Após a conclusão de uma tatuagem, sobras de tinta das mais variadas cores vão para o lixo. Só que esse não é o procedimento nas criações do tatuador e acadêmico do curso de Artes Visuais da Unesc, Felipe Machado, mais conhecido como Lip Wadocha. Das sobras, o artista acaba criando diferentes globos coloridos, parecidos com planetas. E é ai que a filha Pietra, de sete anos, entra em ação.
Aluna do 2º ano do Ensino Fundamental do Colégio Unesc, a artista mirim dá vida aos pequenos planetas resultantes das criações do pai. "Eu crio a história dos planetas", diz Pietra. "Pergunto para uma pessoa sobre a vida dela, depois crio a história do planeta e coloco o nome da pessoa no mundo", explica a estudante.
Vivências que somam ao repertório
Pietra já criou mais de 20 planetas. Entre eles, o planeta "Triste". "Eu conheci um moço usuário de drogas, e vi que o mundo dele é triste, sem amigos e sem esperança, por isso pedi para o meu pai fazer um mundo escuro, sem cores, e chamei de mundo Triste", conta a artista mirim.
E é assim que as criações ganham vida. Pietra transforma suas vivências cotidianas em histórias, onde cada pessoa ganha seu próprio mundo, com base no que a pequena percebe durante o convívio com família, amigos, colegas e conhecidos. E boa parte da vivência da estudante se dá no Colégio Unesc e no Ateliê de artes da Unesc. "A Pietra tem muito contato com o mundo da arte, e isso desperta muito a imaginação dela. Ela desenvolve diariamente a imaginação e a criação, e está sempre visitando o ateliê de artes da Unesc com o pai", coloca a professora de Pietra, Juliana Pereira Guimarães.
O contato proporciona maior repertório artístico para as criações. "Isso favorece a educação sensível, que é muito importante para que ela exponha o seu repertório imaginativo, adquirido com o contato frequente com as produções artísticas do pai, que ela vê no ateliê e, também, o que conhece na sala de aula", acrescenta a docente.
Juliana também ganhou um mundo com seu nome. "No meu planeta, ela conta como vê a nossa relação entre aluna e professora. É tudo criado com base na vivência cotidiana dela. No meu mundo, existe muita arte e cor, que é a visão sobre a professora de artes dela", conta a professora.
Pequenos mundos
Com a junção dos visuais dos planetas, criados pelo pai, e as histórias de cada um dos corpos celestes, desenvolvidas pela filha, surgiu a exposição "Pequenos Mundos", vencedora do edital de seleção para a 4ª Mostra Curto Circuito de Arte e Cultura do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) – Campus Criciúma. A exposição pode ser conferida na última terça-feira (04), no IFSC.
Resultado de pesquisas do acadêmico, o projeto Pequenos mundos surgiu para que identidade e relacionamento entre pai e filha pudessem ser expandidos. "Minha linha de pesquisa é a identidade e o relacionamento, dessa forma as produções que desenvolvo acabam conversando entre si, mesmo que estejam em suportes ou linguagens diferentes", explica Wadocha.
Para complementar a criação dos mundos resultantes das sobras de tinta, o artista convidou a filha para dar identidade às criações. "Ela finaliza, dá história e batiza cada um dos mundos. É uma construção de identidade dela e, como pai e filha, os mundos são muito importantes para nos conectarmos e explorarmos nossos afetos", finaliza. Após o registro dos mundos, as sobras são devidamente descartadas.