Em visita à Basílica de São Pedro com um grupo de brasileiros, comentamos sobre obras de arte como o Baldaquino de Bernini, o “Confessio” abaixo do altar-mor e local da tumba do apóstolo e a cúpula de Michelangelo. Observamos também a riqueza arquitetônica dos túmulos de alguns papas. Um senhor nos observava nas proximidades e veio conversar quando o grupo se dispersou. Identificou-se como funcionário aposentado do Vaticano, tendo servido a 5 papas. Falou sobre Pio XII, um papa severo, autoritário e conservador, ciente de seu grande poder como líder dos católicos. Já João XXIII era exatamente o oposto, um papa gentil, carismático e admirado por todos. Não fez muita referência a Paulo VI e disse que gostava muito de João Paulo I, o papa sorriso. Perguntei então sobre a morte do papa e ele respondeu: “Non si può parlare”.
O livro “Em Nome de Deus”, do escritor inglês David Yallop, lança sérias acusações sobre membros da cúria romana e outras instituições. João Paulo I pretendia fazer profundas mudanças na igreja, trocando o Secretário de Estado Jean Villot e demitindo o monsenhor Marcinkus, presidente da IOR (Istituto per le Opere di Religione), o banco do vaticano, que estava envolvido em operações bancárias fraudulentas. Segundo Yallop, Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano, Licio Gelli, da Loja PII e Michelle Sindona, da Máfia Siciliana, também estavam envolvidos. Quando João Paulo II assumiu tudo voltou a estaca zero e Marcinkus acabou se tornando Arcebispo. O papa Woytila também manteve o conservadorismo na igreja católica, condenando a Teologia da Libertação. A Congregação para a Doutrina da Fé, herdeira do Santo Ofício medieval, impôs a Leonardo Boff o “silêncio obsequioso”, a proibição de falar em público e de publicar suas ideias, dura pena mas menos cruel que a morte na fogueira dos condenados pelas Inquisição.
Interessante é a coincidência de Ângelo Roncalli (João XXIII) e Albino Luciani (João Paulo I) serem naturais de cidades intimamente ligadas com a imigração italiana para a nossa região. Roncalli nasceu em Sotto il Monte, na província de Bérgamo, e Luciani em Canale d’Agordo, na província de Belluno. Luciani foi padre em Belluno e bispo em Vittorio Veneto, cidade-irmã de Criciúma. O pai de Albino Luciani, embora não tenha emigrado, foi obrigado a trabalhar na Suíça para poder sustentar sua família. Pequenas cidades do Veneto e da Lombardia forneceram o principal contingente de imigrantes para o sul-catarinense. Além disso, ambos os papas foram Patriarcas de Veneza.