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A Calúnia

Por Benito Gorini 20/07/2023 - 07:00

Gioachino Rossini foi um bon-vivant. Natural de Pesaro transferiu-se para a romântica Paris, a capital das artes no século XIX, onde obteve grande sucesso com sua música contagiante. Sua ópera mais conhecida é “O Barbeiro de Sevilha”, baseada na obra de Beaumarchais. Tive a oportunidade de assisti-la em New Haven, no estado norte americano de Connecticut, quando estagiei no serviço de oftalmologia da prestigiosa Yale, uma das maiores universidades do país.  A ária “La calunnia è um venticello” me chamou a atenção, pela descrição perfeita desta lamentável característica de seres humanos invejosos: “A calúnia é um como uma brisa, que parece gentil mas insensível e sutil ela começa a sussurrar; devagar, rasteira, em voz baixa, sibilando, vai rapidamente zumbindo nos ouvidos das pessoas; penetra nas cabeças e nos cérebros e saindo da boca a gritaria cresce e ganha força pouco a pouco”.  E depois de mais algumas considerações conclui dizendo: “A calúnia é uma brisa mas logo se transforma em tempestade e produz uma explosão como um tiro de canhão, um terremoto que faz você tremer; e o coitado do caluniado, abatido, pisoteado, sob público flagelo por grande sorte vai sobreviver”. O efeito torna-se ainda mais impressionante na voz grave do baixo, registro no qual a ária foi escrita. Rossini retirou-se precocemente do mundo da música e viveu muito tempo em Paris, curtindo a vida, recebendo os amigos e degustando um prato que ficou famoso, o “Tournedo Rossini”, um clássico da culinária francesa ( filé mignon  coberto com foie gras e servido com lâminas de trufas no molho de vinho). Faleceu em Paris em 1868 aos 78 anos e mais de 4000 pessoas compareceram ao seu funeral.  Foi sepultado no  Père Lachaise, ao lado de celebridades como Chopin, Oscar Wilde, Proust, Balzac, Delacroix, Pissaro, Modigliani, Edith Piaf e Jim Morrisson, entre centenas de personalidades do mundo da arte. Alan Kardec, o codificador do espiritismo, também está sepultado no famoso cemitério, que recebe mais de dois milhões de turistas todos os anos.

Memorial de Rossini no Père Lachaise I Foto: paris1900lartnouveau.com

Os restos mortais de Rossini foram mais tarde transladados para a Basílica de Santa Croce em Florença - o Panteão das Glórias Italianas -  onde repousa ao lado de Michelangelo, Maquiavel e Galileo Galilei.benito 

Basílica de Santa Croce em Florença | Foto: Divulgação
Tumbas de Galileo Galilei e Michelangelo na Basílica de Santa Croce | Fotos: Arquivo pessoal

Um cenotáfio, monumento funerário homenageando Dante Alighieri, também se encontra na igreja. Os florentinos tentaram a devolução da urna mortuária do autor da Divina Comédia, mas Ravenna respondeu: “Se não o quiseram em vida não o terão depois de morto”. Quanto a Leonardo da Vinci, nem ousaram fazer tal solicitação aos franceses. O genial artista toscano viveu seus últimos anos em Clos Lucé e repousa na Capela de Saint Hubert, no Castelo de Amboise, do Rei Francisco I.

Château du Clos Lucé, em Amboise I Foto: Arquivo pessoal

 

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