O despacho do ministro Benedito Gonçalves que autorizou a busca e apreensão a cinco locais em Santa Catarina nesta quarta-feira, 30, no contexto da investigação do gasto de R$ 33 milhões com 200 respiradores pela Secretaria de Estado da Saúde, foi claro. "Vislumbra-se a hipótese criminal de que uma organização criminosa, na qual agentes públicos, entre os quais o governador, atuaram de maneira a favorecer um grupo de particulares causando prejuízo de ao menos R$ 33 milhões ao erário", escreveu o ministro. Dois dos mandados foram cumpridos diretamente em relação ao governador Carlos Moisés, um no Palácio D´Agronômica e outro no Centro Administrativo.
"Eu tenho a decisão judicial em mãos, li com muita atenção a decisão do ministro Benedito Gonçalves, em nenhum momento ele aponta com firmeza de que há provas do envolvimento do governador", afirmou o advogado do governador, Marcos Probst, em entrevista ao programa Ponto Final, da Rádio Som Maior. "Ele autoriza a busca e apreensão a pedido do MPF em busca de provas para se elucidar uma suspeita de envolvimento ou não do governador. Isso foi posto pelo próprio MPF na nota à imprensa, de que o MPF busca provas", emendou.
Para Probst, o "emblemático da decisão do ministro é que ele deixa claro que a busca e apreensão autorizada pode inclusive trazer elementos favoráveis à defesa. E não temos a menor dúvida que, em que pese o desgaste político, no fim do dia essa busca vai comprovar algo que a sociedade catarinense saberá, que é a ausência completa de participação do governador no caso dos respiradores. Isso vai ficar comprovado". "A defesa e o governador entendem que a medida era desnecessária, visto que o que a PF apreendeu hoje, um celular e um laptop, já havíamos oferecido no começo de julho, dissemos que se quisessem periciar, a gente já entregaria. Essa ordem de busca e apreensão era desnecessária, infelizmente no Brasil buscas e apreensões viraram rotina. O lado bom disso tudo é que vai comprovar que o governador não tem envolvimento algum na compra dos respiradores", salientou.
Probst não crê que esse episódio histórico, uma busca e apreensão na residência do governador, não vai influenciar nos processos de impeachment que tramitam na Alesc. "A interferência não existe. No campo dos julgadores deputados, é evidente que há uma contaminação pelo componente político. É do jogo, infelizmente. Não vejo uma situação que faça com que o deputado acabe sendo absolutamente isento, gostaria que assim o fosse, que os deputados se vestissem como verdadeiros julgadores. Mas no componente dos seis julgadores, no que toca aos desembargadores, penso em interferência zero, são desembargadores competentes, com grande experiência, e que não vão ser influenciados por uma medida cautelar em um processo investigatório", comentou.
O advogado fez questão de frisar, ainda, que "o governador não está sendo acusado, há uma investigação. Volto a deixar claro, é claro que no campo político gera prejuízo, isso nós lamentamos, mas no campo jurídico é uma medida inerente à investigação. E no fim do dia a conclusão será pela inexistência de qualquer envolvimento do governador".