Uma disputa municipal com bandeira nacional erguida. A estratégia que o PT utilizará em Criciúma para a disputa de 15 de novembro não será uma exclusividade daqui. É, na realidade, uma iniciativa por toda a parte. "Precisamos encontrar um ponto de equilíbrio entre o nacional, não abandonar as bandeiras do partido e as lutas nacionais que estamos travando, e a necessidade de travar a oposição ao prefeito atual", pontua o advogado Francisco Balthazar, ou Chico Balthazar, como será chamado na campanha, petista de carteirinha e escolhido pelo partido, ainda em fevereiro, candidato a prefeito.
"Temos muitas necessidades locais para discutir. O ensino com dificuldades, os professores reclamando que tiveram até cortes nos salários, o Criciumaprev como uma bomba relógio com data marcada para explodir", sublinha, já antecipando algumas das pautas que levantará contra o prefeito Clésio Salvaro (PSDB).
Embora com a necessidade de tocar nas questões nacionais, por uma condução partidária, Chico vê diferentes com as aflições locais. "São situações bastante distintas. Nós, como membros do PT, como partido nacional, com bandeiras nacionais, vamos adaptar o discurso local, que é muito específico e tem bandeiras próprias", observa.
Lula e Décio
Mas o plano nacional é citado com real prioridade por Chico Balthazar. "A candidatura do Chico só se viabiliza para fazer esse resgate, das bandeiras, do legado dos governos Lula e Dilma em Criciúma, como a duplicação da BR-101, IFSC na Próspera, esgoto todo da cidade, que todo mundo pensa que foi o Salvaro que fez, foi um projeto do governo Décio e bancado pelo governo Lula, o Salvaro apenas administrou uma coisa feita", afirma. "E o Orçamento Participativo do governo Décio foi uma grande conquista popular. A minha candidatura só existe para fazer esse resgate e para restabelecer, criar nas pessoas o sonho de restabelecer esse período", anuncia.
Da gestão Décio Góes, a única do PT em Criciúma, entre 2001 e 2004, Chico tem na ponta da língua o que gostaria de resgatar. "A sensibilidade de atuar no Executivo. Se perguntar como um professor era tratado pelo município, vais ter essa resposta de forma mais clara. O Décio ouvia o professor, ouvia as demandas da sociedade e também do servidor público. Esse desejo de servir ao povo ouvindo as suas demandas, e não impondo uma agenda própria da cabeça do prefeito", destaca. "Administrar não é fazer aquilo que se quer, mas fazer o que o povo quer que se faça", emenda.
O Orçamento Participativo será posto em prática em um eventual novo governo petista a partir de 2021 em Criciúma. "O OP resolveu problemas históricos, mobilizava a organização, combateu a violência e criminalidade. Para nossa surpresa na época, fizemos o OP para democratizar a gestão pública e acesso às obras e quando vimos estávamos colhendo outros frutos muito mais interessantes", observa. "Foi uma experiência muito gratificante", pontua.
Do modelo de administração petista já empregado em Criciúma, Chico - que fez parte daquela gestão - comenta que "gostava daquele modelo, da Secretaria de Governo, da forma da Secretaria de Administração". E antecipa: "eu pretendo ter um secretário de governo, aquele secretário que vai cuidar das demandas do dia a dia do gabinete e a relação com o Legislativo".
PT no fundo do poço
"O PT em Criciúma e no Brasil está emergindo, voltando do fundo do poço", reconhece Chico Balthazar. "Nós estivemos no fundo do poço, podemos falar disso, nossa presidente legitimamente eleita foi defenestrada do poder sem crime de responsabilidade, nosso líder foi colocado na cadeia sem prova de crime concreta", comenta. "E se vendeu uma imagem que bastava ser petista para ser ladrão. Porém, os petistas saíram do poder e as coisas só pioraram", registra.
O pré-candidato afirma que tirará proveito da campanha que está começando para "recolocar a verdade". "Espero que essa campanha deixe claro para o povo que o errado não era que o petista era ladrão, mas que a sociedade continua organizada como era antes do PT. Todas as obras do PT, toda a democracia implantada pelo PT demorou um pouco ainda para chegar em alguns rincões, em algumas pontas da administração pública e da sociedade, espero que essa campanha comece a esclarecer essas coisas", salienta. "As pessoas já estão percebendo que a roubalheira continua, e o presidente que parecia ser o mais honesto do mundo e bastava ser de direita, não é bem assim", emenda.
Mas Chico faz questão de assegurar que sua candidatura oferecerá propostas para a cidade. "Vamos fazer uma campanha propositiva, fazendo esses esclarecimentos, esperamos que o povo comece a perceber que não é o PT o inimigo número 1, é a corrupção, a bandidagem que estão na máquina pública", opina.
A volta por cima
Ainda na análise política sobre o PT, Chico comenta as razões do declínio local do partido, que elegeu prefeito duas vezes porém, na última disputa, não conseguir consagrar sequer um vereador em Criciúma. "O nacional contribuiu, mas foram problemas nossos, fortes, internos, nós os petistas de Criciúma já consideramos isso superado. Brigas internas, rixas de correntes políticas, que nós felizmente conseguindo superar", apontou. "Já na presidência do Laércio (Silva, ex-presidente municipal do PT) foi uma nova realidade, com a continuidade da Bárbara (Teixeira, atual presidente. Por conta de todos esses problemas, esse nosso crescimento em direção à juventude ficou prejudicado, espero que já esteja sendo retomado", salienta.
E para acompanhar essa volta por cima que o PT planeja na cidade, Chico garante que a simbologia tradicional estará reforçada. "A minha candidatura só existe porque nós queremos fazer esse resgate. Vamos precisar encontrar a medida exata de fazer a discussão do passado, resgatando alguma coisa, e projetar o futuro. Não vamos ficar presos no passado dizendo que somos o Joãozinho do passo certo", registra. "Por exemplo, aquela história do candidato a prefeito de Imbituba que pintou o PT de azul e escondeu a estrela, não é a nossa intenção, vamos usar a estrela do PT e vamos continuar usando vermelho que é a nossa cor", detalha.
Salvaro
"Não é nossa intenção agredir ninguém ou falar mal", responde o petista, quando questionado sobre a postura em relação ao governo Clésio Salvaro. "Vamos apresentar propostas. "uando a gente começa a analisar as coisas, é obrigado a colocar dedo na ferida, não vamos fugir de debate, mostrar as coisas que pretendemos fazer , mas estamos na obrigação de mostrar as coisas erradas, mantendo um nível elevado de discussão pretendemos não fugir de qualquer debate", menciona.
Questionado sobre virtudes da atual gestão, Chico afirma que Salvaro "está fazendo uma série de obras que pretendemos continuar, asfaltamento, lajotamento, pretendemos continuar". E pontua que o governo do PT já planejava investimentos na região da Avenida Santos Dumont. "Uma obra que nós pretendíamos fazer em 2002, 2003, a duplicação da Santos Dumont, o Salvaro está fazendo o binário, achei uma excelente ideia, importante", opina. "Nós reconhecemos o que é bom e não haverá solução de continuidade", garante.
Mas Chico pontua a preocupação com a herança que Salvaro poderá deixar, segundo ele. "Temos a notícia do financiamento do Fonplata, nós chegamos a estudar isso na época. Vimos que existia possibilidade, era ideia para o segundo governo que o povo nos deu mas que por um golpe jurídico e político o Décio Góes acabou não conseguindo", recorda.
Plano de governo pronto
O plano de governo que Chico Balthazar vai apresentar durante a campanha está passando por ajustes. "Está praticamente pronto. Dividimos os companheiros que estavam dispostos a ajudar, mesmo não sendo do partido, 13 grupos, fizemos discussões, essas discussões culminaram no plano. Considero ele 90% pronto", avalia.
"Queremos uma relação íntima entre educação, esporte e cultura, a partir das escolas e das crianças começar a montar uma estrutura de cultura e esportes para que a gente possa voltar a disputar os Joguinhos Abertos, JASC, fazer Criciúma voltar a ter importância esportiva. Quando assumimos no governo Décio, Criciúma estava na situação de agora, característica dos prefeitos de Criciúma, exceção Décio e Algemiro (Manique Barreto, ex-prefeito). Criciúma não é uma cidade que disputa a ponta nas questões de esporte, talvez até por ter o futebol forte, as pessoas acham que está bom, que o esporte está suprido", observa. "No último ano do nosso governo Criciúma chegou a disputar o terceiro lugar dos JASC", recorda.
Na saúde, Chico cita o trabalho do ex-vereador José Carlos Mello. "Ele participou da implantação do Programa de Saúde da Família no governo José Augusto Hülse. Ele era um dos responsáveis. A gente pretende aprofundar tudo aquilo", antecipa. "Construímos uma Policlínica no Rio Maina, havia nove especialidades, agora tem duas ou três", critica. "E vamos ter muito cuidado com o Criciumaprev. No primeiro mês de administração petista, vamos fazer uma legislação discutida com a Câmara, vamos fazer a parte patronal, a cota patronal do Criciumaprev sair direto dos impostos que Criciúma arrecada ou do FPM, será uma legislação aplicada independente do prefeito que vai ocupar o cargo depois da nossa saída. O Criciumaprev terá arrecadação garantida, como o Fundeb, ele não depende mais de esmolas da União", frisa.
Esquerda não unida
Qual a razão de a esquerda de Criciúma não conseguir se unir em uma candidatura? "O Minotto e eu?", devolve Chico, citando o deputado estadual Rodrigo Minotto, pré-candidato do PDT à prefeitura. "Nós sentamos, conversamos, eu senti que o Minotto estava fazendo uma reunião protocolar conosco, era importante sentar com a gente, mas ele está muito interessado, e viabilizando agora, a indicação do vice com o partido do governador. Não nos interessa sentar com o governador, não faz parte do nosso arco de alianças o partido do governador. Somos oposição e não abrimos mão disso", responde. "Percebemos que desta vez era impossível, não existia condição política para insistir em uma candidatura única com o PDT de Criciúma", analisa. "Nada a ver com questão nacional, é local mesmo", sublinha.
Ainda em crítica ao "não aliado", Chico pontua que "o Minotto foi quase líder do Governo Moisés". "Durante esse processo de impeachment ele é uma das pessoas de confiança do governador para implantar a política do governador".
O petista revela, ainda, que houve contatos, além do PDT, com PCB, PCdoB e PSOL. "Esperamos, mas há um determinado momento em que você precisa adotar o seu caminho", registra. "O PCB deve ir conosco, e os membros do PSOL estão conosco também", observa. "Resolvemos então lançar um candidato a vice não para fechar a chapa, mas para não sermos pegos de calças curtas se os partidos não vierem para compor", comenta, citando o psicólogo Júlio Bittencourt, que foi indicado pelo PT para uma composição em chapa pura como pré-candidato a vice. O PT faz sua convenção municipal online no próximo dia 13.
"O sonho era uma candidatura única de esquerda, mas às vezes os sonhos não se realizam. Não conseguimos viabilizar essa chapa sonhada. Estamos acostumados com isso, antes do Lula ser presidente, nós não fazíamos coligações, fomos aprendendo com o tempo, e quando é preciso não coligamos", diz. "Eu acho que o partido do Minotto é de esquerda, que o Minotto é um companheiro de esquerda, só que nesse momento ele preferiu se aliar com um partido da direita e que não nos interessava no momento. A gente percebeu que não era possível continuar", finaliza.
As entrevistas
A série do 4oito com os pré-candidatos a prefeito de Criciúma já apresentou Cosme Manique Barreto (Podemos), Allison Pires (PSL) e Dr. Anibal (MDB). Nesta quarta-feira, 9, será a vez de Júlia Zanatta (PL).