O prefeito Clésio Salvaro (PSDB) bateu forte na condução que o governador Carlos Moisés (PSL) está fazendo durante a pandemia de Covid-19 em Santa Catarina. Ele mandou o recado via deputados estaduais durante reunião na Associação Empresarial de Criciúma (Acic), na manhã desta sexta-feira, 17. Salvaro quer autonomia aos municípios em relação ao Estado para tomar decisões, e chegou a anunciar uma intenção de processar o Estado por conta da questão hospitalar.
"Queria pedir aos deputados para convencer o governador deixar os prefeitos tomar decisões pelas cidades, quem sabe o que acontece na cidade é o prefeito, é quem vive nela, não é o governador que está encastelado no Palácio cercado por quatro ou cinco pessoas para decidir os rumos de uma cidade, do Estado", apontou. "É o único pedido que faço, que transfira aos prefeitos e com toda a nossa responsabilidade da vigilância, a responsabilidade de poder decidir o destino do povo. Comigo a gente se acerta", afirmou Salvaro, citando os deputados Jessé Lopes (PSL), Luiz Fernando Vampiro (MDB) e Rodrigo Minotto (PDT), que acompanhavam a manifestação.
As críticas ao Governo do Estado foram além. "O poder público municipal não gastou mais de R$ 5 milhões no combate ao coronavírus, isso incluindo os Centros de Triagem, as limpezas das ruas, os testes rápidos, o hospital de retaguarda do Rio Maina, mas o prejuízo na arrecadação é significativo. O Governo Federal já mandou muito mais dinheiro que o que gastamos. Mas o Governo do Estado não demonstrou um sinal de apoio a não ser criar medidas restritivas, o que é lamentável", disparou. E foi além, criticando o governador. "Chamou para si toda uma responsabilidade, como se fosse o prefeito dos prefeitos, como se pudesse decidir a vida dos 295 municípios que nós temos, e eu já fui deputado, já estive dez anos naquela Casa, nunca vi algo parecido", criticou.
Salvaro lembrou a relação que os municípios mantinham com os governadores Luiz Henrique da Silveira e Leonel Pavan em 2010, quando da epidemia de H1N1. "Em 2010, na H1N1, também passamos por isso, mas tinha um governador de diálogo, que a gente discutia, os municípios tinham autonomia, poder para decidir assim como fez agora o Ratinho Júnior no Paraná, o Eduardo Leite no Rio Grande do Sul, e esse é o pedido que faço. Que levem ao nosso governador, que transfira para os municípios decidir o destino do seu povo", apontou. "É claro que ninguém vai querer colocar em risco a vida das pessoas. As medidas de contingenciamento, de restrições, de higienização, elas serão outras. A volta à normalidade, sim, gradativamente mas com costumes diferentes, uma nova cultura, um novo jeito de poder trabalhar", reforçou o prefeito.
Processar o Estado
Ele apontou, ainda, que com todas as medidas que estão sendo tomadas, Criciúma deverá fechar 2020 com menos óbitos que em anos anteriores. "Acredito que esse ano, pelo cuidado que estamos tendo, vamos diminuir, teremos menos de 100 pessoas mortas por mês, por todas as doenças. As pessoas não morrem só de Covid-19, morrem de câncer, acidente, AVC, infarto, o coronavírus vai matar algumas pessoas, e temos que lutar de todas as formas para evitar isto", registrou.
Salvaro antecipou uma ideia de processar o Governo do Estado. "Não pode os hospitais estando com 60% de sua capacidade ociosa, como estão agora. O município pensa em processar o Estado pois suspender as cirurgias eletivas sem um critério absoluto, para os hospitais para esperar as pessoas com coronavírus. E as outras pessoas, das cirurgias eletivas programadas? Que estão morrendo. A UTI está lá vazia, aguardando chegar alguém com vírus. São critérios que precisam ser melhor estudados", reforçou. "Temos que enfrentar e vencer esse vírus, e não nos acovardar como estamos. Ninguém quer colocar em risco a vida das pessoas, sob hipótese alguma. A responsabilidade é muito grande", destacou o prefeito.
Estados x municípios
A recente decisão do Supremo Tribunal Federal, confirmando a força dos decretos estaduais perante os municipais, também foi criticada por Salvaro. "Preciso dizer que acompanhei muito atentamente a sessão do Supremo Tribunal Federal que discutiu em plenário as competências. Lamentavelmente a decisão do STF ainda diz que o que vale sim é o decreto do governador e os prefeitos podem criar medidas mais restritivas, o que jamais farei", comentou.
A certa altura da reunião, Salvaro reforçou aos empresários que reclamavam o direito de trabalhar que, dependendo dos decretos municipais, eles já poderiam trabalhar. "Eu afirmo aqui, não há decreto que os proíba de tocar suas atividades, acabou. O decreto do poder público municipal terminou dia 6, do dia 6 para cá, tudo pode por conta do nosso decreto", finalizou.
Ouça, no podcast, a fala do prefeito durante a reunião na Acic: