Em 1989, quando ocupava a presidência da Sociedade Catarinense de Oftalmologia participei de uma entrevista na extinta TV Eldorado, conduzida por Adilamar Rocha, no auge de sua competente atuação como âncora do jornalismo. O cantor Belchior, divulgando seu espetáculo em Criciúma, também participava do programa. Na breve conversa que tive com o artista deu para perceber a sua inteligência mas também um certo pessimismo e inconformismo. Belchior, nas letras de suas músicas como “Velha Roupa Colorida” - composição saudosista e nostálgica a respeito de sua juventude - faz referência à “She´s leaving home”, dos Beatles, “Like a Rolling Stone”, de Bob Dylan e “Raven”, poema do “poeta louco americano” Edgar Allan Poe. Mas também reconhece que “uma nova mudança em breve vai acontecer”. Outros trechos da música:
“O que há algum tempo era jovem e novo hoje é antigo”. A rapidez do surgimento e substituição de novas tecnologias é impressionante. Os computadores e celulares são exemplos clássicos. Aparelhos de alto desempenho são trocados por modelos mais novos, uma busca desenfreada por novidades e ostentação.
“No presente a mente, o corpo é diferente, e o passado é uma roupa que não nos serve mais”. Embora com outra conotação, a metáfora é Interessante e bem apropriada. A multimilionária indústria da moda, através de convincentes campanhas publicitárias, promove mudanças a cada estação e induz as pessoas ao consumismo exagerado.
A propósito, a música de Dylan tornou-se um clássico e uma das composições mais influentes do pós-guerra. Sua temática é sobre alguém que perdeu tudo após viver dias de opulência e glória. Será mera coincidência com a vida de Belchior ? Infelizmente o artista, culto e poliglota, não soube lidar bem com a sua vida privada, passando por sérias dificuldades financeiras no final de seus 70 anos de vida.
Blog Benito Gorini
* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito