O depoimento do empresário Samuel de Brito Rodovalho, representante da empresa CIMA Industries Inc. Medical Division, à CPI dos Respiradores nesta terça-feira, 23, trouxe um fato novo aos deputados. O empresário que mencionou o governador Carlos Moisés em três mensagens e teria citado uma "comissão" encarada como propina pela CPI, afirmou ter amizade com o atual secretário da Casa Civil, Amandio Júnior.
O fato foi apurado após uma imagem mostrada pelo relator Ivan Naatz (PL) no começo do depoimento. Samuel estava em uma vídeo chamada com Amandio e outros dois amigos. Ele afirmou que estavam conversando sobre outros assuntos, que não a compra de respiradores. No fim do depoimento, Kenedy Nunes (PSD) chamou a atenção para a presença de Amandio.
A conversa era do dia 28 de abril e os quatro estavam projetando um negócio para a venda de kits de Covid-19 em São Paulo, segundo Samuel. Amandio não estava com cargo público na época. Samuel alegou que as mensagens em que cita o governador Carlos Moisés foram na verdade escritas por César Augustus e ele apenas repassou. A terceira teria sido um erro de interpretação, quando César teria dito que Fábio Guasti estava na linha com o governo e não necessariamente o governador.
Naatz interpelou. "A CPI não pode dar crédito para essa informação. Ele diz que o governador não sabia, mas ele é amigo do atual secretário da Casa Civil", bradou o deputado. Samuel negou que teria conversado sobre os respiradores com Amandio.
"Nunca falei sobre isso com ele. Estávamos falando de outros assuntos. Falei com ele há dois meses, ele não era secretário da Casa Civil. Na época ele não tinha cargo nenhum", respondeu o empresário.
Samuel falou também sobre a negociação que manteve com Rafael Wekerlin, empresário de Joinville que citou o pedido de "comissão" apresentado por Samuel. À CPI, Rafael disse que o valor de R$ 33 milhões para a importaçaõ dos respiradores, que posteriormente foram acertados com a Veigamed, de Fábio Guasti, foi-lhe solicitado por Samuel.
Samuel apresentou-se como representante da importadora panamenha que não tinha autorização para comprar produtos chineses no Brasil. Assim entrou no jogo inicialmente Rafael, que depois refutou o negócio pelo pedido de comissão e desacerto nos valores do negócio. Segundo Rafael, os R$ 33 milhões seriam insuficientes para comprar os respiradores acertados por Samuel na China e arcar com a carga tributária.
O acerto de R$ 33 milhões equivale a R$ 165 mil pelos 200 respiradores, valor que foi negociado, segundo Márcia Pauli, após negociação de Helton Zeferino com Fábio Guasti no dia 26 de março, o que foi confirmado por Zeferino. Porém, de acordo com Rafael, no dia 25 de março Samuel já havia apresentado esse preço.
O representante da empresa panamenha alega que o valor apresentado para Rafael teria sido de R$ 132 mil por equipamento e o próprio Rafael teria acrescido o restante relativo à importação, tudo isso no dia 25.
"Eu vejo que eu fui usado para fazer uma proposta. A proposta do Rafael foi de 33 mil dólares por equipamento e é uma proposta de R$ 165 mil (na época o dólar estava cotado em R$ 5). No meu entendimento sempre foi com os impostos incidentes. Na proposta do Rafael tem o preço que a CIMA ia vender, de 26,5 mil dólares e a proposta tinha um Spread de 6,5 mil dólares. Bate com R$ 7 milhões que o Rafael teria que pagar com impostos", justifica Samuel.
O representante afirma que até o dia 30 de março tinha os 100 equipamentos prometidos por ele aos negociantes que intermediaram a venda ao governo do Estado. Porém, no dia 30 soube que a China havia suspendido as vendas ao Brasil para priorizar os Estados Unidos. No mesmo dia Samuel diz ter avisado César, que pediu para ser notificado formalmente apenas no dia 1º de abril. Assim, o Estado efetuou a compra sem que os equipamentos estivessem reservados.
"Para mim o César comentava que iriam entregar os equipamentos. Nunca imaginei que estava entrando em um negócio que ia lesar o Estado. Me meti numa enrascada, fui atraído para esse processo e estou sofrendo as penas por um negócio que eu não ganhei nada. Depois que perdemos o equipamento, comecei a me afastar do processo", disse.
No entanto, Samuel continuou perguntando sobre pagamentos e comissões para César, como mostram mensagens do celular pessoal que foi recuperado pela Força Tarefa. Ele alega que estava auxiliando outro amigo envolvido no negócio, de nome Germano, que teria respiradores na China, que também acabou não se concretizando.
Sobre a pessoa que receberia a "comissão" de R$ 3 milhões no negócio, cuja mensagem de Samuel enviada a Rafael citava "a comissão dela", teria sido uma exigência do César.