Há exatos dois meses, em 22 de abril, o advogado Marco Vicenzo ingressou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o pedido de refundação da União Democrática Nacional (UDN), partido extinto pelo Ato Institucional número 2, de 1965, do governo militar brasileiro. Trata-se do terceiro pedido formalizado nos últimos anos para recriação da sigla, mas garantem os envolvidos que esse de trata do movimento mais estruturado.
"A ideia não é apenas refundar mais um partido político. A intenção é reativar diante do contexto político atual de incertezas e falta de direcionamento, um movimento comprometido com a sociedade brasileira”, diz Vicenzo. "O objetivo maior é trazer o movimento udenista de volta. Não é somente mais um partido político, é restabelecer um posicionamento que funcionou e que tem tudo para ser efetivo na atualidade, afinal seremos o único partido verdadeiramente de direita no Brasil”, afirma.
O advogado coloca que o PSL, do presidente Jair Bolsonaro, não representa uma direita legítima. "Com todo o respeito, o PSL não é um partido conservador, de direita. É o maior partido da bancada da Câmara, mas isso não faz ele ser um partido de direita. E a UDN, sim. Tem história", afirma.
A UDN coletou mais de 500 mil assinaturas em nível nacional para chancelar o pedido. Se o TSE não der retorno positivo, Vicenzo promete ingressar com um recurso. Clique aqui e confira o pedido de refundação do partido encaminhado ao TSE.
Criciúma na UDN
O presidente da Fundação Cultural de Criciúma (FCC), Julio Lopes, é a principal liderança da refundação da UDN em Santa Catarina, tanto que está colocado como presidente estadual do futuro partido. Em encontro nacional marcado para o próximo dia 24 de agosto, Lopes será confirmado presidente do Conselho Político Nacional da UDN. Se os prazos permitirem, o partido tem intenção de participar já das eleições do ano que vem.
Militantes da UDN estiveram na praça Nereu Ramos na manhã deste sábado, expondo materiais e informações e conversando com a população sobre o retorno do partido.
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Julio Lopes tem sublinhado bastante alguns nomes históricos da UDN. Em ato pró-Jair Bolsonaro no último dia 26 de maio, o presidente da UDN participou usando uma camiseta do partido na qual constavam imagens de lideranças udenistas históricas, como Carlos Lacerda e Diomício Freitas. Nas costas da camiseta o "corvo", uma menção ao apelido de Lacerda.
Sobre as raízes históricas da refundação da UDN, chama a atenção a data marcada para o Encontro Nacional, já que 24 de agosto foi o dia do suicídio do presidente Getúlio Vargas em 1954, na época em que Carlos Lacerda, principal liderança udenista de então e governador do Estado da Guanabara, se colocava como maior adversário do governo Vargas e denunciava o presidente em seu jornal, o Tribuna da Imprensa.
Entrevista - Marco Vicenzo, presidente da UDN Nacional
por Carolina Cruz, Destak Jornal
Quais são os principais argumentos para que a refundação da UDN seja possível juridicamente?
É importante destacar a possibilidade jurídica do pedido é em razão da constitucionalidade. Temos batido bastante nessa tecla, porque nós estamos pedindo a anulação da resolução do TSE que foi baseada e fundamentada no AI 2 [de 1965], que na época extinguiu todos os partidos políticos. Essa resolução precisa ser expressamente revogada. Com essa revogação, automaticamente, a UDN poderia voltar para as suas atividades políticas.
Quando surgiu a ideia para entrar com o pedido de refundação no TSE?
A ideia surgiu devido a essa lacuna política que existe. Nós não temos nenhum partido de direita no Brasil hoje e não tem como falar em democracia sem um partido de direita. A direita está calada no Congresso Nacional. É preciso ter uma partido que defenda e que levante as bandeiras conservadoras, para a gente realmente possa falar em democracia.
Por que a UDN é o único partido efetivamente de direita no Brasil?
Não existe nenhum outro. Desde a Constituinte, desde a redemocratização não existe nenhum partido originariamente de direita. Com a máxima vênia e com o enorme respeito, o PSL não é um partido de direita. Mesmo que ele queria mudar, mesmo que ele queria reformular todo o seu estatuto e seu programa, não vai ser o partido originariamente de direita. Pode ser que ele vire um Frankenstein, e aí pareça mais uma colcha de retalhos, e consiga, quem sabe, se tornar um partido com o estatuto que precisa pelos ideais de direita. [Já] a UDN, tem um legado histórico de defesa das bandeiras direitistas e conservadora e isso o torna o único partido de direita do Brasil.
Em recente artigo publicado, você afirma que a UDN poderia proporcionar um "futuro político melhor". O que seria esse futuro melhor?
Seria um futuro em que a democracia seja realmente respeitada e para a gente possa respeitar o Estado democrático de direito, a gente precisa realmente ter esses princípios democráticos muito bem segmentados. É importante destacar, que eu sempre tenho confrontado a respeito sobre a forma de fazer política. Hoje em dia, a política se perdeu. Não digo que ela se perdeu na internet, mas ficou muito viciada em razão dos meios digitais. As pessoas tem feito política pela internet e o relacionamento político se esfriou. Temos que ter todo esse aparato de articulação política - no bom sentido, porque essa palavra foi demonizada. Não se faz política sem relacionamento.
O que você destaca como um dos principais feitos da história da UDN?
Principalmente a luta contra o comunismo, o antigetulismo, e o que ninguém fala a respeito da ditadura. Existia uma ditadura da época de Getúlio Vargas que não é questionada. As pessoas falam da ditadura militar, mas não falam da ditadura da Era Vargas. A UDN combateu de frente, confrontou toda essa ditadura, que não é falada.
Há quem diga que a família Bolsonaro esteve interessada no partido, isso procede?
Sobre a especulação em torno da família Bolsonaro, é importante deixar claro que o que eu especifiquei - e foi inclusive em uma entrevista ao O Globo - é que eu vejo como uma via natural a chegada da família Bolsonaro, tendo em vista que não existe nenhum outro partido de direita no Brasil o nosso partido, a UDN, seria ao único. A família Bolsonaro e o presidente da Republica, que levantou as bandeiras direitistas e conservadores, seria mais que óbvio que tivesse esse interesse de vir para o partido. Mas digo isso como algo que eu acredito, e não algo já que aconteceu.