Aprendemos nos bancos escolares que a Idade Média foi uma era de trevas, com grande retrocesso em todas as formas de conhecimento até então existentes. Esta afirmação é válida apenas para o período entre a queda do Império Romano em 476 d.C. e o chamado renascimento carolíngio, no século IX de nossa era, quando surgiram novas ideias no campo da música, literatura e arquitetura. Mas é a partir do século XII que profundas modificações artísticas, culturais e religiosas nos obrigam a encarar de forma diversa a Idade Média. Surgiram as universidades de Paris e Montpellier na França, Bolonha, Pádua e Pavia na Itália, Oxford e Cambridge, na Inglaterra, Salamanca na Espanha, Heidelberg, na Alemanha e Coimbra, em Portugal.
A arquitetura sofreu profunda modificação, passando da pesada estrutura românica para o gótico mais leve, com suas altas naves e magníficos vitrais, permitindo a passagem de diversos tons de luz para o interior das construções. A Catedral de Chartres, a Sainte Chapelle em Paris, o magnifico Duomo de Milão e a imensa Catedral de Colônia são bons exemplos.
A Ordem Cisterciense introduziu novos conceitos arquitetônicos nas suas abadias e foi a responsável por importantes inovações na viticultura, que perduram até hoje com os maravilhosos vinhos da Borgonha.
São Francisco escrevia suas belas páginas em Assis, Santo Antonio, português de nascimento, pregava em Pádua e São Tomás de Aquino doutrinava em Nápoles. Dante Alighieri escrevia a Divina Comédia, Petrarca descrevia a vida dissoluta da corte papal em Avignon. Boccaccio, nos contos do seu Decameron, divertia seus companheiros que isolados nos arredores de Florença procuravam escapar a terrível peste negra que exterminou um terço da população europeia. Giotto rompia com a tradição bizantina, fornecendo o arcabouço da futura pintura renascentista.
As lentes de aumento, permitindo a leitura para os portadores de deficiência visual, surgiram também nesta época. As letras de câmbio, os bancos e as guildas, espécie de sindicatos que representavam as diferentes atividades comerciais e que financiavam a construção de igrejas e hospitais, foram também invenções medievais.
Período de trevas ? Não creio, apesar dos horrores da Inquisição, da guerra dos cem anos e das cruzadas, intolerância religiosa que sob outros nomes perdura até hoje.