O desastre de proporções bíblicas que se abateu sobre o estado do Rio Grande do Sul vem corroborar o que os ambientalistas já falam há muito tempo. Medidas urgentes são necessárias, mas poderosos interesses de fortes economias poluidoras retardam todo o processo. Muitos negacionistas afirmam que o planeta já experimentou ciclos de resfriamento e aquecimento, o que é verdade. No entanto, os estudiosos do assunto informam que desequilíbrios extremos de temperatura, como fortes ondas de frio ou calor, estão ocorrendo muito rapidamente e têm relação com o aquecimento global.
A UNESCO relacionou as geleiras que fazem parte do Patrimônio Natural da Humanidade e que vão desaparecer em 30 anos caso não sejam revertidas as políticas climáticas. A Internet aceita tudo em todas as áreas do conhecimento humano. As opiniões e comentários sem embasamento científico proliferam nas redes sociais, pródigas em fake news. Por isso temos que pesquisar e avaliar o que foi postado e nada melhor do que uma experiência pessoal sobre o assunto. Tive a oportunidade de conhecer bem os Alpes em viagens de trem, ônibus, carro ou moto, e posso afirmar com certeza que as geleiras estão diminuindo assustadoramente e modificando as paisagens alpinas. A Geleira do Ródano, ao lado do Passo Furka, uma das estradas mais bonitas da Suíça, está com uma cobertura de lona branca para reduzir o derretimento do gelo.
Rhonegletscher, a Geleira do Ródano. A cobertura plástica reduz o derretimento em torno de 70% l Vídeo: Mazinho Rocha
Na Geleira Morteratsch, próxima a St. Moritz e ao lado de uma estação de trem do famoso Bernina Express, placas foram colocadas informando o recuo do gelo de acordo com o ano.
Mas o efeito mais notável se encontra na Geleira Pasterze, a maior dos Alpes do leste. No início do século XX a geleira ocupava todo o espaço, quase ao nível do mirante Kaiser Franz Joseph Höhe. Hoje a geleira recuou e perdeu grande parte de sua cobertura, permanecendo no fundo do vale. O local é um dos maiores destinos turísticos da Áustria, com magnífica visão do Grossglockner, a montanha mais alta do país com 3.797 m.
Na Itália há pouco tempo uma avalanche com 11 mortos atingiu a Marmolada, a montanha mais alta das Dolomitas, na bela região entre o Vêneto e o Trentino. As altas temperaturas causaram o destacamento de um “serac”, um enorme bloco de gelo. No nosso Giro Alpino passamos por Canazei, ao lado da Marmolada. E em Bolzano, bem próximo, a temperatura era de 42°C.
Nos Alpes não é mais possível esquiar em muitos locais em que a neve ocorria com frequência. E infelizmente a situação tende a piorar, mesmo se medidas forem tomadas agora para minimizar as consequências do efeito estufa.