Thiago Ávila *
Ele é tricampeão da MotoGP, com 45 vitórias, 111 pódios, 39 poles na carreira e uma disputa memorável pelo título até o final com Valentino Rossi em 2015. Jorge Lorenzo é um verdadeiro ídolo para os fanáticos por motovelocidade. Mas vem sendo contestado nos últimos anos.
Saiu pela porta dos fundos da Yamaha, equipe que se formou na categoria e ganhou seus três títulos – 2010, 2012 e 2015. Depois de uma temporada abaixo da média em 2016, ficando atrás de Rossi, o espanhol decidiu sair da equipe por se sentir incomodado pelas atenções estarem todas voltadas para o heptacampeão.
A Ducati foi o destino de Lorenzo, fazendo dupla com um nome antigo, mas sem grandes destaques na categoria: Andrea Dovizioso. Ali também encontrou seu antigo chefe de equipe nos tempos de 250cc, Gigi Dall’Igna. O esperado era que Lorenzo chegasse como uma estrela, fosse tratado como um futuro campeão pela equipe de pouca tradição (não que a Ducati seja fraca historicamente, mas está bem longe do que já fez Honda e Yamaha).
A fabricante italiana surpreendeu no ano passado, fazendo uma das melhores temporadas de sua história, não com o espanhol, mas com Dovizioso, que chegou na última corrida com chances claras de título ao lado de Marc Márquez. Já Lorenzo foi apenas o sétimo, atrás até do novato Johann Zarco, que corre na Tech 3, equipe B da Yamaha, e sem nenhuma vitória.
A confiança de Lorenzo com a equipe vinha se perdendo ao longo da temporada. Para piorar, na corrida decisiva do ano, quando Dovizioso precisava vencer para se tornar campeão, Lorenzo atrapalhou o italiano, deixando Gigi Dall’Igna furioso. O espanhol, que chegou num contrato de dois anos para adquirir novos ares e ajudar a Ducati a ser campeã, se tornou um ‘encosto’ e um mero segundo piloto.
Seu início de temporada esse ano também não era nada satisfatório. Até o GP da França, Lorenzo se encontrava em 14º Lugar, com apenas 16 pontos. Claudio Domenicali, presidente da Ducati revelou à imprensa, às vésperas do GP da Itália, sua indignação com o espanhol: “Lorenzo é um grande piloto que não conseguiu tirar o melhor da nossa moto, uma moto que tem grandes forças e algumas fraquezas”. Jorge respondeu à altura: “Não sou um ótimo piloto, sou um campeão e vou continuar nos próximos dois anos”, dando a entender que não renovaria seu contrato.
O grande problema que o tricampeão sentia na moto era desconforto e a falta de algumas peças para se adaptar ao seu estilo de pilotagem. O espanhol sentia que podia fazer mais pela equipe, mas faltava ergonomia.
E a vitória veio, enfim, nesse final de semana, no Grande Prêmio mais almejado pela equipe: Mugello. Lorenzo largou em segundo, atrás de Rossi, assumiu a ponta na primeira curva e sumiu na frente. Depois de 24 corridas, Jorge Lorenzo sobe no lugar mais alto do pódio, ao lado de Dovizioso e Rossi, um trio para fazer o torcedor italiano chorar de emoção.
Lorenzo tratou isso como uma vitória pessoal, um grito que estava entalado na garganta desde 2016, e não da equipe. “Ganhar com a Ducati era algo especial, vim para conseguir isso e investiram muito em mim. Infelizmente, a vitória veio tarde e isso me deixa um pouco triste. Não há nada a ser feito. Eu falei com Gigi [Dall’Igna] que me faltava algo na moto”, demonstra mais uma vez sua indignação o espanhol.
Na manhã desta quarta-feira, aquilo já se esperava se confirmou: Jorge Lorenzo assina com a Honda para 2019, fazendo dupla com Marc Márquez. Uma dupla dos sonhos, como Hamilton e Rosberg na Mercedes, sete títulos somados, um time praticamente com o título de construtores na mão, mas que pode não fazer bem à Lorenzo.
Partimos do seguinte ponto: Márquez é piloto Red Bull e tem vínculo com a Repsol (patrocinadora da Honda) desde a época da 125cc, ou seja, desde 2008 veio sendo preparado para ser o piloto nº1 da Honda. Além disso, desde que chegou na categoria principal em 2013, apenas em um ano não conseguiu o título – justamente na última vez em que Lorenzo foi campeão – o que significa que o tricampeão vai servir apenas de conselheiro do príncipe (ou rei?).
O fato é: pelo jeito o auge de Lorenzo já passou e a partir de agora seu futuro é de auxiliar no desenvolvimento da moto, a idade pesou, mas sua experiência ajuda qualquer fabricante. E é por isso que há pontos positivos em sua trajetória pela equipe italiana. A principal delas é que, mesmo que o espanhol não tenha tido bons desempenhos, a Ducati, em um ano, passou de uma mera terceira força para uma moto forte na briga pelo campeonato de pilotos, acima das Yamaha, e Jorge certamente contribuiu com isso.
Acredito que sua passagem pela Honda será curta se ainda continuar com a ideia de voltar a ser campeão, e não tem muito espaço para ele nas outras equipes de ponta, talvez em equipes menores (quem sabe a Suzuki). Lembremos de Nelson Piquet, que depois do tricampeonato pela Williams, ainda em alta, decidiu migrar para a Lotus e, posteriormente, à Benetton, duas escuderias que só contribuíram para seu fim de carreira, mas que justamente faziam aquilo que ele queria: deixar ele mandar. Lorenzo não é diferente.
* Estudante de jornalismo da PUCRS