Gioachino Rossini foi um bon-vivant. Natural de Pesaro transferiu-se para a romântica Paris, a capital das artes no século XIX, onde obteve grande sucesso com sua música contagiante. Sua ópera mais conhecida é “O Barbeiro de Sevilha”, baseada na obra de Beaumarchais. Tive a oportunidade de assisti-la em New Haven, no estado norte americano de Connecticut, quando estagiei no serviço de oftalmologia da prestigiosa Yale, uma das maiores universidades do país. A ária “La calunnia è um venticello” me chamou a atenção, pela descrição perfeita desta lamentável característica de seres humanos invejosos: “A calúnia é um como uma brisa, que parece gentil mas insensível e sutil ela começa a sussurrar; devagar, rasteira, em voz baixa, sibilando, vai rapidamente zumbindo nos ouvidos das pessoas; penetra nas cabeças e nos cérebros e saindo da boca a gritaria cresce e ganha força pouco a pouco”. E depois de mais algumas considerações conclui dizendo: “A calúnia é uma brisa mas logo se transforma em tempestade e produz uma explosão como um tiro de canhão, um terremoto que faz você tremer; e o coitado do caluniado, abatido, pisoteado, sob público flagelo por grande sorte vai sobreviver”. O efeito torna-se ainda mais impressionante na voz grave do baixo, registro no qual a ária foi escrita. Rossini retirou-se precocemente do mundo da música e viveu muito tempo em Paris, curtindo a vida, recebendo os amigos e degustando um prato que ficou famoso, o “Tournedo Rossini”, um clássico da culinária francesa ( filé mignon coberto com foie gras e servido com lâminas de trufas no molho de vinho). Faleceu em Paris em 1868 aos 78 anos e mais de 4000 pessoas compareceram ao seu funeral. Foi sepultado no Père Lachaise, ao lado de celebridades como Chopin, Oscar Wilde, Proust, Balzac, Delacroix, Pissaro, Modigliani, Edith Piaf e Jim Morrisson, entre centenas de personalidades do mundo da arte. Alan Kardec, o codificador do espiritismo, também está sepultado no famoso cemitério, que recebe mais de dois milhões de turistas todos os anos.
.jpg)
Os restos mortais de Rossini foram mais tarde transladados para a Basílica de Santa Croce em Florença - o Panteão das Glórias Italianas - onde repousa ao lado de Michelangelo, Maquiavel e Galileo Galilei.benito
.png)

Um cenotáfio, monumento funerário homenageando Dante Alighieri, também se encontra na igreja. Os florentinos tentaram a devolução da urna mortuária do autor da Divina Comédia, mas Ravenna respondeu: “Se não o quiseram em vida não o terão depois de morto”. Quanto a Leonardo da Vinci, nem ousaram fazer tal solicitação aos franceses. O genial artista toscano viveu seus últimos anos em Clos Lucé e repousa na Capela de Saint Hubert, no Castelo de Amboise, do Rei Francisco I.
.jpg)