O secretário de Estado da Saúde, André Mota Ribeiro, fez um apelo pela união de esforços entre entidades ligadas ao enfrentamento da Covid-19. O pedido foi feito durante debate na Comissão de Saúde, na manhã desta quarta-feira, 2. Segundo ele, falta “uniformização de comunicação” entre os vários grupos que vêm trabalhando para resolver a crise provocada pelo novo coronavírus em Santa Catarina.
Ribeiro lamentou que tem sido criticado por uma suposta falta de planejamento de ações para uma possível vacinação. “Isso não é verdade, mas faço o mea culpa de não ter tornado público (o cronograma de ações). Peço que a Alesc possa trabalhar mais junto conosco”, afirmou.
A reação surgiu após depoimento do deputado Doutor Vicente Caropreso (PSDB). O parlamentar expôs preocupação com informações que recebeu alertando para uma possível insuficiência na quantidade dos geradores que serão utilizados na conservação da vacina. “Me surpreende, pois já estou há semanas discutindo isso com a Celesc”, respondeu o secretário.
Segundo Ribeiro, não há que se falar em protagonismos no atual estágio da pandemia. “Precisamos melhorar a comunicação. Tenho me manifestado todos os dias, dizendo que temos situações emergenciais e temos propostas de enfrentamento, mas precisamos do envolvimento de todos, inclusive da Fecam (Federação Catarinense de Municípios). Estamos com quase três vezes mais contaminados do que em agosto, com cerca de 35 mil pessoas”, alertou.
Na opinião do secretário, as representatividades têm que participar “ombro a ombro”. Para ele, o trabalho de informação à população sobre a urgente necessidade de manter e reforçar a proteção individual não pode sair só das bocas do governo. “Fomos questionados sobre nossa legitimidade durante todo o tempo”, criticou. Para ele, as entidades que fizeram parte da reunião nesta quarta-feira – Comissão de Saúde da Alesc, Fecam, Ministério Público, Conselho Estadual de Saúde, Conselho de Secretários Municipais de Saúde de Santa Catarina e a secretaria – devem atuar em conjunto.
Outra preocupação do deputado Caropreso sobre possíveis mortes por falta de respiradores na rede hospitalar foi refutada. “Temos vagas nos hospitais, mas eles precisam reativar os leitos de UTI. Ao total são 191 que precisam ser reativados. E nisso o Ministério Público tem nos ajudado. E nós temos recursos e equipamentos disponíveis”, assegurou o secretário.
Presidente do colegiado, o deputado Neodi Saretta (PT) perguntou se o Estado trabalha com outras possíveis vacinas além da que o governo federal vem defendendo. Outro questionamento foi feito pelo deputado Ismael dos Santos (PSD), que indagou se o governo catarinense tem recursos para adquirir as vacinas.
Ribeiro respondeu que o ministério tem outros imunizantes em consideração e que o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde está acompanhando a situação e cobrando do Ministério da Saúde uma solução para a definição de qual ou quais vacinas serão utilizadas no país. “E sobre recursos, temos R$ 200 milhões e a logística para a compra”, relatou. O presidente do Conselho Estadual de Saúde de Santa Catareina, Jorge dos Passos Corrêa Cobra, comentou que a entidade confia no trabalho da secretaria. Segundo ele, o acesso à vacina precisa ser igualitário. “Acreditamos no trabalho que está sendo executado pela secretaria e todos os seus técnicos.”
Butantan
O presidente da Fecam, Paulo Roberto Weiss, explicou que a ação da entidade em buscar uma parceria com o Instituto Butantan foi iniciada há três semanas. “Respeitando o governo do Estado, mas entendemos que a vacina Coronavac tem uma eficácia de 97% e é uma das mais avançadas, enquanto o plano nacional se restringiu há apenas uma vacina. No próximo dia 10 vamos assinar o protocolo de intenções para a aquisição da vacina que está sendo viabilizada pelo Instituto Butantan.”
Médico e integrante da Fecam, o ex-deputado Jaílson Lima da Silva defendeu a iniciativa, citando que o instituto paulista produz 75% das vacinas da América Latina. “Fiquei surpreso com toda a inovação que está sendo feita lá. São 2.500 funcionários e 600 cientistas. Estamos encaminhando o protocolo porque cabe aos municípios desideologizar essa questão.”
Seringas
Vice-presidente da Comissão de Saúde, Caropreso demonstrou preocupação com o fato de o governo federal ainda não ter se manifestado sobre a aquisição de agulhas e seringas para a aplicação de uma vacina contra a Covid-19. O secretário Ribeiro frisou que há meses o governo estadual já vem comprando os produtos. “A secretaria está avançada nas ações para uma vacinação em 2021. Estamos mapeando salas de vacinação, planejando e treinando equipes em todo o Estado.”
Superintendente de Vigilância em Saúde da secretaria, Raquel Ribeiro Bittencourt, informou que o Estado conta com 18 centros de distribuição do imunizante. “Um em Florianópolis e 17 regionais, mas estamos estudando mais um no Oeste e um segundo na região de Joinville.” Segundo ela, para a necessidade de compra de câmaras frias, computadores e geradores que serão usados na conservação da vacina já existem R$ 2 milhões reservados.
Na imunização da população, explicou, serão utilizados todos os profissionais do setor que sabem trabalhar com injetáveis. Parcerias com os conselhos regionais de Medicina e Enfermagem estão em andamento para “dobrar a capacidade” de mão de obra nas 3.153 salas de vacina existentes em Santa Catarina.
Raquel relatou também que a logística de distribuição está sendo aprimorada. “Além dos recursos financeiros estaduais e federais disponíveis, temos ofertas do setor privado para a doação de câmaras frias. Vemos com tranquilidade o processo de vacinação, nos preparamos bem em 2009 e 2010 com a influenza.”
Crise
A deputada Ada de Luca (MDB) ressaltou a necessidade de “colocar as pessoas em primeiro lugar”, independente de qualquer situação. “O acesso aos direitos básicos é fundamental. Estamos em meio à uma pandemia e a crise está ampliando. Chegou o momento de preparar ações concretas para as primeiras vacinas. É fundamental garantir acesso igualitário para a população. Os grandes desafios exigem esforços conjuntos entre sociedade, governo e homens públicos.”
Representando o procurador-geral de Justiça do Ministério Público de Santa Catarina, Fernando da Silva Comin, o promotor de Justiça Douglas Roberto Martins comentou que as decisões devem ser técnicas. “Compreendo as angústias quando o Ministério da Saúde não assume o protagonismo, toma ações não ponderadas. Essa descoordenação pode ser nosso calcanhar de Aquiles. É importante que essa centralização seja feita pelo Estado e me parece que aqui já está encaminhado. O assunto já vem sendo tratado há quatro ou cinco meses. Louvo e compreendo a preocupação da Fecam em contribuir e é importante que haja união de esforços, mas as ações precisam ser coordenadas. Importante que não se adote cada ente uma estratégia diferente.”
Bala de prata
O procurador aconselhou ainda que a vacina não seja tratada como “uma bala de prata”. Para ele, o efeito que isso causa na percepção da população é perigoso. “Estamos vivendo um momento delicado, com nosso sistema hospitalar quase em colapso. A expectativa pela vacina não pode trazer segurança de que os cuidados básicos podem ser aliviados. Não podemos relaxar quando é o momento de ampliar restrições e cuidados individuais, diminuir circulação. A população precisa compreender isso”, explicou.
Sobre isso, o deputado Caropreso lamentou que exista um movimento chamando de “coitadismo” as ações de quem está preocupado com a pandemia. “Passei ontem para o governador que está na hora dele com os secretários ganharem a população e expor em rede estadual e pedir para a população ajudar. Há relatos de que no Brasil são as classes A e B que mais têm levado o vírus para população, por poderem fazer festas e aglomerações. Estamos sem condição de fiscalização. É hora de estadistas aparecerem. Temos que despolitizar isso tudo. Política tem que estar longe, fora nesse momento.”