Um grupo com dez refugiados e migrantes venezuelanos desembarcou em Santa Catarina neste mês, para dar início a uma nova etapa de suas vidas em Turvo. Oito deles foram aprovados para trabalhar em uma empresa que atua na área de reflorestamento. Todos estavam morando na região Norte do país, depois que migraram para o Brasil devido à crise econômica e social no seu país de origem. O grupo é composto por duas famílias, sendo um núcleo familiar com quatro integrantes; um casal sem filhos e quatro pessoas solteiras. O deslocamento foi realizado pela Força-Tarefa Operação Acolhida e pela Organização Internacional para as Migrações (OIM). Ao chegarem na cidade, eles foram acomodados em moradias temporárias, viabilizadas pela Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI Brasil), que implementa o projeto Acolhidos por meio do trabalho.
A oportunidade de emprego surgiu a partir da empresa Verde Sul Souza Florestal, que organizou um processo seletivo com refugiados e migrantes venezuelanos, com o apoio da AVSI Brasil, que gerencia sete abrigos de acolhimento para refugiados em Boa Vista (RR) e também atua em Manaus (AM) com o projeto Acolhidos por meio do trabalho. O projeto viabiliza interiorizações de refugiados e migrantes venezuelanos a partir de oportunidades de emprego e auxilia com moradia temporária e acompanhamento social nos primeiros três meses na nova localidade.
De acordo com o empresário Vilmar Angeloni de Souza, a falta de mão de obra na região foi determinante para abrir esta oportunidade. "Conversei internamente com os funcionários atuais e decidi procurar a ONG para saber como funcionava. Temos boas expectativas pois ao mesmo tempo em que suprimos essa necessidade da empresa, sabemos que também estamos ajudando essas pessoas a se restabelecerem com dignidade", afirma o contratante.
Antes de iniciar no novo emprego, os novos contratados tiveram um dia de interação na empresa para adaptação. Todos estão com as documentações e vacinas em dia, inclusive com testes de Covid-19 realizados antes da viagem. A empresa também adota todas as medidas preventivas em seu quadro de colaboradores, como controle de higienizaçãoo, uso de máscaras e distanciamento adequado.
Cidade acolhedora
Turvo conta atualmente com uma população estimada de 13 mi habitantes e tem como principal atividade econômica a agricultura.
Segundo a psicóloga Julia Andrade, que fará o acompanhamento social na localidade, este é o primeiro grupo de refugiados que chega desta forma na cidade e por isso houve um envolvimento grande da comunidade. "A cidade é muito pequena e a chegada de um grupo desses, chama a atenção de todos. Muitas pessoas levaram cestas básicas e mostram muita solidariedade com o grupo de forma totalmente espontânea -- o que foi muito bonito. Desde o empregador, que tem sido muito parceiro para que todos se adaptem rapidamente, até os agentes de saúde local, servidores do SUS e da rede de Educação, que estão dando todas as condições para esta integração", explica.
Julia também organizou um passeio para levá-los até a cidade vizinha de Timbé do Sul, no último final de semana, para que eles pudessem conhecer as belezas naturais da região. "Eles gostaram muito e estão gratos por toda a recepção. De fato, querem aproveitar essa oportunidade para crescer e colaborar com a cidade", avalia.
A articuladora local da AVSI Brasil em Santa Catarina, Gabriela dos Anjos Duarte, também destaca o envolvimento da comunidade local. " A cidade foi muito solidária. Antes mesmo da chegada deles, muitas pessoas já estavam mobilizadas para ajudar. Desde o aluguel das casas até o atendimento no CRAS e o próprio comércio local. Uma loja, facilitou as condições para a aquisição de bicicletas, para uma locomoção mais acessível. Outro exemplo são os colaboradores da empresa, que ajudam com informações sobre a cidade. O grupo também é muito unido. Eles estão morando perto entre si e se ajudam bastante. Um deles, domina o idioma português e propôs alguns horários de estudo para ensinar o idioma para o restante do grupo", explica.
O projeto
Idealizado pela Fundação AVSI e implementado pela AVSI Brasil e Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), o projeto Acolhidos por meio do trabalho tem o envolvimento da AVSI-USA e conta com financiamento do Departamento de População, Refugiados e Migração do Governo dos EUA, para fortalecer as ações da força-tarefa humanitária da Operação Acolhida. O projeto conta com o apoio institucional da Casa Civil da Presidência da República, da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR); Organização Internacional para as Migrações (OIM), Rede Brasil do Pacto Global e de entidades da sociedade civil que atuam na temática do refúgio e da migração.
O Acolhidos por meio do trabalho também atua com brasileiros em situação de vulnerabilidade. Na região Nordeste do Brasil, desenvolve iniciativas específicas em Salvador (BA), onde implementa cursos de capacitação profissional, com certificados para pessoas a partir de 15 anos e também prospecta vagas de emprego para quem conclui os cursos.