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Pandemia e o medo de denunciar aumentam a violência contra os idosos

São 350 denúncias em Criciúma somente neste anos

Por Marciano Bortolin Criciúma, SC, 25/06/2021 - 14:43
Fotos: Divulgação
Fotos: Divulgação

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O isolamento social, apesar de importante para conter a disseminação do novo coronavírus (Covid-19), expôs problemas e ampliou situações negativas. Uma delas foi o aumento da violência contra o idoso. Em Criciúma, somente nos primeiros meses de 2021, foram 350 denúncias de violência contra pessoas da terceira idade. Os dados foram revelados pela Conselheira Municipal de Direitos do Idoso, Angela Maria Silva.

Para ela, a pandemia influenciou devido à mudança de rotina nas famílias. ”Houveram casos que o idoso precisou mudar-se para a casa de um familiar ou alguém da família precisou se colocar à disposição desse idoso para realizar suas tarefas como idas ao supermercado e farmácias. Então todas essas mudanças, o convívio prolongado geraram muitos atritos e esses atritos acabaram em vários tipos de violência. Ter uma pessoa idosa em casa influencia diretamente no comportamento dos moradores dessa residência, algumas pessoas idosas são mais lentas, tem seus movimentos comprometidos e acabam por derrubar alguns objetos ao passar por mesas, fogões, balcões além de outras características do comportamento do idoso. Muitas famílias não estão preparadas para toda essa mudança. A pessoa idosa às vezes também fica incomodada com a movimentação de casas que não são as suas, com a mudança da sua rotina, onde até então ele era independente, tinha sua vida programada de acordo com sua necessidade e seu desejo. Tudo isso acabou gerando desgastes nas relações familiares, relações que muitas vezes já eram conturbadas”, comenta.

As denúncias, aponta ela, chegam através do Disque 100, Conselho do Idoso, Delegacia Especializada de Atendimento à Pessoa Idosa e até mesmo presencialmente por familiares, amigos e vizinhos.

Negligência, abandono e violência financeira

Entre os maus-tratos, estão negligência, abandono e violência financeira. “São apenas algumas das situações que o idoso enfrenta em seu cotidiano. A violência financeira, bem conhecida, acontece quando o violentador se apossa do cartão de benefício do idoso, ou quaisquer rendas que o idoso possua, ficando este muitas vezes com dificuldade de custear suas despesas com alimentação, saúde, moradia, lazer. São idosos que moram sozinhos ou com alguém que se diz cuidador. Pode ser um filho, um neto, sobrinho que em muitos casos são usuários de algum tipo de drogas”, conta.
A conselheira revela ainda que há casos de violência com casais idosos. “Muitas vezes os dois já têm a saúde comprometida e ficam tão fragilizados que não conseguem de forma alguma se defender ou contrariar o agressor. As situações de abandono acabam por colocar as vidas desses idosos em perigo constante, onde um fogão ligado esquecido, um ferro de passar roupa na tomada depois de passar suas roupas, alimentação escassa ou inadequada, podem gerar acidentes com fim trágico”, cita.

Atuação do conselho

O Conselho Municipal de Direitos do Idoso (CMDI) é composto por entidades que prestam atendimentos às pessoas idosas de várias formas, como, na cultura, na saúde e no acolhimento. Angela ressalta ainda que a entidade acolhe as denúncias e as encaminha aos órgãos competentes, acompanhando as evoluções dos casos. Também acompanha as políticas públicas de atendimento ao idoso, faz fiscalizações nas entidades de longa permanência de idosos, sempre orientando de modo que elas consigam prestar seus serviços de acordo com a lei e com qualidade.

Perdendo o medo de denunciar

“O medo é uma constante entre as pessoas idosas violentadas, elas têm medo, muito medo!” A afirmação é da conselheira Angela, ressaltando que as agressões verbais, torturas psicológicas e agressões físicas, deixam o idoso acuado. “Familiares, amigos e vizinhos também têm medo de fazer a denúncia e sofrerem algum tipo de represália, ou até mesmo serem repreendidos pelo próprio idoso que sofre a violência”, diz.
A conselheira reforça ainda que a denúncia precisa acontecer para que os órgãos competentes possam agir. “Para denunciar, o cidadão não precisa ter certeza que a violência esteja acontecendo. Havendo a desconfiança, já é pertinente que a denúncia aconteça imediatamente. Sempre que se observar que uma pessoa idosa apresenta qualquer tipo de lesões físicas, vestuário sujo, rasgado, perda de peso sem justificativa, isolamento...Denuncie! Não se cale, negar socorro ao idoso também é crime. 

Como denunciar a violência contra o idoso:
Conselho Municipal de Direitos do Idosos (CMDI) - 3431-0316
Delegacia de proteção a Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI) -  3403-1717
Centro de Referência Especializado da Assistência Socia - 3445-8925

Agravantes

O coordenador do Centro de Referência em Assistência Social (Creas), de Criciúma, Daniel Formentin Bonifácio, diz que, além da pandemia, o agravamento da crise financeira também contribuiu para o aumento das denúncias de violências contra pessoas da terceira idade. “O isolamento, embora seja uma medida importante para conter a crise sanitária, dificultou a vida dos idosos, visto que os centros de convivência dessa população fecharam. Outra dificuldade da população idosa é o avanço das tecnologias, já que muitas vezes uma simples ligação de celular torna-se um obstáculo intransponível e muitas violações de direito não chegam ao conhecimento da rede de proteção”, conta Bonifácio, relatando ainda que todas as denúncias são averiguadas pelo Creas e que grande parte delas chegam de forma anônima. Outras são encaminhadas pelo Ministério Público e pela delegacia. “Verificado a situação de violência ou violação de direitos, o Creas, enquanto órgão de proteção da família tenta mediar os conflitos e fortalecer os vínculos, sempre preservando o melhor interesse para a pessoa idosa. Nas mediações, as equipes multidisciplinares - advogado, psicólogo e assistente social - trabalham com a conscientização da família, explicando a fase e as dificuldades da velhice. Sendo infrutífera a mediação, os casos são encaminhados para o Ministério Público, a fim de buscar a responsabilização da família ou dos agressores”, fala.

Cada caso que chega ao conhecimento do Creas é acompanhado em sigilo. “Atendemos desde as famílias mais abastadas às menos favorecidas. Sempre com respeito às particularidades e total sigilo para não expor as pessoas envolvidas, porém sempre em defesa dos idosos do nosso município”, pontua.

Em casos de abandono, o idoso é encaminhado à uma  Instituição de Longa Permanência (ILPI),  sempre com o seu consentimento.

Aumento de pedidos de acolhimento em asilo

O presidente do Asilo São Vicente de Paulo, de Criciúma, Hélio De Luca, afirma que, desde  o início da pandemia, é registrado um aumento no número de pedido de acolhimento de idosos, sendo que hoje a demanda está elevada. “Só nós temos hoje 50 pedidos de acolhimento, ou seja, pessoas que estão na fila , porque não temos vaga. Percebemos também uma elevação nos pedidos de acolhimento enviados pela prefeitura”, relata.

Junho Violeta

Para conscientizar as pessoas sobre a violência contra os idosos e reforçar a importância de se fazer as denúncias, foi criado a campanha Junho Violeta. “A campanha é importante  porque ficamos durante todo o mês fazendo eventos, reuniões. São várias pessoas, muitos grupos que se juntam a fim de sensibilizar sobre a importância de combater a violência sofrida pela pessoa idosa, todo esse trabalho resulta em estímulo para que as pessoas denunciem.  Os atendimentos das demandas do idoso acontecem durante todo o ano. Estamos todos atendendo esse público sem cessar”, salienta Angela.

Bonifácio também destaca a importância da iniciativa. “O Junho Violeta é um marco para conscientização dos direitos da população idosa. Sabemos que o Brasil passa por um processo de envelhecimento de sua população, segundo o IBGE o número de idosos já supera o número de crianças. A expectativa é que até 2060 o número de idosos ultrapasse 58 milhões de pessoas. Acredito que o Estatuto do Idoso é outro grande marco em nosso país na proteção dessa população. Este diploma legal impõe a toda sociedade a responsabilidade com nossos idosos. Penso que chegará o dia em que o idoso não será mais visto como um peso ou uma pessoa inútil, mas sim como sujeito de direito e dignidade”, conclui.

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