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Empresário avisa: "Petrobras, massacrando o consumidor e o revendedor"

Quem atua no segmento de venda de combustíveis explica as razões dos valores praticados e tão reclamados

Por Denis Luciano Criciúma, SC, 05/02/2022 - 09:30 Atualizado em 05/02/2022 - 20:21
Arquivo / 4oito
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Se a gasolina está cara para o motorista, o cidadão, está cara também para o revendedor. Afinal, o dono do posto tem carro, dirige e, da mesma forma, consome combustível. As razões para os preços que estão sendo praticados em Criciúma e região pautaram o Conexão Sul desta sexta-feira (4) na Rádio Som Maior. O empresário Beto Benedet, que gerencia dois postos na cidade, respondeu diversas dúvidas.

"O litro andou reduzindo, está oscilando entre R$ 6,34 e R$ 6,45 em Criciúma", apontou. Benedet lembrou que, atualmente, são 51 postos concorrendo somente em Criciúma. "E o custo operacional consome de 20 a 30 centavos por litro de combustível vendido", contou. 

A partir disso, o empresário respondeu perguntas de ouvintes que mencionaram os casos de postos da região que conseguem cobrar menos de R$ 6 pelo litro da gasolina. "Eu gostaria de saber como esse revendedor consegue pagar a custo de R$ 5,70, buscar em Itajaí e cobrar R$ 5,97. Isso é inexplicável. O Procon precisa fazer vistorias, ninguém consegue trabalhar no vermelho", advertiu.

Conforme a tabela desta sexta-feira, exposta por Benedet ao vivo durante a entrevista, o revendedor compra a gasolina no distribuidor em Itajaí a R$ 5.818, incluído o frete. A partir daí, são feitos os demais cálculos para uma margem de lucro e a garantia dos valores para manter a estrutura do posto. "Hoje um posto envolve muita coisa, tem que ter vários profissionais contratados, na área ambiental, na área elétrica e mecânica", destacou.

Benedet lembrou de uma alternativa que vem sendo utilizada: a chamada gasolina formulada, que é mais barata mas rende menos no motor do carro. "Tem essa gasolina formulada, que rende de 20% a 30% a menos, e muitos postos estão vendendo. É obrigatório colocar uma placa na frente do posto dizendo que é formulada, mas muitos não colocam essa placa por falta de fiscalização", sublinhou.

Beto Benedet no Conexão Sul / Foto: Bruno Gallas / 4oito

Ele fez um protesto recente contra a Petrobrás, que persiste em um dos seus postos, na Avenida Centenário, ao lado do Terminal da Próspera. "Nesse último aumento, em um momento de irritação, fiz uma placa de repúdio contra a Petrobrás, em um momento de discordância desses aumentos que são complicados para a revenda", contou. Daí, surgiu a ideia da placa que lá está ostentando: "Petrobras, massacrando o consumidor e o revendedor".

Para reforçar as dificuldades enfrentadas por quem vende gasolina, Benedet pontuou a margem de lucro atual que é possível. "Em 2021 a média de margem ficou em 9%, e os aumentos ficaram entre 8% e 10%", registrou. 

Com experiência no segmento, o empresário salientou que um erro praticado pela Petrobras é o vínculo do preço do combustível ao barril do petróleo no mercado internacional. "Nosso mercado não depende nada do revendedor e está oscilando ainda. O petróleo oscila muito, acompanhando as projeções para futuro, tem uma tendência de o barril de petróleo chegar em 100 dólares, hoje está em torno de 81 dólares", salientou. "Se não mudar a política atual, que é sobre o barril de petróleo e sobre o dólar, haverá novos reajustes", emendou.

Benedet foi além, lembrando que "80% do consumo do petróleo no Brasil é produção nacional. Talvez mudar a política de preços da Petrobrás, considerando esse percentual, seria possível". "O governo fala em não atrelar somente ao barril internacional e ao dólar", destacou.

Questionado se a privatização da Petrobras seria uma saída, o empresário não tangenciou. Ele acredita que sim. "As companhias ficam de uma maneira mais enxuta. Poderia reduzir esse valor do petróleo, acabando com várias benesses que a Petrobrás ainda oferece, acredito que privatizar seria uma das soluções. A Petrobrás saindo do refino abriria o mercado", ponderou.

E quem é o vilão?

Para Beto Benedet, os vilões do alto preço do combustível são os impostos. "Está se tentando mudar essa situação do ICMS, essa cobrança em nível de Governo Federal, de deixar de cobrar sobre o moderado, e cobrando o imposto sobre o valor da Petrobrás", pontuou. "O Estado congelou o ICMS sobre a gasolina em R$ 5,77 a base de cálculo, 25% sobre esse valor", referiu.

Com a margem cobrada de imposto, levando em conta a média atual praticada nos preços, a política atual confere uma grande arrecadação de impostos. "A média de preços hoje em Santa Catarina está acima de R$ 6,70. Na Grande Florianópolis acima de R$ 6,80, no Oeste também, a nossa faixa litorânea tem os valores mais baixos", contabilizou.

Por tudo isso, Benedet referiu o papel que os impostos desempenham nisso tudo. "Os impostos são os vilões. Que todos os impostos passem a ser cobrados sobre o preço da refinaria, haveria uma redução no preço dos combustíveis", reivindicou. "Hoje, 27% da arrecadação do ICMS vem de combustíveis", enumerou.

Diferença rodovia e cidade

Ouvintes questionaram sobre a diferença de preços entre os postos nas cidades e nas rodovias, como é o caso de Criciúma e da região de Maracajá, na BR-101. Há uma diferença substancial. 

"É livre concorrência. A rodovia tem um diferencial pois ali é venda de volume diesel. Um posto de rodovia vende 2 milhões de litros de diesel por mês, daí vendem a gasolina com margem menor para atrair esse cliente. Um posto na cidade vende 10 mil litros de diesel", comentou.

Houve perguntas também sobre o preço do GNV que, de igual forma, vem subindo bastante nos últimos tempos. "Fomos o segundo posto de GNV na cidade, começamos em 2003. Na época era R$ 0,99 o metro cúbico. Em seguida pulou para R$ 1,19 e outros aumentos. Na época a expectativa era que, conforme o duto que vem da Bolívia fosse pago, o GNV fosse reduzindo. Na época o valor era irrisório e o custo era o duto. O que se viu no Brasil foi o contrário. Ano passado foi um aumento absurdo de 42%, agora viriam mais 45%, não entendemos como esse cálculo é feito", detalhou.

Uma expectativa dos revendedores reside na mudança do modelo de produção do GNV em Santa Catarina. "Já sabemos que seria no porto de Imbituba que aconteceria isso, talvez em Navegantes, haverá uma central de gaseificação, virá o gás natural líquido por navios e lá vão gaseificar e jogar na rede. Talvez vá haver uma redução, mas é um absurdo", salientou. 

No fim das contas, Benedet fez um apelo aos consumidores, reforçando que o empresário não é o culpado pelos preços elevados. "O culpado não é o dono do posto. Às vezes vejo um carro popular abastecendo e gastando R$ 300, é um absurdo", comentou.

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