Aconteceu na tarde desta segunda-feira, 2, uma oitiva na Comissão de Inquérito (CI) da Afasc na Câmara de Vereadores de Criciúma. O diretor executivo da Afasc, Adriano Boaroli, prestou esclarecimentos sobre o desvio de carnes apurado na Operação Bocas Famintas, da Polícia Civil. Ele revelou que não havia um contrato com a empresa fornecedora e que foram 12,2 toneladas de carnes desviadas em 2019. Antes, a entrega era feita pela central de merendas.
“Nas obras existe contrato. São feitos dois orçamentos e dentro desse orçamento é elaborado o contrato. Pequenas contratações são apenas com orçamento, como é o caso específico da carne, onde foi feito um contrato verbal e não por escrito, em março foram colocadas as condições. Em relação às obras, todas tem contratos”, explicou.
Não era necessário a elaboração de um contrato para contratações menores do que R$ 30 mil, no caso das carnes, nunca ultrapassava R$ 28 mil. “Eu confesso que estou muito chocado por fazer um contrato verbal no século 21, em se tratando de recuso financeiro público”, disse o vereador Jair Alexandre (PSC), presidente em exercício da Casa.
Boaroli garantiu que a Afasc começou a passar por um processo de readequação administrativa a partir de agosto. A não realização de contratos é algo comum. "É uma prática que vem ao longo do tempo, mas que vem sendo corrigida”, frisou.
Como foi definido o contrato verbal?
Segundo o diretor executivo, a Afasc não adquiria carne em outros anos, isso passou a acontecer apenas em 2019. “A empresa foi contratada para fazer duas entregas durante o mês, com o caminhão refrigerado, neste contrato verbal, nada escrito. Seriam duas entregas quinzenais”, contou. Disse ainda que são servidas cinco refeições diárias.
A nutricionista, que trabalhava há 13 anos na Afasc, foi a responsável por realizar todo o planejamento para a contratação da empresa. Boaroli justificou que assim como um engenheiro desenvolve cálculos em uma obra, ela tinha conhecimento de causa para conduzir esse procedimento.
“Temos que retornar no mês de outubro de 2018, naquele momento nós estávamos atendendo mais crianças do que o senso. Quando chegou em outubro ficamos sem alimentos para entregar as crianças, como arroz, macarrão e outros alimentos secos, quem fazia a entrega era a central de merendas”, contou.
A nutricionista possuía autonomia dentro da instituição. Boaroli disse que ela contava com credibilidade devido aos serviços prestados e aparentava ser uma excelente profissional, sem desvio de conduta.
“A nutricionista nos procurou e informou que não conseguiria chegar ao fim do ano. Em novembro ela trouxe uma ideia para que no ano seguinte fizesse a aquisição apenas da carne, deixando o saldo remanescente para cobrir em produtos secos. No dia 5 de fevereiro ela esteve na sala da direção e trouxe uma empresa chamada Barra Alimentos, para falar sobre como seria o procedimento”, destalhou.
E o contrato verbal foi definido em uma reunião que Adriano participou. “Sentou eu, ela e o representante da Barra, e ficaram definidas as duas entregas quinzenais. Dentro deste cenário foi feito o acordo. Neste tempo, jamais acedeu os R$ 28 mil”, comentou.