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Há exatos 95 anos, Criciúma ganhava sua certidão de nascimento

Congresso Catarinense aprovava a emancipação de Araranguá e governador Pereira Oliveira confirmava a autonomia do recém nascido Município

Por Denis Luciano Criciúma, SC, 04/11/2020 - 16:10 Atualizado em 04/11/2020 - 16:14
A estação ferroviária localizava-se na altura do atual Terminal Central / Fotos: Arquivo Histórico Pedro Milanez
A estação ferroviária localizava-se na altura do atual Terminal Central / Fotos: Arquivo Histórico Pedro Milanez

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A história de Criciúma pouco faz lembrar mas esta quarta-feira, 4, é um dia importante. Criciúma está a cinco anos do seu centenário de emancipação. Em 4 de novembro de 1925 nascia o Município, desmembrado de Araranguá, fruto de uma forte luta política e até de um "jogo de cintura" na votação na Assembleia Legislativa (Alesc), à época chamada de Congresso Catarinense.

"Nós somos o primeiro pedaço emancipado do município de Araranguá, que começava na barranca do Rio Mampituba, na divisa com o Rio Grande do Sul, e se estendia até Jaguaruna. Isso tudo era Araranguá", lembra o jornalista e historiador Archimedes Naspolini Filho. Mas a emancipação encontrou forte oposição nas lideranças de Araranguá. "Não sem a oposição do coronel João Fernandes, que era o todo-poderoso desse município enorme aqui do sul de Santa Catarina. Ele era deputado, muito combativo em favor do velho Araranguá, muito respeitado nos corredores palacianos. Foi nesse clima que Criciúma emancipava", recorda.

Uma das grandes dificuldades, conforme Archimedes, foi determinar os limites do recém-nascido Município. "Foi um trabalho para demarcar limites. Nossos limites começavam no Rio Araranguá, se estendiam até Meleiro, e íamos até as encostas da Serra Geral, com o Rio Araranguá ao sul e o Rio Urussanga ao norte, isso tudo era Criciúma", refere.

Rovaris, primeiro vereador, primeiro prefeito

Criciúma, ou Cresciúma como se grafava à época até meados dos anos 40, teve sua fundação em 1880, e nas primeiras duas décadas organizou-se social e politicamente. "Os italianos se reuniam ao lado da Igreja Matriz aos domingos, depois da missa, e ali vislumbravam a possibilidade de Criciúma ser distrito de Araranguá, e isso eles conseguiram. E logo quiseram eleger um vereador à Câmara de Araranguá, e elegeram, Marcos Rovaris", conta Archimedes. 

Daí, veio o passo mais ousado. "Distrito e com um vereador, o distrito de Criciúma, os habitantes daquela época começaram a pensar mais alto, vamos nos emancipar. Mas esse verbo era proibido na Câmara de Araranguá, e as poucas vezes que Marcos Rovaris quis lembrar do assunto, ele foi calado pelos demais vereadores que não admitiam perder Criciúma", observa. 

A primeira mina de carvão de Criciúma. O minério foi descoberto em 1893 por Giácomo Sônego

Porém, alguns fatores se impuseram para reforçar o pleito de Criciúma. "Primeiro deles a descoberta do carvão em 1893 e a industrialização a partir de 1903. Essa industrialização do carvão teve impulso muito grande durante a Primeira Guerra Mundial, com esse impulso a cidade buscou mão de obra fora do município, não tínhamos, e o município foi se agigantando, social, política e economicamente", destaca. "A vontade de emancipar se agigantou e isso fez com que os partidos se organizassem, o Liberal e o Republicano, e os seus membros, mais proeminentes, os comerciantes e pessoas de maior posse, e os alfabetizados, só votava alfabetizado, se reunissem em busca de uma bandeira comum, vamos fazer o município de Criciúma", diz.

Meses de batalha no Congresso

Houve um ano inteiro de luta para que o Congresso Catarinense pudesse, ainda em 1925, votar o projeto de emancipação. "Depois de muitas marcas e contramarchas o coronel Pereira Oliveira, que era o governador do Estado, acabou aprovando projeto de lei originário da Assembleia Legislativa, à época chamado Congresso Catarinense, e sancionou a lei 1.516, exatamente no dia 4 de novembro, em 1925", confirma Archimedes. 

E houve uma, digamos, artimanha política para que a emancipação de Criciúma se tornasse realidade. "Para criar esse município, contando com a oposição do forte político coronel João Fernandes, o Congresso Catarinense misturou dois assuntos numa lei só, o que é proibido. Num artigo criou o município, no outro a Comarca de Urussanga. Criar a Comarca de Urussanga era termo pacífico, mas criar o Município era complicado", sublinha.

Poucos anos depois da emancipação, esse era o cenário da Praça Nereu Ramos

O governador nunca homenageado

Há um pivô nessa história que até hoje não recebeu qualquer homenagem em Criciúma: o governador Antônio Pereira Oliveira. Vice-governador eleito, ele assumiu o cargo em maio de 1925, no lugar do titular Hercílio Luz, que faleceria meses depois. Assinou a emancipação de Criciúma no dia 4 e finalizou seu mandato duas semanas depois, em 20 de novembro.

Pereira Oliveira, o governador que emancipou Criciúma / Memória Alesc / Reprodução

Logo, a autonomia de Criciúma foi um dos últimos atos do governador Pereira Oliveira. 

Criciumenses vão às urnas

Criciúma então preparou-se para, um mês depois de emancipado legalmente, realizar sua primeira eleição. "O coronel Pereira Oliveira, ainda não homenageado em Criciúma, ele sancionou a lei 1.516 e nos dava a emancipação, e marcou a primeira eleição para 6 de dezembro daquele ano (1925). Os partidos se reuniram e apresentaram como candidatos do núcleo central, do perímetro urbano, o Pedro Benedet, o Fábio Silva e o Olivério Nuernberg, de Nova Veneza veio João Bortoluzzi e Forquilhinha apresentou Gabriel Arns", recorda Archimedes.

"Fábio Silva era um alienígena no meio de alemães e italianos. Mas todas as secretarias de quaisquer entidades sempre buscavam o Fábio Silva para escrever as atas em função da bonita caligrafia que ele tinha, e ele era um letrado, um guarda-livros, tínhamos dois na região, o Fábio Silva e mais um em Nova Veneza, e esse de Nova Veneza entraria na história pelo seguinte, seis dias antes da eleição o João Bortoluzzi morreu, e ele era 50% do que era Nova Veneza, 50% era dele. E ele tinha um guarda-livros chamado Henrique Dalsasso, e os próprios Bortoluzzi, da empresa que ainda tem chaminé ali no Centro, chamaram o Henrique Dalsasso para substitui-lo e ele foi eleito para a primeira legislatura. O Marcos Rovaris foi eleito prefeito, teve 328 votos e os vereadores ficaram na margem de 320 a 326, mas 328 só o Marcos Rovaris e os suplentes dele, José Gaidzinski e Francisco Meller", detalha.

O trem era o meio de transportar passageiros nos primeiros anos de Criciúma autônoma

Criciúma com emancipação garantida, documentos publicados, limites definidos e batalha com Araranguá vencida, o Município era oficialmente instalado em 6 de janeiro de 1926.

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