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A soma de árvores pela água

Há dez anos, Projeto Ingabiroba vem recuperando matas ciliares para contribuir com a preservação dos recursos

Por Francine Ferreira Nova Veneza, SC, 22/03/2019 - 10:12 Atualizado em 22/03/2019 - 10:18
Fotos: Daniel Búrigo / A Tribuna
Fotos: Daniel Búrigo / A Tribuna

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Aos 67 anos, o agricultor Genésio Damiani já possui, no saldo, uma considerável contribuição para com o meio ambiente e, como bom exemplo vindo do Distrito de São Bento Baixo, em Nova Veneza, planeja não parar por aí. Há dez anos, ele foi o primeiro produtor rural a disponibilizar uma área de 2,7 mil metros às margens de uma sanga, em sua propriedade, para promover um replantio de árvores e consequente recuperação da mata ciliar. 

“Achei a ideia muito importante, aceitei e logo já tiramos do papel. Naquela época, nessa área de 2,7 mil metros, plantamos em torno de 350 árvores, que hoje já estão grandes e tomaram conta do espaço. Depois daquela primeira, também plantei em diversas beiradas de rio. É que, além de achar bonito tanta árvore, acredito que é algo muito bom para a natureza, para a preservação das margens dos rios e das próprias nascentes”, conta.

O projeto inovador, do qual o agricultor foi o primeiro a participar, chama-se Ingabiroba e foi iniciado em 2009 pela Associação de Drenagem e Irrigação Santo Isidoro (Adisi), em parceria com a Epagri e o Comitê da Bacia do Rio Araranguá e Afluentes Catarinenses do Mampituba. Na prática, a iniciativa visa promover a preservação da água por meio da recuperação das matas ciliares – às margens de rios – e áreas de preservação permanente, com o plantio de árvores realizado por estudantes, entre crianças e adolescentes, bem como pelos produtores rurais, que inclusive também disponibilizam as áreas que recebem as mudas.

De lá para cá, em dez anos de existência, o Ingabiroba já proporcionou a distribuição e plantio de 17 mil mudas de árvores, além da recuperação de 13 hectares de mata, o equivalente a 130 mil metros quadrados de áreas em Nova Veneza, Forquilhinha, Morro Grande, Meleiro e Jacinto Machado.

“A gente se sente honrado e valorizado em fazer parte, porque está contribuindo com o meio ambiente, com a natureza. Ao invés de destruir e derrubar árvores, pretendemos plantar cada vez mais, essa é a minha contribuição para o futuro”, destaca Damiani.

Essas ações do projeto acontecem tanto apenas com produtores, quanto em atividades envolvendo estudantes das redes municipal e estadual de ensino. Conforme o presidente da Adisi, Sérgio Marini, que também é vice-presidente do Comitê Araranguá, na última década já foram realizadas, ao menos, 37 oficinas de plantio com alunos, além de diversas outras com agricultores, assim como Genésio.

“Nossa intenção é levar para todos os municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá. Não temos pressa, mas queremos que se perpetue para as futuras gerações, para que, nas próximas décadas, essas áreas se consolidem e se recuperem, tornando-se de preservação permanente e, principalmente, garantindo uma disponibilidade maior de recursos hídricos para a população”, ressalta.

Genésio Damiani ao lado de Sérgio Marini, na primeira área plantada

"Não podemos esperar pelo amanhã"

Diante da realidade sul catarinense e do cenário que se vislumbra para o futuro, o alerta deixado pelo presidente da Adisi é simples e direto. “Não podemos esperar pelo amanhã, temos que já começar hoje a cuidar da nossa qualidade da água, uma vez que o nosso problema não é só quantidade, mas principalmente a qualidade da água”, evidencia.

“E essa qualidade, vamos conseguir com a ação de cada um de nós, e também com a cobrança para que nossos gestores e governantes entendam e tenham a sensibilidade de acreditar que nós temos que investir, principalmente, no tratamento do esgoto sanitário. Os resultados irão para o futuro, quando haverá uma maior disponibilidade dessa água que hoje está comprometida, ainda voltando a ter a qualidade”, afirma Marini.

Por fim, a toda população, o pedido é para que faça a sua parte. “Precisamos nos conscientizar de que esse líquido é precioso e nós só temos a vida porque nós temos água”, finaliza.

Mas o que a árvore tem a ver com a água?

Para o vice-presidente do Comitê Araranguá, Sérgio Marini, um ponto não pode ser separado do outro. Portanto, tanto as árvores quanto a água caminham juntas, garantindo uma melhor qualidade de vida para o ser humano. “Não podemos separar a água das árvores, ou das florestas, porque elas têm um papel muito importante de proteção”, explica.

Em uma área de preservação permanente, exemplifica Marini, a temperatura da água fica mais adequada, por estar perto de árvores. “Além disso, quando nas margens de rios, essas árvores evitam que sedimentos sejam levados para dentro dos mananciais. Inclusive, uma nascente próxima de árvores jamais irá secar, mantendo os rios vivos, então só esse ponto já justificaria o plantio. E, além de tudo, elas também liberam o oxigênio que utilizamos para respirar”, elenca.

Vegetação abundante e vida da água estão diretamente associadas, como no Rio Cedro

Em uma área onde acontece o plantio, a equipe do projeto Ingabiroba costuma fazer um acompanhamento por três anos, até que as árvores se consolidem no local. Se algumas secam ou morrem, novas são replantadas até que, em certo momento, ficam para que a natureza se encarregue de manter, fazer crescer e se multiplicar.

Expectativas superadas

Inicialmente, de acordo com Marini, as projeções do Ingabiroba estimavam o plantio de 500 mudas por ano, com recuperação de meio hectare a cada 12 meses. Só que esse número mais que dobrou, trazendo resultados ainda mais positivos para o Sul catarinense. 

Tanto que, em dez anos, já foram distribuídas e plantadas 17 mil mudas de árvores, recuperando um espaço de 13 hectares de área de preservação permanente, principalmente às margens de mananciais.

Apesar de ser uma iniciativa da Associação de Drenagem e Irrigação Santo Isidoro, outras associações já estão querendo participar. “E são muito bem-vindas, pois é preciso que haja conscientização, principalmente daqueles que pensam que ações como essa não trazem benefícios”, alerta o presidente da Adisi. 

“Na verdade, pensando no futuro, essas áreas contribuirão para que se aumente a disponibilidade hídrica, o que, automaticamente, proporcionará uma melhor qualidade da água. Por isso, o alerta que nós deixamos é para que toda a sociedade fique atenta e cuide desses recursos hídricos”, reforça Marini.

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