O pernambucano Nelson Rodrigues, em sua época, foi um dos mais influentes jornalista e cronista dos costumes e do futebol brasileiro.
Trabalhou em alguns jornais de grande circulação do Rio de Janeiro e suas crônicas eram consumidas com avidez no dia a dia.
Escreveu muito sobre Pelé e uma de suas crônicas foi escrita após um jogo do Santos contra o América no Maracanã.
Disse assim Nelson Rodrigues: “ A confiança em si nunca faltou a Pelé. Apesar de franzino e constituição física aparentemente impropria para uma carreira atlética, já nas velhas fotografias de infância Pelé estampa sempre um ar confiante, que parece ser uma antevisão do que ele viria a viver”.
Segue a crônica do Nelson Rodrigues publicada na Manchete Esportiva: “O meu personagem anda em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Em suma: - ponham-no em qualquer rancho e sua majestade dinástica há de ofuscar toda corte em derredor”.
O mais impressionante é que Nelson Rodrigues não fez essa descrição inspirando-se na imagem de Pelé maduro, vitorioso que conquistou o tricampeonato mundial. Quando escreveu sua crônica Pelé era ainda um menino de 17 anos de idade e acabara de brilhar não em palco internacional, mas numa simples partida doméstica.
Naquele jogo o menino Pelé fez quatro gols no respeitado goleiro Pompéia, o mais importante da história do América.
Nelson se espantou, em particular com um gol feito ainda no primeiro tempo. Depois de receber a bola no meio de campo Pelé saiu driblando um a um, seus adversários americanos. “Sem passar a ninguém, sem receber ajuda de ninguém”, descreveu o cronista, ele promoveu a destruição minuciosa e sádica da defesa rubra.
O momento mais celebrado por Nelson, contudo, é exatamente o do gol, quando Pelé dá o último drible no desamparado Pompéia.
Nelson Rodrigues escreve: “Até que chegou o momento em que não havia mais ninguém para driblar. Não existia uma defesa. Ou por outra, a defesa estava indefesa”.
Então, não satisfeito, Pele decidiu, em vez de chutar, ou antes disso, assinar o lance com um último e desnecessário drible no goleiro americano. E, só depois fez seu gol.
Texto retirado do livro: Pelé – os 10 corações do Rei de José Castello.