Década de 1980. Um bilhete chega à mesa de Pedro Barcelos. Nele, um recado objetivo: articular a parte estrutural de uma nova rádio que surgia em Criciúma. A mensagem, escrita a próprio punho, era de Evaldo Stopassoli, um dos diretores da Cecrisa. A rádio era a Som Maior.
Barcelos correu contra o tempo, fez o que precisava, e no dia 4 de junho de 1987, o pedido de Stopassoli era atendido em sua integralidade. A segunda FM da região estava no ar. “Neste papel, ele me comunicava que havia uma rádio por ser montada e que o resto era tudo comigo. Ou seja, programação, comercialização, e tudo que tem em uma emissora de rádio. Acompanhamos toda a montagem dos aparelhos e o primeiro estúdio foi no Morro Cechinel, no prédio que abrigava a TV Eldorado e as demais rádios da rede”, fala Barcelos.
Esta rede que ele fala é a RCE, que tinha entre seus veículos a rádio e TV Eldorado, a Rádio Araranguá, a Hulha Negra, entre outras. A Som Maior, em sua origem, possuía, somente programação gravada. “Na época, quando a concessão foi oficializada, a Som Maior era musical com perfil adulto, fez uma cópia da Guaíba que não vingou pela parte comercial, pela dificuldade de se comercializar, então começamos a pensar em uma alteração rapidamente. Passou a uma programação enlatada e depois alguma ao vivo e hoje é totalmente diferente, com jornalismo”, conta.
No áudio, Pedro Barcelos e a sua relação com a Som Maior:
Adelor Lessa
Em 1998 a emissora foi arrendada ao jornalista Adelor Lessa que após uma pesquisa de mercado alterou a programação e passou a retransmitir a programação da Rede Band FM, de São Paulo. A emissora foi líder em audiência durante todo o período em que foi retransmitida pela frequência 100.7. “A minha relação com a Som Maior começou quando eu aluguei a Rádio Eldorado e a FM da época que era a Jovem Pan, há 24 anos. Quando coloquei a bandeira Band FM”, cita.
Em 11 de setembro de 2003, a rádio foi adquirida por Lessa e pelo empresário Beto Colombo. A oportunidade de adquirir o veículo, a negociação e a definição da programação são recordadas por Colombo. “Era uma época de incerteza política. Alguns políticos querendo comprar as rádios todas e parecia que não ia ter nenhum veículo de comunicação que era livre de influências políticas. E o Adelor apareceu com a ideia de comprar a Som Maior, que tinha a bandeira da Band FM. Eu pensei, legal, mas o que vamos fazer com uma FM? Vamos comprar, depois a gente vê o que faz”, relata.
Com isso, a dupla foi a São Paulo, na sede da Band FM para falar de suas intenções. “Falaram que não dava para fazer programa local, então estávamos nós no carro, fiquei ouvindo ele dizendo que ouvia a Antena 1 e a Alfa FM. Depois disso nos deixou no hotel e eu falei para o Adelor: ‘vamos fazer uma rádio para nós. Para nós escutarmos’. Daí decidimos ir na Antena 1 e as coisas foram se encaminhando, dando certo. Abriram exceção para colocar a rádio mista em Criciúma. Fizemos um planejamento de fazer uma rádio em favor da cidade, um programa jornalístico de manhã, um debate ao meio dia, um programa no final da tarde, das 18h às 19h e um programa de mulheres das 17h às 18h. Voltamos com a estratégia montada e eu pensei: ‘agora é colocar no papel e fazer acontecer’. Assim nasceu a Som Maior”, conta.
Conexão com a região
A definição da programação veio após uma pesquisa contratada junto à Unesc. Nas ruas de Criciúma, os pesquisadores queriam saber se as pessoas ouviam rádio e o que lhes faria ouvir uma emissora. “A conclusão é que deveria ter música de qualidade e informações em momentos específicos. Com programa de jornalismo de manhã, debate ao meio dia e um balanço no fim do dia. Assim ficou desenhada a programação que colocamos no ar na época. O programa que eu apresentava na Eldorado veio para a Som Maior, porque a pesquisa mostrou que queria aquele e indicou o meu nome. Ao meio-dia um debate comandado pelo João Nassif e o balanço de informações apresentado pelo Nassif e pelo Jaafar Omari. Então colocamos um novo perfil de rádio, aproveitando um nicho de mercado que estava aberto e que foi apontado pela pesquisa”, destaca Adelor Lessa.
Avesso para alguns, caminho certo para outros
Entre questionamentos de alguns, a Som Maior foi ganhando espaço e se destacando de forma relâmpago. “Muitas pessoas questionavam como iríamos fazer jornalismo em FM e até se tínhamos autorização para isso. Aqui não era costume, lá fora já era. Mesmo assim, algumas pessoas ficaram em dúvida. Tudo foi tão bem montado que em poucos meses a rádio conquistou a liderança de audiência no seu segmento. Em seguida tivemos cobertura da eleição, que fomos muito bem, e este modelo seguiu por um bom tempo”, lembra Lessa, que depois de alguns anos se afastou da Som Maior para cuidar da sua rádio em Tubarão, mas este era apenas um capítulo de sua relação com a 100,7, que teria continuidade pouco tempo depois.
Beto salienta que a parceria com o jornalista foi de muito sucesso. “Ficamos dez anos juntos, foi uma parceria que deu certo. Às vezes vemos pessoas que ficaram 15 anos casados e separam dizendo que não deu certo. Claro que deu certo. Por 15 anos deu certo e na sociedade é a mesma coisa. Saímos numa boa. Fiquei muito triste de sair do ramo do rádio, mas decidi que não queria ser mais empresário e o CEO apareceu no conselho com o projeto que a comunicação não era o nosso negócio e o conselho voltou para que a gente vendesse, apareceu o Anselmo que queria comprar, apareceram igrejas querendo comprar, alugar, mas eu pensava que ia descaracterizar algo que deu tão certo e eu não quis fazer isso por causa de dinheiro. Deu certo comigo e com o Adelor, porque não daria para o Anselmo. Assim sai do mundo do rádio”, menciona.
Beto Colombo relata os desafios e conquistas no período em que foi sócio da Som Maior:
Pontos que se cruzam
Dezembro, mês de calor que pede praia. Adelor Lessa estava aproveitando para descansar durante as suas férias em Arroio do Silva quando o telefone toca. Do outro lado da linha, o empresário Anselmo Freitas solicita uma conversa urgente e pessoalmente. Adelor deixa o balneário no Extremo Sul rumo a Criciúma. No escritório do empresário, a proposta. “Eu falei que queria vender a rádio e o jornal (Tribuna do Dia). Dali para a frente começamos a trabalhar algumas situações. Eu pensei em vender para o Adelor, tinha outras alternativas como alugar a rádio, mas para termos o Adelor no ar até hoje. Fizemos esta negociação. Estou feliz com o que fiz lá atrás. Foi ótimo para mim, para o Adelor e nossas famílias. Eu queria fazer um grupo de comunicação, mas não entendia muito de comunicação”, fala Freitas.
A Som Maior chegou às mãos do empresário, que hoje é presidente do Criciúma E.C. nove anos antes, em 2005, quando Beto Colombo e o próprio Adelor Lessa o procuraram para vender cotas do jornal Tribuna do Dia. “Em determinado momento vimos que era difícil gerir (o jornal) com tantos cotistas e propomos a compra, eu ficando de sócio majoritário. Com a aquisição do jornal, comecei a pensar em fazer um grupo de comunicação. Pensei em rádio, TV, lançamos revista. Conversei com o Adelor que estava saindo da Som Maior e o convidei para trabalhar na Hulha Negra, que havíamos comprado. A Hulha Negra passou a ter outros públicos, dando oportunidade para outros anunciantes, mas vimos que o sinal não estava bom, compramos um transmissor novo, fizemos de tudo para a rádio melhorar o sinal. Então decidimos comprar uma FM, porque AM estava difícil de sinal. Tentamos várias alternativas, até que chegou um momento que eu e o Beto Colombo fizemos a negociação na véspera de Natal de 2013. Conseguimos linkar o programa do Adelor à rádio de Tubarão e o programa ia para toda a região e aqui tínhamos a Hulha Negra que transmitia com a Som Maior. Íamos para todo o Sul em todas as classes”, comenta.
Anselmo Freitas conta a sua história com a rádio:
O programa que leva o nome de Adelor Lessa é o carro-chefe da Som Maior. A programação conta ainda com os programas Conexão Sul, transmitido entre os estúdios de Criciúma e Araranguá; Chega Mais; Direto da Redação; Som Maior Esportes; 60 Minutos; Avesso; Som Maior Brasil, uma programação musical com músicas nacionais durante três horas; Ponto a Ponto e Ponto Final. Programas que fazem da Som Maior a líder de audiência em seu segmento. “Hoje, por exigência do público, a rádio alargou a programação de informação. No início, a face da rádio era programação musical com informação, hoje é face de informação com música. A minha relação com a Som Maior é de mais de 20 anos. Uma relação agradável e sólida”, enfatiza Lessa.
Um timaço de profissionais
O jornalista, Denis Luciano teve duas passagens pela Rádio Som Maior e deixou o seu nome gravado na história da emissora. A primeira, ele recorda, foi em 2013, na ocasião, uma enorme missão como ele mesmo fala. “Fui a convite do empresário Beto Colombo, à época o proprietário, para substituir o insubstituível Adelor Lessa. Naquela época, nossos ouvintes lembram, o Adelor migrou por um período para a Rádio Hulha Negra e eu fui com o Nei Manique e a Simone Costa tocar uma nova proposta para o horário. Não foi fácil. A Som Maior é uma marca forte, foi uma experiência incrível, mas o peso do Adelor e a identificação dele com a Som Maior são inquestionáveis. Foi um período curto mas que me permitiu uma maturidade no mercado regional, pois me fez colocar os dois pés de fato num campo adiante do futebol, até então a matriz do meu trabalho”, destaca.
Depois de cinco anos, em 2018, Denis Luciano retorna ao 100,7. “Foi em fevereiro de 2018. De novo, um outro ciclo que, como o anterior, fez a diferença na minha vida. Vim para ser repórter, setorista do Criciúma na Rádio Som Maior e no jornal A Tribuna. Viajei o estado e o Brasil com o Criciúma, vivi a rotina do Tigre, fiz uma incursão pelos bastidores do Criciúma como nunca. Relembrei os tempos de setorista do Grêmio que fui em Porto Alegre, na Rádio Guaíba. Foi incrível. Em seguida, tive a oportunidade de me tornar editor do Jornal A Tribuna e, depois, do 4oito. E nesse meio tempo fiz parte da equipe que inaugurou o Timaço, a nova proposta esportiva da Som Maior, que segue no ar. Logo, minhas duas fases na Som Maior, que somam quatro anos, fizeram a diferença na minha trajetória profissional de 26 anos”, afirma.
“O fazer diferente”
O jornalista conta que fez parte pela Faculdade Satc de grupos de pesquisa sobre a história do rádio em Criciúma e a Som Maior sempre carregou a marca do fazer diferente. “Nasceu musical com a ênfase em um estilo musical e de apresentação sóbria que fazia sucesso nos grandes centros e foi trazido para cá pela Som Maior. Anos depois, quando vem o ingresso no jornalismo em FM, fez de novo a diferença, consolidando uma tendência, novamente buscada dos grandes centros, que hoje é comum e recorrente, mas que no seu tempo, de colocar notícia entre as músicas no FM, fez diferença. Nesse embalo, a Som Maior lançou as grandes coberturas em FM, ganhando um espaço que antecipou, para o mercado regional, um ciclo que hoje é dominante. Ousou quando lançou o Futebol em Dobro, à época em parceria com a Rádio Difusora de Içara, colocando o futebol, que era um produto AM para o nosso público, na qualidade do FM, e com tanto sucesso que forçou a concorrência do AM a fazer o caminho inverso rapidamente. Algumas das provas da vanguarda da Som Maior no passar do tempo”, observa.
A paixão do criciumense também nas ondas da Som Maior
Nasceuuuuu!!! Ééééééé Tricolor!!! Qual torcedor do Criciúma, ou até mesmo quem não é tão torcedor assim, mas que já ouviu a transmissão de algum jogo, não identifica este bordão? Desde 2019, ele é propagado pelas ondas da Rádio Som Maior pelo narrador, Mário Lima.
Mário narra desde 1974, bem antes do surgimento da Som Maior e hoje levar as emoções das conquistas do Tigre pela emissora é motivo de orgulho para ele. “A Som Maior é exemplo de boa gestão, de ousadia. Sempre acompanhei o trabalho mesmo quando eu estava morando em outros locais. É uma proposta mais centrada, trabalha muito bem no segmento da política da região e do estado, tem um público muito fiel, tem um belo som, uma bela estrutura e ótimos profissionais”, enfatiza.
Mário Lima forma um verdadeiro Timaço na transmissão dos jogos. “Eu havia saído da Rádio Eldorado e da Guaíba, então eu, o Denis Luciano, o João Nassif e o Jota Éder nos reunimos no centro da cidade para um café com uma proposta, apresentamos para o Adelor e iniciamos o Timaço”, relata.
A segunda vez que Mário Lima veio atuar em Criciúma foi a convite de Adelor Lessa. A primeira vez, por intermédio de João Nassif, justamente ao lado de quem ele senta atualmente para as transmissões das partidas.
A história do comentarista João Nassif com o microfone da Som Maior tem começo em 2004, quando os sócios Adelor Lessa e Beto Colombo o convidaram. “Fui para ser âncora do debate e fazer um comentário no Programa do Adelor, era só o que tínhamos no esporte. Em 2009 foi feita a parceria com a Difusora e surgiu o Futebol em Dobro. Como a Som Maior só tinha eu como profissional do futebol, era a equipe da Difusora comigo como comentarista. Neste meio tempo a rádio foi vendida. O Adelor saiu, o Beto vendeu para o Anselmo. Em 2014 sai, fiquei um tempo fora, voltando em 2017 para fazer os jogos no Heriberto Hülse, entrei com o Almanaque da Copa, fazendo uma regressiva do Mundial de 2018. Depois, criamos o Timaço. São 14 anos de Som Maior. Sou parceiro do Adelor há muito tempo, uma parceria muito salutar, sempre com respeito, por isso dura por tanto tempo”, enfatiza.
Ponto final? Não!
A tecnologia chegou para mudar o mundo e com a comunicação não é diferente. E a Som Maior soube se adaptar muito bem a ela. Exemplo foi o surgimento do portal de notícias 4oito, em agosto de 2017.
Para Adelor, a tecnologia significa muito. “Tudo veio de uma forma avassaladora e tivemos que nos adequar, mas principalmente a grande contribuição para o produto da rádio é a possibilidade de interação com os ouvintes. A rádio sempre foi muito unilateral, e com os instrumentos da tecnologia isso se tornou uma via de duas mãos. A gente fala e instantemente tem o retorno e isso é um balizador, para onde está soprando o vento, indica como a rádio está, o que as pessoas querem ouvir. Eu prezo tanto isso que uso o meu celular pessoal no programa porque é como eu sei como as pessoas estão reagindo. É o meu ‘DataLessa’ que me mostra a relação dos ouvintes. Com isso nasceu o 4oito, ideia do Arthur Lessa que projetou, desenvolveu, discutimos bastante e colocamos no ar. Depois vieram outras alternativas, outros projetos que a gente tem”, destaca.
Jornalista Adelor Lessa fala de sua relação com a Som Maior, que já dura mais de 20 anos:
O jornalista compara a Som Maior ao sol e cita Adoniran Barbosa para explicar que a emissora é o centro e o que surge no grupo de comunicação está em seu entorno. ‘É a lâmpada e as mariposas estão em volta’.”
Em outubro de 2020, mais uma novidade: o jornal semanal Toda Sexta é criado e passa a fazer parte do grupo de notícias. “A gente não para nunca. Iniciamos com uma rádio musical com três momentos de informações. Hoje estamos com uma rádio de informação com poucos espaços de música e temos muitas ideias para colocar no ar. Só que procuramos amadurecer primeiro para depois lançar. Fizemos pesquisas permanentes para manter a sintonia com a voz das ruas. Temos pesquisas que indicam o que mudar e o que trazer de novo. Neste fizemos mudanças importantes na programação e temos outras em vista. Tem que estar sempre mudando, melhorando. O rádio é fantástico, dinâmico, vivo e instantâneo”, afirma.
Adelor expõe a sua visão sobre a importância da Som Maior para a região ao longo dos anos. “A rádio contribui muito. Procuramos como linha editorial sustentar e levantar as bandeiras de interesse da cidade, seja obra atrasada, encaminhamento de projetos que precisam ser discutidos ou manifestar o desejo de uma parcela da sociedade. Tenho este entendimento e é para isso que a gente trabalha. Para provocar debates e soluções, estimular a unidade em torno de bandeiras comuns. O nosso propósito é estar à disposição da sociedade e penso que temos contribuído com a cidade”, conclui.