No dia quatro de março de 2022, o deputado estadual Jessé Lopes oficializava sua ida para o Partido Liberal, a convite do então senador, Jorginho Mello. A filiação do parlamentar que buscava uma sigla para aninhar seu projeto de reeleição causou muito alvoroço, mesmo quando o assunto era só especulação. Jessé foi eleito em 2018, impulsionado pelo que se convencionou chamar de Onda Bolsonaro, o fenômeno que alçou aos cargos um sem-número de candidatos de primeira viagem. Entre eles, o nobre deputado natural de Criciúma que chegou à Alesc filiado ao falecido PSL (que depois da fusão com o Democratas, deu origem ao União Brasil). Em 2020, Jessé entrou em rota de colisão com seu partido e quase foi expulso da sigla, da qual saiu de fato em 2021.
À época de sua filiação ao PL, já em 2022, o deputado me concedeu entrevista e disse que o convite para ir para o partido já teria ocorrido em 2020. No mesmo momento em que assinou sua ficha no partido dos liberais, o deputado em busca da reeleição provocou a saída do pré-candidato a estadual, Márcio Búrigo, coordenador do partido na região sul desde 2019. Márcio entendeu que seu projeto estaria em risco com a chegada de Jessé no partido. Entre ameaças de sair, muitas reuniões com Jorginho e algumas cotoveladas, assim que Jessé Lopes entrou por uma porta, Márcio Búrigo saiu pela outra. E, assim, sem adversário interno e tendo Jorginho Mello como seu fiador eleitoral no partido, amenizando e fazendo caber todos os candidatos, o deputado administrou sua campanha e correu pro abraço, sendo reeleito em outubro deste ano para mais um mandato.
Corta a cena para esta segunda-feira (5), quando o agora deputado seguro de já estar reeleito, decidiu usar o twitter para fazer o primeiro gesto de muitos que poderão acontecer: criticar uma nomeação de Jorginho Mello. No centro da polêmica, a indicação da deputada federal, Carmen Zanotto, para a Secretaria da Saúde. Na publicação que fez, Jessé diz:
"A deputada Carmen Zanotto foi nomeada Secretária da Saúde do Estado. Com isso, o governo ressuscita Geovania de Sá, deputada federal não reeleita, que votou a favor da cassação de Daniel Silveira. Avisei sobre a minha insatisfação com relação a isso, mas não fui ouvido. Seguimos."
O peelista argumentou que a nomeação de Carmen fará com que Geovânia possa exercer mandato, já que é a 1ª suplente na federação e irá assumir com a vida de Carmen para a Secretaria da Saúde. Para ele, isso é ruim já que Geovânia votou pela cassação de um parlamentar do Rio de Janeiro, (o deputado federal Daniel Silveira). E aqui não estamos fazendo conta se a situação envolvendo o parlamentar carioca é justa ou não. Mas ao fato de que Jessé ignora o trabalho prestado por Geovânia de Sá, enquanto deputada federal, a todo o estado de Santa Catarina. Em sua avaliação, as questões ideológicas estão acima dos interesses do estado. Durante seus primeiros quatro anos de mandato, a deputada tucana destinou aproximadamente R$ 250 milhões de reais para Santa Catarina, que foram aplicados em diferentes áreas como saúde, infraestrutura e agricultura.
Além de comprar uma mini briga desnecessária, o deputado faz vistas grossas ao fato de que a deputada federal Geovania de Sá (PSDB) é uma parlamentar atuante, foi apoiadora de Jair Bolsonaro, votando com o governo federal na maioria das pautas além de ter declarado apoio público ao presidente. Ao fazer essa crítica em má hora e que não surtirá efeito prático, além de causar má impressão, o deputado esquece do apoio irrestrito que recebeu de Jorginho Mello para ir para o seu partido. E, todos sabemos, estar no mesmo partido de Jair Bolsonaro pode não ter sido decisivo para sua eleição como foi em 2018, mas facilitou e muito sua reeleição. Não é hora de dar cotovelada em quem lhe estendeu a mão. E olha que o governo ainda nem começou.