João Saldanha, jornalista não costumava levar desaforo para casa. Chamado de “João Sem Medo”, o comunista assumido participou de guerrilhas e greves.
Um de seus atos mais polêmicos foi quando aceitou assumir a seleção brasileira que disputaria o Mundial do México em 1970 em meio a uma ferrenha ditadura militar.
Política à parte, Saldanha era capaz de sacar uma arma e atirar contra o goleiro de seu time do coração que inclusive foi indicado por ele para o clube. Foi como ficou marcada uma das histórias mais incríveis do futebol.
Haílton Corrêa de Arruda, conhecido como Manga, participava da comemoração do título de campeão carioca na sede náutica do Botafogo no dia 19 de dezembro de 1967.
Havia insinuações que o goleiro estaria vendido no jogo final, apesar da vitória do Botafogo por 2x1 contra o Bangu. O suposto suborno teria sido oferecido por Castor de Andrade, então presidente do Bangu.
Depois de uns dias de discussão no programa Roda Viva da TV Cultura quando o comentarista João Saldanha desconfiou de algumas saídas erradas do goleiro e insinuou que poderiam ter corrompido o goleiro, não com dinheiro, mas ameaçando de morte seus familiares. Saldanha afirmou que Manga estava aterrorizado.
Antes da festa a imprensa cobrava satisfação do goleiro e o clima era de apreensão. Saldanha não iria à festa, mas foi convencido por um jornalista que combinou uma armação com seguranças que o segurariam para que Manga o agredisse.
João Saldanha foi e levou dois revólveres para garantir sua segurança. Quando chegou no Mourisco, local do evento, o barulho das conversas era intenso e foi diminuindo à medida que Saldanha adentrava o recinto.
Quando ficou frente a frente com Manga, João Saldanha sacou um dos revólveres, deu dois tiros no chão e o que se viu foi uma corrida desabalada do goleiro que saltou um muro de três metros de altura para fugir das balas.
Foi um dos episódios marcantes deste botafoguense que faleceu na Itália após a final da Copa do Mundo de 1990 aos 73 anos, vítima de um enfisema pulmonar.