Ela é a única mulher na disputa pela prefeitura de Criciúma. E também a mais jovem dos postulantes. Tem 35 anos, vive em união estável com Guilherme Colombo e é mãe de Helena. A advogada e jornalista Júlia Zanatta carrega, na cidade, a bandeira de Jair Bolsonaro na eleição de 15 de novembro.
"Nasci em Criciúma, cresci em Criciúma. Estudei e trabalhei em Florianópolis. Já morei nos Estados Unidos, me formei em Jornalismo, atuei na área, em assesoria de imprensa, depois senti necessidade de cursar Direito. Hoje sou advogada, é a minha atuação", define-se a ainda pré-candidata. O PL fará a convenção que a confirma concorrente ao Paço no próximo dia 14.
"Comecei cedo no setor público, com 22 anos", recorda, lembrando quando foi convidada a trabalhar na equipe do então secretário de Estado de Planejamento, o ex-prefeito Altair Guidi. "Tive mais de dez anos de trabalho no setor público, o que também foi muito importante para mim", relata. "Eu já vivenciei o mundo político, já sei o que quero e o que não quero", detalha.
Daí vem a vontade de entrar para a política. "Em 2018 eu vi que pessoas sem histórico, sem herança política, pessoas comuns e do povo como o presidente Bolsonaro, que já era político mas era contra o sistema, que essas pessoas conseguiram entrar. Então vi que era possível", aponta. "Isso acendeu uma esperança em mim, de que podemos mudar as coisas. Essa mesma mudança federal eu sinto que já havia vontade aqui por Criciúma", argumenta.
Júlia, então, começou a cultivar a intenção de disputar uma cadeira na Câmara de Criciúma. E expôs essa vontade em 2018, aos estão candidatos Jessé Lopes e Daniel Freitas, que elegeram-se deputados estadual e federal, respectivamente, então pelo PSL. "Depois deu aquela confusão no partido, a traição do Moisés, que é um traidor, que se elegeu nas costas do Bolsonaro e deu as costas depois. E depois os escândalos de corrupção, é inadmissível ele ter usado o nome do presidente para fazer isso como governador", afirma a pré-candidata, justificando sua decisão de deixar o PSL.
O cenário político começou a mudar para Júlia Zanatta há menos de um ano. Fruto de sua amizade com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), veio o convite para ele palestrar em Criciúma. Aquele evento, em novembro do ano passado no Teatro Elias Angeloni, selou a sorte da advogada. "O Jorginho Mello começou ali com aquela história de eu ser candidata a prefeita, o Eduardo veio e também falou nisso, acabou se consolidando e eu topei o desafio", pontua. Assim, Júlia deixou de ser pré-candidata a vereadora e passou a almejar a prefeitura. Disso, veio o convite do PL, que por influência do senador Jorginho abrigou Júlia e outros dissidentes do PSL catarinense.
"Eu achava e acho que Criciúma tem que ter uma prefeita do Bolsonaro", aponta. Mas Júlia tentou, antes de seu nome vir à tona, convencer os deputados que o PSL elegeu em Criciúma para disputar a prefeitura. "Eu tinha sugerido ao Daniel, ao Jessé também, para que um deles concorresse. Eles tinham seus compromissos e não queriam abandonar. Então eu aceitei. E eu conto com o apoio do Daniel, do Jessé e de todo o time do Bolsonaro", garante.
Ao desfraldar a bandeira do bolsonarismo em Criciúma, Júlia lança outra assertiva da sua campanha. "Eu sou a única candidata que falo abertamente que sou de direita. Eles não falam. Se tem mais alguém de direita nessa disputa, eu não sei", provoca. "Criciúma é uma cidade de direita, bolsonarista, com povo trabalhador e que não aceita malandragem. Estamos estagnados, perdemos o brilho, temos que recuperar essa confiança", registra.
PL com o Podemos
Júlia já apontou a possibilidade de concorrer em chapa pura do PL. "Desde o começo, o único partido que eu cogitei coligar tinha sido o Podemos, conversei com o Coronel Cosme, com o Lucas (Dalló, ex-pré-candidato do partido), com o Paulinho (Paulo Vargas, presidente em Criciúma)", informa. "Não conversei com todo mundo, não tenho esse perfil, não que eu não goste de conversar, mas eu gosto de seguir a minha linha", relata. "Os outros partidos não me procuraram pois já sabem a minha linha, desde o começo foi só o Podemos, teve outro partido menor que me procurou também", emenda.
Ela não esconde que gostaria de ter um vice de outro partido, mas admite que a tendência maior, no momento, é por indicação de um correligionário do PL para fechar a chapa.
Bolsonaro na campanha
O presidente Jair Bolsonaro anunciou, recentemente, que não estará envolvido diretamente na campanha dos candidatos a prefeito pelo Brasil. Mas Júlia conta com o apoio. "O Eduardo (Bolsonaro) é meu amigo, veio aqui duas vezes, dise que estaria na minha campanha. Eu sou uma apoiadora do Bolsonaro, do governo, e eu sempre falo que a gente tem que ter muita humildade. O Jair e o Eduardo não me devem nada, eu devo a eles, se estou na política, se tenho esse espaço que estou tendo, é graças a eles", destaca. "Eles não impuseram a minha candidatura, o que eles fizerem por mim, eu estarei satisfeita", comenta. "Eu continuarei apoiando e entendo a postura do Jair e do Eduardo, mas o Eduardo veio aqui e falou que a pessoa que ele mais confia em Criciúma é a Júlia Zanatta", recorda.
Júlia observa que "uma das poucas pessoas que eles vão apoiar no Brasil sou eu". "Ele disse que vai me dar apoio e ao candidato a prefeito de Belo Horizonte. Eu não sou de ficar cobrando, de ficar pedindo. Eu sou bem identificada com o Bolsonaro, vou seguir na minha linha, na minha humildade. Tenho certeza que o Eduardo vai me ajudar", completa.
Surfar na onda
Para Júlia Zanatta, nenhum outro candidato poderá, em Criciúma, tentar se apropriar da bandeira do bolsonarismo na eleição de novembro. "Não tem como fazer isso em Criciúma. Está muito na cara, o Eduardo Bolsonaro veio aqui, temos uma relação muito forte. Não tem como outra pessoa querer dizer, pode passar vergonha", observa. "Eu sei de pessoas que vão em bairros e dizem que apoiam o Bolsonaro, mas nunca apoiaram. É aquele tipo de pessoa que fala o que convém, conforme o lugar", emenda.
A pré-candidata faz uma analogia com o segundo turno da última eleição ao Governo do Estado, na qual Carlos Moisés (PSL) e Gelson Merísio (PSD) diziam que eram o candidato do Bolsonaro. "O Moisés não era conhecido, eu faz tempo que defendo o Bolsonaro, que tenho meus posicionamento sde direita. O Moisés não tinha proximidade com a família, como a que eu tenho. Vai ser muita cara de pau de quem quiser pegar carona com o Bolsonaro agora", opina.
Uma gestão de compromissos
O plano de governo da candidata do PL está pronto. "É um plano de diretrizes, uma gestão de compromisso com Criciúma e com os criciumenses, e não de interesses políticos e pessoais", aponta. "Teremos tolerância zero com o crime, a corrupção e os privilégios. Nossas prioridades serão a saúde, a segurança e a educação", frisa.
Júlia aponta uma especial atenção ao social. "Dentro dos limites do que o município pode fazer pela segurança, é não deixar proliferar um ambiente de criminalidade", salienta. "Eu vou atuar com foco no liberalismo econômico, não atrapalhar quem produz. E a recuperação da confiança de Criciúma, para atrair investimentos, mostrar que somos uma cidade que não atrapalha quem produz. Quero combater a burocracia, chega de carimbos e autorizações, a burocracia alimenta a corrupção", relata.
A candidata cita as filas na saúde. "Estamos vivendo em um mundo tecnológico. Esse modelo atual te deixa refém de um político para conseguir o exame, a consulta. Quero acabar com isso. É possível fazer muito mais na saúde com os atuais recursos, é questão de compromisso", reitera.
O que fazer na segurança
A segurança é dever do Estado. Mas o Município pode agir. "Se dependesse de mim, todo o cidadão criciumense teria direito a portar armas, ter uma arma em casa para defender a sua família. Eu sou defensora das liberdades individuais, da liberdade de expressão e da legítima defesa", salienta. "Isso vai nortear a minha atuação na prefeitura. Dentro dos limites que uma prefeita pode fazer, podemos criar um ambiente para o crime não se proliferar, agir nos bairros com bolsões de pobreza, as comunidades precisam ser incluídas. Fazer parceria com a Universidade para o contraturno escolar, e manter uma cidade limpa e bem iluminada", enaltece.
A Escola Cívico-Militar
A educação tem forte marca no plano de Júlia Zanatta. "Eu quero combater fortemente a doutrinação ideológica e a sexualização precoce das crianças. Teve uma ação do vereador Pastor Jair, do nosso partido, ele retirou mais de 100 livros que estimulavam a sexualização precoce, tirou das escolas municipais. Isso é algo que eu vou combater fortemente", antecipa. "Trazendo os valores, a moral, a ética, os valores cristãos para dentro da administração pública", explica. "Uma pessoa que rouba dinheiro do pagador de impostos, ele não está cumprindo com seus deveres de cristão", emenda.
Trazer uma Escola Cívico-Militar para Criciúma é uma defesa da pré-candidata do PL. "Eu sempre defendo. Na última vez que fui a Brasília, falei com o secretário de Fomento do Ministério da Educação, Criciúma cumpre os requisitos para ter uma Escola Cívico-Militar, o município perdeu prazos ou não teve interesse de se cadastrar", lamenta.
A ação contra a pandemia
Júlia tem sido frequente nas redes sociais nas críticas às posturas de Clésio Salvaro e Carlos Moisés perante à pandemia de Covid-19, defendendo a postura do presidente Bolsonaro. "Eu tenho um vídeo do dia 26 de março pedindo para que em Criciúma fossem respeitadas as orientações do presidente, preservar o grupo de risco e manter o resto da população na ativa, preocupações com a saúde e economia. Eu falei isso quando ninguém falava, só o presidente, que foi muito atacado por isso, enquanto o Salvaro falava em toque de recolher. Nós temos que enfrentar o que está aí, não podemos nos acovardar, ficar em casa", observa.
"Hoje já está provado, vai morrer muito mais gente de fome no Mundo do que do próprio coronavírus", relata a pré-candidata. "O remédio não pode ser pior do que a doença. Eu seguiria todas as orientações do presidente desde o começo, o Salvaro não seguiu, inclusive em Criciúma ele não adotou o tratamento precoce da hidroxicloroquina, eu já teria adotado há muito tempo", emenda. "A inspiração é o presidente Jair Bolsonaro, um cara honesto, porque eu não vou seguir o que ele fala, ele tem informações, o Trump utilizou a cloroquina profilaticamente. Seguir e não ficar debochando como se fez aqui", sublinha.
Oposição a Salvaro
Quando questionada sobre a postura que adotará em relação ao prefeito Salvaro, Júlia responde que "o meu discurso é de oposição à corrupção e à roubalheira". "O meu maior adversário é a corrupção", elenca. "Tudo o que se enquadrar nisso, será meu adversário", salienta.
E ela lista uma série de fatores que pretende usar durante a campanha ao Paço. "Temos visto bem claramente os escândalos, roubo de carne na Afasc, as ações do Gaeco, ambulâncias, iluminação pública, improbidade, mal uso do dinheiro que veio pra Covid, licitações da grama, coloca a grama antes da licitação, no mínimo tem alguma coisa errada, começa a surgir muita coisa, tem algo errado", enumera.
Júlia pretende também enxugar a máquina pública. "Eu vou trabalhar nisso. Mas a real ideia sobre o que é possível cortar, só teremos estando lá dentro, para ver o que é cabide de emprego, o que não é, o que dá para ser cortado", relaciona. "Eu vou trabalhar enxugando. Sempre pensei em reduzir a máquina e não aumentar impostos. Mas me preocupa muito o endividamento da prefeitura. A atual gestão e até anteriores fizeram empréstimos em dólar, estamos fazendo o levantamento exato, vamos ver como vai ficar para os próximos prefeitos. Agora é tudo lindo, mas é depois?", indaga.
Sobre aspectos positivos do Governo Salvaro que poderão ter continuidade, Júlia afirma que "tudo o que é positivo será valorizado. Não temos essa vaidade de alguns políticos, temos que sempre prezar pelo bom uso do dinheiro público, não ter ar de imperador romano, que destrói tudo o que houve ou não reconhece", completa, citando o ex-prefeito Altair Guidi. "Eu trabalhei com ele, ele viu Criciúma trinta anos à frente, a cara atual de Criciúma veio do tempo dele", finaliza.
Mais entrevistas
Na série de entrevistas com os pré-candidatos a prefeito de Criciúma, o 4oito já destacou Cosme Manique Barreto (Podemos), Allison Pires (PSL), Dr. Anibal (MDB) e Chico Balthazar (PT). Nesta quinta-feira, 10, será a vez de Rodrigo Minotto (PDT), e na sexta-feira, 11, Ederson da Silva (PSTU). O prefeito Clésio Salvaro (PSDB), optou, conforme sua assessoria, por não participar.