Fato e circunstância: o que levou ao anúncio da pré-candidatura de João Rodrigues ao governo
Na política, fatos e circunstâncias importam. E, muitas vezes, as circunstâncias importam mais do que os próprios fatos. No contexto, no timing e na circunstância corretos, o prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), anunciou no último sábado (25) que é pré-candidato a governador de Santa Catarina na eleição de 2026. O comunicado ocorreu durante um encontro com lideranças de seu partido e serviu como o ato inicial de uma ideia que nasceu há mais tempo: a sua intenção de disputar o governo do estado. Cogitado para concorrer a uma vaga no Senado no ano que vem, em uma possível composição com o PL de Jorginho Mello, João Rodrigues descartou essa possibilidade e disse que isso não existe. “Sou pré-candidato a governador”, enfatizou o prefeito.
O anúncio de João Rodrigues coincide com um momento em que o governo de Jorginho Mello faz mudanças em seu secretariado após duas semanas de maior tensão. Entre os episódios, destaca-se a declaração do governador, durante uma entrevista, de que Bolsonaro e Valdemar Costa Neto “se falam”, contrariando uma ordem do STF para que ambos não mantenham contato. Houve ainda a articulação com o MDB, que deixou a impressão de que Jorginho não conseguiu atrair o partido, embora a sigla esteja contemplada no governo e a bancada vote com o Executivo nos projetos enviados à Alesc.
Além disso, a troca no secretariado foi mais discreta do que parecia inicialmente, com Jorginho promovendo quase uma dança das cadeiras entre nomes que já integravam o governo, como é o caso de Kennedy Nunes, que vai chefiar a Casa Civil, e de Catiane Seif, agora nomeada secretária do Turismo (antes, ela era adjunta na mesma pasta).
O discurso de João
O prefeito de Chapecó escolheu pessoalizar seu discurso de pré-candidato ao criticar o delegado-geral da Polícia Civil, Dr. Ulisses Gabriel. Em entrevista na manhã desta segunda-feira (27) à rádio Som Maior, João afirmou que quer ser governador para “combater o sistema” e que suas críticas não são contra a instituição Polícia Civil, mas contra o próprio Ulisses a quem ele acusa de perseguição. A Polícia Civil chegou a emitir uma nota de repúdio contra as recentes declarações do peessedista.
A ponta solta
Os fatos e as circunstâncias estão sorrindo para João Rodrigues. No entanto, uma ponta solta envolve o anúncio de sua pré-candidatura. A presença do prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, no evento do PSD deixou muita gente com mais perguntas do que respostas sobre o futuro entre PSD e PL. É que Topázio e Jorginho estão alinhados há bastante tempo. O filho do governador, o advogado Filipe Mello, participou diretamente da articulação para a eleição de Topázio no ano passado. A estratégia deu certo: o sucessor de Gean Loureiro foi eleito no 1º turno, com folga, contrariando os mais otimistas que previam uma disputa no 2º turno. Sendo assim, onde Topázio se encaixa? No projeto de João Rodrigues para 2026 ou no projeto de reeleição de Jorginho Mello?
As indicações de Topázio no governo Jorginho
Para se ter uma ideia do tamanho da presença de Topázio Neto no governo de Jorginho, na última sexta-feira, ele conseguiu emplacar dois nomes no primeiro escalão. O jornalista Bruno Oliveira foi empossado como secretário de Estado da Comunicação – até então, ele era secretário de Comunicação da Prefeitura de Florianópolis. Já o coronel Sival Oliveira, irmão de Topázio, assumiu um cargo na Segurança Pública. Com essa influência e portas abertas junto ao governador, para onde irá o prefeito de Florianópolis na eleição do ano que vem?