A suspensão de quatro deputados pelo PSL catarinense refletirá com força na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). Não só na bancada, mas ocasionará alterações nas comissões permanentes, liderança do partido na Casa e ainda na composição da CPI dos Respiradores.
Em uma live de cerca de 20 minutos, o deputado estadual criciumense Jessé Lopes (PSL) comentou a decisão do partido em suspender por sete meses, quatro dos seis parlamentares da sigla. Além de Lopes, Ana Caroline Campagnolo, Felipe Estevão e Sargento Lima tiveram a suspensão decretada em reunião do partido comandada pelo presidente estadual, Fábio Schiochet.
Agora eles podem recorrer, mas a suspensão inclui todas as participações do quarteto na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), inclusive nas comissões permanentes e na CPI dos Respiradores, que tem Sargento Lima como presidente e Felipe Estevão como membro. Só não foram suspensos os deputados Ricardo Alba e Odair Mocelin.
“Vamos recorrer dessa decisão porque hoje estou no PSL. Este partido não me representa, mas estou no PSL. Enquanto eu estiver aqui não vou deixar que coisas erradas aconteçam. Cheguei aqui por causa do Bolsonaro, por causa das ideias que eu defendia que eram compatíveis com a dele. Agora não vou poder defender porque é incompatível com as novas ideias do PSL. Não tem condições de fazer isso e não vou me calar, deixar que isso me intimide”, comenta Jessé Lopes, acrescentando que os quatro deputados irão recorres. “Vamos recorrer ao PSL nacional, mesmo sabendo que é pouco provável que vamos ganhar, porque a gente sabe do alinhamento do governo, PSL estadual e PSL nacional que são contra os deputados federais e estaduais alinhados ao Bolsonaro. Mas vamos recorrer porque temos que lutar pela nossa voz, a voz de vocês”, salientou durante a transmissão ao vivo realizada em suas redes sociais.
Mudança nas comissões permanentes e na CPI dos Respiradores
Outra mudança que a decisão irá gerar é na liderança do partido na Alesc que hoje é de Sargento Lima. “Mudamos a liderança que era o Alba. Ficamos quatro deputados contra dois, cada um por seus motivos. Sargento Lima fez uma nova diretoria da liderança bem mais técnica, democraticamente. Agora temos uma liderança que trabalha e corremos o risco de perder. Se a intenção do governador é realmente prejudicar as nossas ações aqui nas comissões, tirando nós destas comissões e colocando alguém mais alinhado ao governo, eles têm a ganhar com isso.
E tem a CPI que é a coisa mais importante que está acontecendo agora e que tem o Sargento Lima na presidência. Pode ser alterado esses integrantes colocando alguém mais alinhado ao governo.
A chance de terem atropelado e, inexplicavelmente, fazendo isso em plena pandemia, plena CPI, pleno pedido de impeachment nos remete que querem nos calar, nos tirar do jogo e colocar pessoas mais alinhadas a eles”, enfatiza.
Lopes ainda lembrou que, por ser líder do PSL na Assembleia, Sargento Lima deveria ter sido chamado para as reuniões que trataram do assunto. “O líder do partido na Alesc é o Sargento Lima e deveria ser convidado para todas as reuniões no que diz respeito a toda esta tramitação. Nunca foi chamado. Nunca foi ouvido. Sempre foi resolvido monocraticamente. É a Comissão de ética do partido mais antiética que tem. É uma comissão do PSL composto por pessoas do PSDB, já tem uma tendência grande para dar uma resposta de que não seria julgado, mas condenar. De alguma forma iriam chegar nesta suspensão. Foi tudo um circo para me punir”, critica o parlamentar.
Manifestação de parlamantares
Também alinhado com o presidente da República, Jair Bolsonaro, assim como os parlamentares suspensos, o deputado federal Daniel Freitas (PSL), também criticou a decisão. “Meu apoio total aos deputados Felipe Estêvão, Jessé Lopes, Ana Caroline Campagnolo e Sargento Lima, que, numa decisão radical, foram suspensos do PSL de Santa Catarina. Um ato extremamente desnecessário justamente quando o estado passa por uma gravíssima crise política. É inadmissível que um partido, conduzido pela emoção e não pela razão, simplesmente suspenda quatro excelentes parlamentares no meio de uma pandemia. É inegável que todos os quatro são extremamente participativos e que seus eleitores contam com suas presenças frente à política estadual. Privá-los disso por puro anseio pessoal é antidemocrático e autoritário. Enfim, torço para que a Casa não compactue e barre esta suspensão. Deputados, contem comigo”, escreveu em suas redes sociais.
Assim como Jessé Lopes, o deputado Sargento Lima se manifestou sobre a decisão. Ele cita que lhe causa estranheza o momento em que esta decisão foi tomada. “Justamente neste momento que me encontro como presidente da CPI que investiga a compra dos 200 respiradores no valor de R$ 33 milhões, justamente neste momento em meio a essa crise, o PSL de Santa Catarina interpretou que seria uma emergência afastar os seus deputados das atividades parlamentares. O que me causa mais estranheza ainda é que o secretário-geral do partido, o senhor Douglas Borba, ex-chefe da Casa Civil é uma das principiais figuras envolvidas em todo o processo que é objeto de estudo da CPI. Triste para Santa Catarina, triste para os deputados, triste para os eleitores. A pessoa que não tem o menor apreço à vida alheia, pois a pessoa que protela, que trabalha para trazer malefício ao cidadão catarinense, demonstram que não têm o menor apreço a vida humana. Pessoas que em uma situação de emergência no combate a uma moléstia maligna que está ceifando vidas, a única preocupação é suspender os diretos dos deputados. Quem tem coragem de fazer isso tem coragem de fazer qualquer atrocidade”, fala o deputado.