A parceria iniciada em outubro de 2015 e herdada de Antenor Angeloni começou repleta de sonhos e empolgação para o empresário Jaime Dal Farra no Criciúma. Menos de cinco anos depois, o cenário é outro. Sucessivas campanhas opacas no Campeonato Brasileiro redundaram no rebaixamento à Série C a ser disputada nesta temporada, naquela que será a última competição da GA como parceira do Tigre.
A rescisão do contrato da GA com o Criciúma foi tornada pública há uma semana, no fim da tarde da última quinta-feira, 14. No documento, é lembrado que a parceria foi oficializada em dezembro de 2015 e que a GA vem cumprindo suas obrigações com o clube em relação a manutenção do patrimônio e da administração, parte técnica e financeira, e menciona "aporte de vultosos recursos financeiros ao Clube, conforme contabilizados no balanço patrimonial".
"Quero reafirmar ao torcedor que cumprirei com todas as minhas obrigações como gestor da GA. O que fiz como responsável pela empresa gestora, cumprindo o que está em contrato. Até o fim da temporada a GA continuará exercendo suas obrigações e, com isso, dando tempo para o Conselho tomar todas as medidas necessárias", comentou Dal Farra. "Entregarei o clube sem dívidas de fornecedores, impostos, com as escolinhas que estarão ativas logo que liberadas, patrimônio preservado, CT, estádio, categorias de base com campeonatos no fim do ano inclusive, com o sub-20 preparado para a Copa São Paulo de 2021. Tudo isso está mantido e vamos cumprir rigorosamente com o nosso compromisso", garantiu.
Dal Farra fala em conquistar o Campeonato Catarinense e brigar pelo acesso à Série B no Brasileiro. "Não faltará da minha parte empenho e dedicação. É o meu compromisso. Nesse sentido, o orçamento de 2020 apresentado pela GA e aprovado pelo Conselho será criteriosamente respeitado. Por tudo isso, realizei uma reunião nessa semana com todos os setores e departamentos do clube, comissão técnica, gerentes, diretoria, afim de mobilizar toda a gestão para o segundo semestre e reafirmar os objetivos firmados no início do ano, dando ênfase ao planejamento", afirmou, frisando que "todos estão muito motivados no clube".
Prejuízo de R$ 10 milhões
Indagado sobre o tamanho do prejuízo que terá ao fim das contas na parceria da GA com o Criciúma, Dal Farra respondeu que "hoje o investimento foi feito, com déficit aproximado de R$ 10 milhões que eu botei do meu bolso no clube".
No último balanço fiscal, é apontado que o Criciúma deve R$ 9 milhões para Jaime Dal Farra. O presidente garante que o débito que houver quando do fim do contrato será extinto, e ele assumirá pessoalmente o prejuízo. "Conforme o contrato, isso só seria suprido com vendas de atletas. Caso não haja, alguns atletas podem ficar vinculados para suprir a perda, ou senão no dia que encerrar o ano, quando terminar a temporada de 2020, simplesmente a GA e Jaime Dal Farra por questão de impostos e fisco, eu automaticamente quitarei a dívida e eu perderei esses R$ 9 milhões", sublinhou.
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Aceitará transição?
Questionado sobre uma possível transição antecipada com o futuro gestor, Dal Farra foi categórico. "Da minha parte, desde que venha para o diálogo, para vir e ajudar na transição teria que vir com recursos. Ideias eu tenho mais de cem todo dia", destacou.
Para não ter que pagar multa de R$ 10 milhões por rescisão intempestiva, Dal Farra permanecerá gestor do clube até o fim da temporada, cumprindo o dispositivo contratual que prevê notificação de rompimento com 180 dias de antecedência. Logo, a participação na Série C ainda será com a GA no comando do Criciúma.
No fim do contrato, a parceira, no caso a GA, fica com os jogadores e o Criciúma terminará sem atletas. "A gente vai deixar jogadores, não vamos levar, o objetivo é que haja uma transição e a maior parte do staff do clube, jogadores que haja interesse de ficar, vai depender de quem vem. Tudo vai ser aberto na negociação, sempre para o melhor para o Criciúma", garantiu o presidente.
Sobre o seu sucessor, Dal Farra reforçou que indicará nomes, e lamentou que teve pouco apoio durante a sua gestão. "Sucessores, até disse que eu convidaria, se tiver uma participação do Conselho, de convidar, conversar, estarei aberto a dar todas as informações, tudo transparente, balanço colocado, contas abertas, a cada trimestre as contas estão aprovadas, no site do clube, mas também estou aberto a conversar, mostrar o funcionamento, a necessidade, e ajudar numa transição que seja muito boa", assegurou.
Se um futuro presidente quiser assumir antes do prazo, Dal Farra respondeu que vai cumprir a sua parte, e gerir o Criciúma até o fim da temporada.
Quando o assunto foi a manutenção ou não do atual modelo de gestão, Dal Farra aproveitou para pedir a união de todos para o futuro do Criciúma. "Eu comprei a GA por um valor vultoso que paguei por essa empresa, a GA é um modelo anterior, de 2012, eu só dei continuidade ao mesmo projeto, não mudou nada, só foi validado, até agora. Minha opinião, sim, o modelo é interessante mas precisa de participação maior da comunidade e investidores e apoio integral da imprensa e torcedores, independente do resultado de campo. Veja na Europa, time perde e sai aplaudido. Somos de uma cidade pequena, se todo mundo, independente das diferenças, críticas sem problema, mas temos que nos unir 100% a favor do Criciúma senão não é fácil tocar futebol com toda essa divisão que existe na cidade", reclamou.
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O futuro breve
Dal Farra elogiou os jogadores que aceitaram, sem ressalvas, a suspensão dos contratos de trabalho no decorrer da pandemia de Covid-19. "Houve uma redução expressiva por 60 dias na nossa folha de pagamento, a suspensão a gente paga 30% sem encargos, a lei está implantada no clube. Estamos trabalhando com dificuldades, as receitas caíram bastante mas não afeta o investimento que está mantido no futebol", afirmou.
O presidente salientou que o Criciúma só voltará aos treinamentos quando estiver agendada a data de retomada do Campeonato Catarinense. Daí, o Tigre voltará a treinar 15 dias antes do primeiro jogo das quartas de final contra o Marcílio Dias. "Eu queria dar um reforço sobre as voltas aos treinos. Tenho percebido vários clubes tomando medidas diferentes, por questão da cidade, do estado que não libera. Aqui em Santa Catarina temos quatro cidades assim. Criciúma se aliou aos grandes clubes. Ter um treinamento no mesmo nível do Palmeiras, exatamente o que estão fazendo lá, outros clubes também, o Flamengo está voltando irregularmente, com proibição, e o Fluminense e Botafogo enquanto houver risco à saúde não voltam. E o Criciúma adotou essa postura, de seguir em primeiro lugar a saúde", afirmou.
Ele lançou uma especulação sobre o futuro do Estadual. Disse que recomendou à Federação Catarinense de Futebol (FCF) e ao Governo do Estado a retomada dos jogos com presença de 30% da lotação de cada estádio com público, com todas as medidas de distanciamento e segurança adotadas. "A ideia foi bem aceita", contou.
Confira abaixo, no Minuto a Minuto do 4oito, a transcrição de toda a entrevista: