A presidente da Epagri, Edilene Steinwandter, participou na manhã desta quinta-feira (3), em Jacinto Machado, da abertura oficial da programação da 18ª edição do Campo Agroacelerador, principal evento da Cooperja caracterizado pela exposição das potencialidades do agronegócio do extremo Sul catarinense. Na pauta de todas as conversas, a preocupação com os efeitos da estiagem em Santa Catarina.
"Eu vim de Pinhalzinho e chego em Jacinto Machado, são realidades distintas. Mas o setor agrícola todo está impactado com essa escassez hídrica. Só nas lavouras de milho e soja, as maiores áreas cultivadas nesse período, chegamos a R$ 4,2 bilhões de perdas, é uma perda que temos muita preocupação não só pela questão financeira do agricultor mas pelo setor do agro, como um todo, e pelo reflexo que essa falta de produção pode trazer ao consumidor", contou a presidente Edilene em entrevista ao programa Conexão Sul, da Rádio Som Maior, pouco antes da abertura do evento da Cooperja.
"Falamos de médias de perdas no milho chegando a quase 50% e quando vamos para o extremo oeste tem propriedades que perderam de 80% a 100%. Na soja, algo em torno de 30%. A olericultura pode até ter a irrigação, mas as temperaturas elevadas, a onda de calor tão fora do comum tem trazido prejuízos, para a maçã na região de São Joaquim, estamos sim vivendo momentos preocupantes", detalhou.
Há perdas que ainda chegarão
Edilene reconheceu que há as perdas consolidades, mas há as que ainda poderão ser sentidas no futuro. "As perdas da soja e do milho já podem ser contabilizadas. Mesmo que chova agora, não se recupera. Outras perdas estão em fase de contabilização, pois haverá reflexos futuros", comentou. "O arroz no Sul, não tivemos problemas de falta de água, mas aquelas lavouras de arroz que estavam em plena floração naquelas semanas de extremo calor, pode acontecer um abortamento de flores, e isso só vamos conseguir identificar no momento em que essas lavouras tiverem enchimento dos grãos, e isso não contabilizamos agora", comentou. "Temos lavouras em diferentes níveis de evolução no Sul, das precoces às sadias", emendou.
Mesmo com a preocupação exposta em relação ao arroz, cultura que é forte no Sul, a presidente Edilene comentou que tem boas expectativas para os resultados para os rizicultores. "O sentimento é que sim, se complete uma safra muito boa, a gente acredita nisso, mas talvez tenhamos em algumas lavouras esse problema da floração, com nível de produtividade menor, mas isso ainda é incerto. Precisamos acompanhar o desenvolvimento dessas lavouras. A esperança é sim de uma boa safra de arroz", analisou.
Vinda recente da ministra
A ministra Tereza Cristina, da Agricultura, esteve em Chapecó no último dia 12. "A vinda da ministra trouxe uma expectativa grande. Ao mesmo tempo, eu falo em nome de todos os que estiveram presentes, mais de 700 pessoas, teve uma frustração, pois até o momento não tivemos qualquer anúncio do Governo Federal. O que temos hoje são recursos aportados pelo Estado para poder atender às famílias impactadas com a estiagem", apontou a presidente da Epagri.
Em contraponto a falta de aportes federais, Edilene registrou os investimentos que Santa Catarina vem fazendo para colaborar com os produtores impactados pela seca. "Tivemos R$ 100 milhões do Estado no ano passado, conseguimos atender mais de 2,5 mil famílias com proteção de fontes, construção de cisternas, captação de água e redes de distribuição. Hoje vemos essas mais de 2,5 mil famílias passando pela estiagem por realidade diferente se não tivéssemos feito o investimento", detalhou. "Agora temos um aporte de mais R$ 25 milhões para o Reconstrói Santa Catarina, programa que vai apoiar produtores para o replantio do que é possível, apesar de milho e soja já ter passado esse período, mas para recuperar pastagens e outras perdas", sublinhou.
Conforme a presidente, nos próximos dias haverá um novo aporte estadual. "Em breve teremos mais R$ 150 milhões para investimentos nas linhas de água. Esses projetos vão sempre ter como salvaguarda ambiental a propriedade fazer proteção de fonte. Não podemos só pensar no momento atual, precisamos nos preparar para as futuras estiagens", destacou.
Ela manifestou a preocupação com o futuro. "São recorrentes as crises hídricas e precisamos planejar para aproveitar melhor a chuva quando ela vem, guardar melhor no solo, por isso precisamos pensar em plantio direto, cobertura de solo e conservação, todos na Epagri estamos preparados para fazer cada vez mais um planejamento muito realista e prevendo as questões de melhores uso e reuso e utilização da água", projetou.
Temos água em SC?
Questionada sobre a abundância de água em algumas regiões, citando o exemplo da Barragem do Rio São Bento, em Siderópolis, cuja capacidade está completa, a presidente da Epagri ponderou que a irrigação requer uma análise de outras variáveis. "Quando a gente fala de perdas de lavouras, são várias as características. Primeiro, para levar irrigação às lavouras tem que ter água próxima, e estamos falando de escassez em uma grande região, do meio Oeste para todo o extremo Oeste. Depois, temos que lembrar da topografia do Estado, que dificulta os sistemas de irrigação, diferente do Centro Oeste ou de regiões do Rio Grande do Sul onde há topografia plana e favorável", explicou.
Edilene manifestou inquietação com a necessidade de incrementar a irrigação. "Eu acredito que temos muito o que avançar, em irrigação de pastagens, para produção animal, precisamos fazer reservação de água para a lavoura, mas nem sempre teremos a condição de levar essa água a todas as lavouras", registrou. "Precisamos lembrar que o maior reservatório de água do planeta é o solo, então precisamos trabalhar que a água que cai do céu, a chuva infiltre e não escoe. A partir do momento em que infiltra, ela deve permanecer no solo, e temos tecnologia para isso", emendou.
Ouça a entrevista completa da presidente da Epagri à Rádio Som Maior no podcast: