O filme brasileiro “Ainda Estou Aqui” está na lista de obras que irão concorrer ao Oscar de Melhor Filme na edição deste ano. E não é só isso: a obra de Walter Salles também disputa na categoria de Melhor Filme Internacional, enquanto Fernanda Torres concorre na categoria de Melhor Atriz. A lista dos indicados foi divulgada hoje e provocou um certo constrangimento entre aqueles que evitam “comemorar” o feito para não desagradar a patrulha ideológica.
Esse é o maior feito do cinema nacional em toda a sua história. E é merecido. Em janeiro, por exemplo, Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz de Drama. Nada do que está acontecendo em relação a esta obra é uma surpresa. O filme é tudo o que dizem por aí.
Para quem ainda não assistiu (e recomendo fortemente que o faça), aqui vai um breve resumo: trata-se de uma adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, publicado em 2015. A obra narra a história de seu pai, o deputado cassado Rubens Paiva, um dos muitos desaparecidos políticos, vítima dos horrores do período da ditadura militar no Brasil. Esse é justamente o ponto sensível que faz com que milhões de brasileiros não consigam celebrar plenamente a conquista do nosso cinema. O filme é desconfortável para quem questiona ou minimiza os crimes cometidos durante aquele período violento. Nesse aspecto, a patrulha ideológica está atenta, observando quem comemora a vitória do cinema nacional e de uma das maiores atrizes brasileiras – agora reconhecida mundialmente.
Para alguns, talvez seja mais conveniente permanecer cego diante dos fatos do que admitir que a ditadura deixou cicatrizes profundas em nossa história. Ainda assim, a cada ano, seus defensores permanecem à espreita, prontos para reeditar o período mais obscuro do Brasil.
Celebrar a conquista de Fernanda Torres é celebrar o cinema nacional e reconhecer que o cinema – assim como qualquer forma de arte – também existe para incomodar, provocar reflexões e questionamentos.
“Ainda Estou Aqui” é uma das maiores obras do cinema brasileiro e deveria ser assistida por pessoas de todas as idades. Pode comemorar! Não precisa ter medo. Afinal, ainda somos um país livre. Não?
É a arte a serviço da história. Para que nunca se esqueça. Para que nunca mais aconteça.