Antônio Vivaldi, nascido em 1678, era conhecido em Veneza como o “padre ruivo”. Suas extraordinárias improvisações ao violino e os magníficos saraus das meninas do conservatório do “Ospedale della Pietà”, sob sua direção, atraiam os amantes da música de toda a Europa.
A atitude pouco ortodoxa do músico chocava a sociedade veneziana, descontente com um sacerdote que quase não rezava missa e vivia cercado de mulheres. No entanto, Vivaldi tinha muito prestígio entre os poderosos da “Sereníssima”, título que a cidade ostentava com orgulho desde a Idade Média. Quando os soberanos ou embaixadores estrangeiros visitavam Veneza, eram recebidos no Palácio dos Doges, ao lado da Praça São Marcos. A seguir eram embarcados em uma gôndola ricamente decorada, navegando em um curto percurso nas tranquilas águas da laguna até a “Pietà”, para ouvir um concerto do grande compositor.
A sua obra mais conhecida, “As Quatro Estações”, escrita para quarteto de cordas (violino, viola, violoncelo e contrabaixo) e cravo, representava as forças da natureza, as atividades no campo e os eventos sazonais. O popular primeiro movimento (allegro) da “PRIMAVERA” evoca o canto dos pássaros, felizes com a chegada da nova estação. O vigoroso terceiro movimento (presto) do “VERÃO” nos mostra a tempestade, com seus raios, trovões e chuva destruindo as plantações. O melancólico segundo movimento (adagio molto) do “OUTONO”, único momento da obra em que o cravo se destaca da orquestra, simula o sono do camponês, descansando embriagado após o labor da colheita. No belo segundo movimento (largo) do “INVERNO”, os violinos imitam o ruído da chuva em um lindo “pizziccatto”, forma de execução em que as cordas, ao invés de serem friccionadas pelo arco, são dedilhadas.
Há alguns anos a Camerata de Florianópolis, sob a regência do maestro Jeferson Della Rocca apresentou As Quatro Estações no Teatro Elias Angeloni. A plateia que lotava o teatro aplaudiu com entusiasmo a apresentação da Camerata, provando que a noite de Domingo pode ser uma boa opção para espetáculos na cidade. E em dezembro passado a Orquestra Sinfônica de Santa Catarina, regida pelo maestro José Nilo do Valle, apresentou “A Cantata da Luz”, belo espetáculo na Unesc com a música de Vivaldi incluída no programa.