Há 40 anos, início dos anos 1980, a política brasileira se abria para o multipartidarismo. A ditadura militar se aproximava dos dias derradeiros e o MDB, de oposição ao regime e que continuaria com a bandeira do PMDB, dividiu-se em diversas siglas. Criciúma é uma cidade especial para um dos partidos que surgiu, governou o país por 14 anos e até hoje divide a opinião pública. Antes da fundação nacional, nascia o Partido dos Trabalhadores (PT) de Santa Catarina, com reunião de inauguração no dia 20 de janeiro de 1980 - completou, portanto, 40 anos na segunda-feira.
Na época foi um grande evento na cidade. Lideranças sindicais e intelectuais de todo o Estado estiveram em Criciúma para a organização. Os jornalistas Adelor Lessa e Nei Manique trabalharam na cobertura da reunião; em conversa no Programa Adelor Lessa desta terça-feira, os dois relembraram o evento e o impacto que teve naquele tempo.
"Vieram lideranças novatas, que não tinham liderança partidária no MDB. Foi um evento tão importante que trouxe sindicalistas de outros estados", relembra Nei Manique. Entre essas lideranças, um jovem bigodudo do Rio Grande do Sul estava entre os mais esperados. Olívio Dutra, governador dos gaúchos entre 1999 e 2003, participou do evento. "Era uma figurava que se destacava na oposição ao regime, os bancários fizeram uma greve histórica em Porto Alegre", aponta Nei.
"Chega o Olívio com aquele bigodão e uma pasta enorme. Antes da entrevista tirou o sapato e disse 'vocês vão me desculpar, mas isso aqui está me arrebentando os dedos', era uma pessoa muito descontraída e simples", complementa o jornalista. Nei relembra que 20 dias depois houve a reunião de fundação do PT nacional em São Paulo.
"Lá foi todo um ritual de intelectuais, aqui teve a participação de professores das universidades federais. Quando tinha manifestações na TV, eram sempre os professores, porque as lideranças sindicais não podiam colocar a cara nas entrevistas", destaca o jornalista.
Setembrada
Com a crescente insatisfação da população com o regime militar, o fim dos anos 70 e começo dos 80 foi de agitação. Antes mesmo do movimento por Diretas Já, em meio à violência da ditadura, o movimento de resistência tomou forma em Criciúma, cidade escolhida para ser a sede da inauguração do PT por causa da forte presença sindical.
"É importante resgatar a primavera que Criciúma vivenciou na primeira semana de setembro de 1979. Em uma semana, após 15 anos de regime e endurecimento, quatro categorias paralisaram na cidade. Os metalúrgicos, depois mineiros e ceramistas e por fim os motoristas do transporte coletivo. Eram 15 anos sem greve, de repente as quatro param, foi uma setembrada. O governador mandou militarizar a cidade, trouxe policiais militares de Joinville, Florianópolis, um efetivo fortíssimo", lembra Nei.
O movimento insurgente na cidade rompeu com a ideia do sindicalismo da época. "Era uma incógnita, assustou o empresariado da época que estava acostumado com um movimento sindical mais acomodado. A setembrada atropelou as lideranças da época. Foram três assembleias no mesmo dia no ginásio Colombo Salles, a direção do Criciúma cedeu o local", detalhou o jornalista.
"Eles não eram conhecidos. Era uma gurizada que tinha uma área de atuação diversificada, no movimento sindical, mas também comunitário. Teve o pessoal da Vila Manaus que chegou a ocupar a prefeitura. Lideranças novas que iam surgindo, também presente no movimento ambiental com piquetes no bairro Boa Vista, contra a poluição do carvão", concluiu Nei Manique.