O senador Esperidião Amin (Progressistas) tem demonstrado apreço por aquela máxima de que uma imagem vale mais do que mil palavras. Na tarde de quarta-feira, ele foi em busca da fotografia que emblematiza a disposição de concorrer ao governo do Estado pelo quinta vez em busca de um terceiro mandato como governador: um abraço sorridente com o presidente Jair Bolsonaro (Pl), hoje o maior cabo-eleitoral da política catarinense. Na manhã desta quinta-feira, Amin foi entrevistado no podcast Plenário, da Rádio Som Maior, e deixou claro que um dos objetivos do encontro com o presidente era apresentar-se como pré-candidato a governador.
– Eu informei ao presidente Jair Bolsonaro, como já havia informado ao ministro da Casa Civil e presidente do nosso partido, no momento afastado, Ciro Nogueira, que o nosso partido tem seu pré-candidato a governador do Estado, que estamos cumprindo as etapas preliminares que um partido democrático deve cumprir para preparar sua convenção.
Perguntei ao senador como foi a reação do presidente Bolsonaro à informação. A resposta, bem humorada, foi ao estilo Amin.
– Eu achei que a fotografia ia responder essa sua pergunta – brincou.
– (A pré-candidatura) foi recebida com a cordialidade de um amigo de 31 anos. Temos 31 anos de convivência, isso não quer dizer que pensamos igual, que nossa história é igual. Mas é uma história de respeito, de conversação, de brincadeira, de momentos dramáticos. (Eu disse que) “meu partido tem um pré-candidato, eu topei a parada e quero te dizer que vamos procurar trabalhar em função de sua candidatura a presidente da República”. Nosso partido tem um posição nacional. É diferente de 2018, quando a candidatura dele nem foi considerada pelo nosso partido, que era o partido dele. Acho que é apenas a atualização de uma relação pessoal, agora institucional.
Semanas atrás, Amin também buscou o registro fotográfico como forma de reforçar a condição de pré-candidato a governador. No dia seguinte ao jantar que o governador Carlos Moisés (Republicanos) ofereceu a 46 prefeitos do Progressistas, ele garantiu a fotografia com o senador e também pré-candidato a governador Jorginho Mello (Pl). Deu início a uma conversa que não havia entre ambas as pretensões, mas ressaltou na nota à imprensa o respeito entre as pré-candidaturas.
Na entrevista ao Plenário, Amin disse que não ficou incomodado com o encontro de Moisés com os prefeitos, mas fez uma breve palestra sobre o que diferencia partidos históricos e consolidados como o Progressistas e seu rival estadual Mdb das legendas com as quais Moisés está acostumado a lidar – Republicanos, Podemos, Avante. O senador lembrou que progressistas e emedebistas tem diretórios estaduais consolidados e regras internas rígidas e não comissões provisórias que podem ser nomeadas e destituídas ao sabor das vontades. Que em legendas desse porte, qualquer candidatura ou proposta pode ser apresentada na convenção.
– Vocês que comentam política devem esclarecer a sociedade o que são partidos consolidados e partidos com base em comissão provisória. Partidos como o Mdb, Pt, Progressistas, partidos históricos, nós temos diretórios e seguimos a legislação partidária plenamente. A decisão sobre candidatura é na convenção e pode haver disputa na convenção. Quando se fala em balbúrdia, confusão, não, isso é democracia. Nos partidos que são regidos por comissões provisórias, a decisão é mais simples. Basta o presidente da comissão provisória tomar a decisão. Se for necessário, substitui os membros. São dois métodos, não estou criticando. Mas no meu partido, o candidato é do partido. Não é baseado em grupos que se reúnem, nem em fundo eleitoral. Quem homologa a candidatura é a convenção com pessoas que representam realmente o partido.
O senador disse que não há hostilidade em relação ao governador Moisés e que o Progressistas participou de seu governo. Mas ressaltou que qualquer proposta de apoio à reeleição precisa passar pela convenção do partido – recentemente o prefeito Joares Ponticelli, de Tubarão, manifestou desejo de apoiar a reeleição.
– Se alguém quiser apoiar o governador Moisés sem participar do projeto político dele, sem ter candidato a senador ou a vice ou qualquer coisa, vai defender na convenção. Não vai defender fechado em uma sala, nem em um jantar ou um almoço. Quem vai decidir é a convenção. Vale para o Esperidião ou qualquer outra proposta. E eu me submeterei. Na convenção há pessoas que não são prefeitos. Isso vale para o Mdb também, cuja posição eu respeito. É meu adversário, mas eu respeito. O Mdb tem 90 e poucos prefeitos, mas tem 200 municípios em que não tem prefeitura e tem representante na convenção. Esse pessoal pode concordar com a posição A ou B. Vale para o Mdb, vale para o Pt e vale para o Progressistas. Essa é a regra.
Amin disse que o próximo passo na construção do projeto do partido e possíveis alianças é definir o perfil do candidato a senador. Enfatizou que um tema que ele considera importante na disputa pelo Senado é o posicionamento em relação ao inquérito das fake news instaurado pelo Supremo Tribunal Federal e sob comando do ministro Alexandre de Moraes – o arqui-inimigo dos bolsonaristas. Amin considera o inquérito inconstitucional e costuma compará-lo à inquisição. Ao trazer esse tema, sinaliza para uma composição com o pré-candidato a senador Kennedy Nunes (Ptb), que tem essa questão como um dos pontos fortes de seu discurso. Amin não quis dizer isso com todas as letras, mas ficou claro. Curiosamente, Kennedy é mais um dos ex-progressistas espalhados pelo cenário político catarinense.
– Ele já demonstrou isso (críticas ao inquérito das fake news). Daí a ser uma definição, eu não posso antecipar. Nosso calendário é um pouco diferente do seu – brincou.
Amin também falou sobre o polêmico projeto aprovado na Câmara dos Deputados que limita a 17% a cobrança de Icms pelos Estado sobre combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transporte coletivo. Os governadores estimam as perdas em até R$ 100 bilhões caso a proposta seja aprovada também no Senado – em Santa Catarina, a alíquota é de 25%. Recentemente, Jorginho Mello declarou ao Estadão que como pretende ser governador, seria contra a proposta. Após pressão da base bolsonarista, recuou. Na entrevista, Amin declarou ser a favor da proposta, com alguma compensação aos Estados.
– Eu sou favorável a um fundo de equilíbrio, porque é uma decisão estrutural. Agora, eu sou contra os Estados faturarem o que não está previsto por conta da especulação do petróleo. Isso não é só um problema dos Estados, é um problema de governança da Petrobrás. O chamado Ppi aprovado no governo (Michel) Temer (Mdb) é pior do que privatizar a Petrobrás, porque todas as operações ficam vinculadas ao poder de preço internacional, mesmo as realizadas no Brasil. Agora, a jogada dos Estados, de atualizar a cada 15 dias o preço médio do petróleo, é faturar em cima da especulação. Os dois lados têm que ceder.
Ouça a íntegra do Podcast Plenário com Esperidião Amin: