A Serra do Rio do Rastro, considerada uma das estradas mais fantásticas do mundo, atrai milhares de turistas todos os anos à região de Lauro Müller, cidade à qual pertence, e aos municípios vizinhos. Mas não são apenas os apreciadores da natureza que percorrem as mais de 250 curvas da SC-390 diariamente, a rodovia é também utilizada por caminhoneiros que fazem o percurso entre litoral e serra catarinense, levando os mais variados tipos de produtos.
Esse transporte, porém, está impossibilitado de ser feito desde a noite do dia 4 de fevereiro, quando o trecho de aproximadamente 25 quilômetros foi interditado pela Defesa Civil Estadual após a constatação de rachaduras na pista.
Depois de obras emergenciais realizadas no local, a pista foi novamente liberada na quinta-feira da semana passada, porém com restrição de tráfego. Segundo determinação do Governo do Estado, atualmente só passam pela rodovia veículos de passeio, motocicletas, ônibus e caminhões de um eixo com até seis toneladas.
Da mesma forma, um caminho alternativo, que é a Serra do Corvo Branco (SC-370), também estava interditado por problemas de deslizamentos, recebeu melhorias e foi liberado após quase 30 dias, mas também com a restrição de tráfego.
Excluídos do processo, os caminhões grandes que utilizavam os trechos, principalmente a SC-390, estão há mais de 10 dias utilizando o único caminho possível entre Sul e serra, que é seguir via BR-101 e pegar a BR-282 na altura de Santo Amaro da Imperatriz, próximo a Florianópolis. O trajeto acrescenta mais de 300 quilômetros à viagem e a situação vem causando prejuízos ao setor.
“Os nossos associados que utilizam aquele percurso estão nos ligando e comentando sobre a dificuldade. É claro que é uma decisão que foi tomada por uma necessidade, mas o custo fica muito mais alto, já que aumenta mais de 200 quilômetros para ir do Sul ao Oeste”, comenta o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes e Cargas e Logística do Sul de Santa Catarina (Setransc), Lorisvaldo Piuco.
Dificuldade de negociação
Diante desse cenário, o movimento comum é o aumento no valor do frete e dos próprios produtos transportados, entretanto, a negociação nesse sentido não tem sido simples. “As empresas estão com sérias dificuldades em negociar com os clientes esse custo a mais. E os clientes também têm os clientes deles, então fica difícil repassar esse valor”, afirma.
“Essa interdição tem sido um castigo grande tanto por causa do custo quanto por causa do tempo a mais que está levando para se chegar ao destino. Os clientes reclamam do preço que aumentou e da demora também”, complementa Piuco.
Ainda que a Serra do Corvo Branco fosse liberada para o tráfego de caminhões pesados, segundo o presidente do Setransc, ela não seria uma opção. “Transporte de cargas por ali é inviável, as curvas são muito fechadas, muito estreitas, não tem como utilizar aquele trecho”, comenta.
Lauro Müller sente os efeitos
Acompanhando a situação desde o início, o prefeito de Lauro Müller, Valdir Fontanella, relata os efeitos que a cidade vem sofrendo com a restrição. “Para o município, é catastrófico. Muitos materiais não produzidos na serra são buscados no litoral. Já as frutas, por exemplo, são transportadas da serra para o litoral, isso tudo via SC-390”, afirma o prefeito.
“Essa interdição nos causa muitos transtornos e acaba tornando inviável o transporte. Tem que ir até Morro da Fumaça, depois Florianópolis, BR-282, depois Bom Jardim da Serra, encarece muito”, complementa.
Sem previsão
A Defesa Civil Estadual não deu uma previsão de quanto tempo permanecerá a restrição, nem mesmo se ela será revogada em algum momento. “Como prefeito, eu gostaria de pedir aos órgãos estaduais para que possamos achar uma solução para restaurar os pontos críticos e retomar o tráfego dos caminhões no local”, declara.
Além de prefeito, Fontanella é empresário do setor de transportes e primeiro vice-presidente do Setransc. “Hoje, o transporte de Lauro Müller para Bom Jardim da Serra fica inviável, deixa de ser interessante para o mercado”, conta. “Tem muita gente me procurando para falar sobre isso, mas as minhas mãos estão atadas, não é o Município quem decide isso”, relata.
Esse tema será um dos debatidos na próxima segunda-feira, em Florianópolis, durante reunião da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de Santa Catarina (Fetrancesc). “Temos essa reunião da federação, em Florianópolis, e já vamos aproveitar para definir estratégias sobre o que fazer a respeito dessa situação”, comenta Piuco.
A restrição chega em um momento em que as empresas do setor começam a se reerguer após a crise em 2018 durante a greve nacional dos caminhoneiros. “O transportador é criativo, ele vai achando um jeito de sobreviver, mas sempre com dificuldades”, pontua o presidente do Setransc.