ajudam, tudo bem usá-los.
3) Meninos não precisam urinar de pé desde a infância, ok? Tudo bem se ele se sentir mais confortável sentadinho no vaso. Ele vai ter a vida toda para se ajustar ao padrão comportamental masculino para urinar.
4) Que tal tornar a hora do banheiro uma horinha feliz? Afinal, nem você vai para o banheiro sem o celular, não é mesmo? Que tal livrinhos? Ser acompanhada pela boneca ou super herói favorito?
5) Tudo bem levar a criança ao banheiro quando perceber os sinais, mesmo que ela ainda não esteja na Fase 3. Comunicação e respeito são a chave de tudo sempre que o assunto é educação de filhos (e em tantos outros momentos!)
E claro, desfraldar respeitando o desenvolvimento da criança requer seu tempo, paciência e abandono do hábito da comparação. Mas, tudo bem, afinal, infância não é competição, estão lembrados?