O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) entende que o prefeito afastado de Urussanga, Gustavo Cancellier, e o vereador Thiago Mutini, ambos sem partido desde que foram expulsos do PP, devem continuar presos. Em parecer juntado aos autos nesta quinta-feira (23), depois que as defesas dos dois políticos pediram a soltura, o MPSC sustenta que há risco às investigações caso eles sejam soltos. A possível liberdade dos dois ainda será decidida pelo Judiciário.
A defesa do prefeito afastado rechaça as acusações de crimes feitas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público. Os advogados de Cancellier também dizem que não há nenhuma evidência de que a soltura causaria algum tipo de risco.
A defesa de Thiago Mutini também argumentou que não há indicativos de que a liberdade do vereador e ex-chefe de gabinete possa trazer algum prejuízo. No começo do mês, outro acusado de irregularidades, o ex-servidor comissionado Marcial David Murara foi solto pela Justiça, em troca de outras medidas cautelares. A defesa de Mutini avalia que a situação de ambos é semelhante.
O Ministério Público, porém, entende que os pedidos devem ser negados porque "somente por meio da manutenção da prisão preventiva poder-se-á realizar uma instrução processual sem influências, máculas ou obstrução".
A peça é assinada pelo subprocurador-Geral de Justiça para Assuntos Jurídicos, Durval da Silva Amorim, e pelos promotores Marina Modesto Rebelo, Gilberto Assink de Souza, Carlos Eduardo Tremel de Faria, Joel Zanelato e Juliana Ramthun Frasson.
"Poderio e influência política"
"Urussanga é um município deveras pequeno, onde as pessoas conhecem-se entre si, sabem onde moram, onde trabalham, seus costumes e rotinas, de modo que a soltura de Cancellier e Mutini, quer seja por si, quer seja pelo seu poderio e influência política, pode significar efetivo risco à escorreita (correta) coleta das declarações das testemunhas e interrogatórios dos codenunciados ao longo da instrução criminal", dizem os promotores e procuradores.
No começo do mês, os outros dois presos, vereador Elson Roberto Ramos (o Beto Cabeludo, Republicanos) e o ex-servidor comissionado Marcial David Murara, também pediram a soltura. O MPSC foi contra, mas a Justiça concedeu a liberdade a Murara, sob o fundamento de que ele não mora mais em Urussanga, apresenta "predicados pessoais favoráveis" e não tem "notório poderio político e econômico" para atrapalhar as investigações.
Beto, por outro lado, teve a prisão mantida. Ele entrou com um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que ainda não foi julgado.
Entenda a investigação
A investigação diz respeito à compra de terrenos supostamente superfaturados por parte da Prefeitura. Um deles, conforme a denúncia, teria Beto Cabeludo como um dos proprietários. Os trâmites para a compra, segundo os investigadores, incluíram avaliações imobiliárias fraudulentas e ocorreram num momento em que Beto deixava de ser oposição na Câmara e passava a defender a gestão de Cancellier. O prefeito nega que tenha havido superfaturamento.
Com a prisão e afastamento do prefeito, o vice, Jair Nandi (PSD), está interinamente no comando da Prefeitura. Nos lugares dos vereadores Beto e Mutini, assumiram os suplentes Caio De Noni (MDB) e Izolete Duarte Vieira (PP).
A Câmara de Urussanga instalou uma Comissão de Investigação e Processante (CIP) que pode resultar na cassação definitiva do mandato de Cancellier.