Estamos vivendo em uma época de reparação de grandes injustiças como a matança dos povos originários e a escravidão, fatos que até eram considerados “normais” pelos conceitos da época. Algumas pessoas questionaram esses atos bárbaros, mas enfrentaram muita resistência e oposição por suas ideias muito avançadas para o seu tempo.
O maranhense Antonio Gonçalves Dias, poeta romântico, jornalista e etnógrafo, nasceu em Caxias em 1823 e faleceu no naufrágio do navio Ville de Boulogne, nas costas de seu estado natal, em 1864. Graduou-se na prestigiosa Faculdade de Direito de Coimbra, onde compôs a famosa “Canção do Exílio”. Foi um dos primeiros a defender a abolição da escravatura mas ficou mais conhecido por sua luta em prol da causa indígena. O “I-Juca Pirama” é talvez o ponto mais alto de suas obras e de toda a poesia indianista. “Meu canto de morte guerreiros ouvi, sou filho das selvas na selva cresci, guerreiros descendo da tribo Tupí”, talvez seja o verso mais famoso. É patrono da cadeira 15 da Academia Brasileira de Letras.
Héctor Roberto Chavero foi um compositor, cantor, violonista e escritor argentino. Nasceu em Pergamino, Buenos Aires, em 1908. Filho de pai quéchua e mãe basca, começou a publicar seus primeiros textos aos 13 anos, quando adotou o pseudônimo de Atahualpa, nome do último imperador inca, morto covardemente pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro. Posteriormente, defendendo fortemente a causa indígena, passou a se chamar Atahualpa Yupanqui, acrescentando o nome de outro imperador. Entre suas músicas mais conhecidas estão “Camino del Índio”, “Los ejes di mi carreta” e uma compilação de “Duerme Negrito”, canção de ninar muito popular. Mas a que mais me agrada é “Los Hermanos”. Alguns trechos são pura poesia: “com la esperanza adelante con los recuerdos detrás”; “nos perdemos por el mundo, nos volvemos a encontrar” e no final “Yo tengo tantos Hermanos que no los puedo contar. Y uma novia (“hermana” em outras versões) muy hermosa que se llama libertad”. Viveu muitos anos no exterior e faleceu em Nimes, na França, em 1992.
Atualmente, com nova mentalidade e revisão de antigos conceitos, me causa profunda decepção e indignação a homenagem a pessoas que causaram tanto mal a outros seres humanos, como uma praça na minha terra natal, Nova Veneza, em honra ao maior bugreiro de nossa história. A propósito, as Manas Bonetti, mosaicistas de grande qualidade com três anos de especialização em Spilimbergo – o maior centro de arte musiva da Itália e um dos maiores do mundo - estão resgatando o legado indígena em uma obra retratando a sua perseguição e morte. No próximo sábado em Urussanga ocorre um manifesto artístico em memória dos povos originários dizimados no sul catarinense.