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Pintura no Próspera engaja luta antirracista no futebol criciumense

Arthur Cruz, estudante de geografia, homenageou o clube em pintura em um muro em frente ao Mário Balsini, sem perder o caráter da luta: "vidas negras importam"

Por Heitor Araujo Criciúma - SC, 19/06/2020 - 13:42 Atualizado em 19/06/2020 - 20:32
Fotos: Divulgação
Fotos: Divulgação

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O racismo no futebol é expresso em várias formas, desde as mais veladas, como o fato de entre os técnicos dos 20 clubes da Série A do futebol brasileiro apenas um ser negro (Roger Machado, no Bahia), até as mais escancaradas, de cânticos contra jogadores negros nos estádios europeus. A luta antirracismo, que retornou aos holofotes mundiais nos Estados Unidos com o assassinato de um homem negro pela polícia de Minneapolis, teve repercussão no esporte e em Criciúma ganhou o apoio da torcida do Próspera.

O estudante de geografia Arthur Cruz, 25 anos, morador da cidade de São José, mas criado no bairro Próspera, passeava com o cachorro pela rua dos fundos do estádio Mário Balsini, quando viu um muro de um terreno que já pertenceu ao Time da Raça. Praticante do grafite, ele teve a ideia de fazer uma arte em homenagem ao clube. Em conversa com a Torcida da Raça, o que era uma homenagem virou também um símbolo de luta: jogadores negros desenhados com a camisa do clube e a frase "Vidas negras importam", lema do combate antirracismo nos Estados Unidos.

À reportagem, Arthur explicou como a ideia surgiu e ganhou os contornos do combate ao racismo. "Olhei o muro e pensei nos dois jogadores gigantes com a camiseta do Próspera. A ideia da frase antirracista surgiu junto com a Torcida da Raça, dei a ideia ao Cris e perguntei se ele apoiava. Sou branco e tenho que ter o pé no chão para falar sobre o racismo, mas também é papel do branco combater o racismo. Ele achou legal, a gente vive um momento tenso e delicado das questões raciais do mundo", explicou o estudante.

"O mascote do Próspera é um mineirinho e ele é negro. O Próspera tem essa tradição de ser um clube operário, que nasceu da classe operária, que majoritariamente eram os negros. Conforme fui fazendo o desenho, o pessoal do Próspera vinha e conversava, aí surgiu a ideia da frase e de pintar os bonecos como negros, para reforçar a função antirracista. Aqui em Criciúma a gente tem esse problema escancarado na cidade", acrescenta Arthur.

Israel Rocha Alves, presidente do clube, entusiasmou-se com a iniciativa do torcedor. Com a gestão focada na retomada esportiva do clube, o dirigente destacou que a política do Time da Raça é de apoiar o engajamento dos torcedores nas lutas sociais. 

"O clube é da raça, do povo, está no nosso hino. Todas as manifestações que representem a torcida do Próspera, o clube tem que apoiar. Eu venho trabalhando bastante com a máxima que é o clube da raça, que tem que estar envolvido com todos os setores, com todas as pessoas. Se na nossa sociedade a gente encontra algo que o nosso torcedor está passando, que está refletindo no nosso torcedor enquanto cidadão, tem que ser uma preocupação nossa enquanto clube", afirmou o presidente.

Torcedor do Próspera desde pequeno, mas também um Carvoeiro, Arthur engajou-se em realçar as memórias que o clube do seu bairro lhe proporcionou. O terreno em que fez o desenho pertence atualmente à Polícia Federal (PF) - ali será construída uma nova delegacia - anteriormente pertencia ao Próspera. O clube, de acordo com Israel, pretende manter o espaço ativo até que a PF inicie as obras. 

"Eu cresci e nasci aqui, hoje eu moro em São José mas sempre volto para cá. Por muito tempo eu joguei bola ali, aprendi a jogar no terreno. Depois ele ficou obsoleto", ressalta Arthur. Outra memória marcante no futebol prosperano foi o título catarinense da Série C, que ele acompanhou no Mário Balsini com o pai. "Desde pequeno eu ia nos jogos com meu pai, eu fui no jogo de 2005 do título Catarinense que o Próspera ganhou e foi uma festa. Eu sou Carvoeiro também, mas como tenho relação próxima de morar perto do estádio, sempre fui prosperano também", destaca Arthur.

A arte no muro foi feita por Arthur, mas contou com o apoio do clube. Após ter a ideia do desenho, o estudante percebeu que o estádio Mário Balsini estava sendo pintado e foi pedir as tintas para os funcionários. "A manifestação é da torcida. O que existiu foi um apoio do clube, porque ele tem que estar atento às reflexões dos torcedores. Não só essa, mas tanta outras bandeiras que sejam democráticas, de liberdade e igualdade, o Próspera vai procurar apoiar, em respeito a todos os nossos torcedores. É a política do clube", conclui o presidente Israel Rocha Alves. 

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