Copa do Mundo de 98, na França.
Aquela da convulsão no Ronalducho.
Mas, aproveitamos bem. Não ficamos só na Copa.
Saímos de Criciúma num grupo de 16.
Alguns já eram amigos, outros foram se conhecendo ao longo da viagem.
Grupo bom, viagem ótima.
No intervalo entre os jogos, sempre entre 3 a 4 dias, aproveitávamos para viajar.
Como tudo é mais ou menos perto, fomos na Italia, Bélgica, Inglaterra, Mônaco e Alemanha.
Um ou dois países por roteiro e voltávamos para o hotel em Paris no dia do jogo.
Depois, pé na estrada de novo.
No roteiro feito pela Itália, subimos no Valle D’aosta. Um lugar inesquecível.
Fica a noroeste da Itália, fronteira com França e Suíça, nos Alpes Ocidentais.
Por todos os lados, picos cobertos de neve.
Chegamos à noite, ninguém conhecia nada do lugar.
Depois de hospedados, arriscamos uma caminhada perto do hotel. Paramos numa pracinha e por ali ficamos apreciando tudo.
Era frio, mas ninguém estava preocupado com isso. O lugar era mágico.
De repente, chega o Plácido com um violão.
Sem “fazer curva”, ele passou a dedilhar e cantar “O Ébrio”, um clássico do cantor Vicente Celestino, da década de 40. Foi um show.
Plácido é bom no violão e canta com emoção.
A musica do Vicente Celestino tem um choro “infiltrado”, porque trata de um caso triste, e ele interpretou maravilhosamente.
Quem ainda não conhecia, ficou sabendo ali (eu, inclusive) que o Plácido, contador dos tradicionais (e mais longevos) da cidade, era também craque na música.
E mostrou isso em muitos encontros, de vários grupos, em momentos distintos.
Mas, ele se superou quando deu uma "luz alta” em ninguém menos que Ivan Lins.
Era um show da Som Maior.
Como Ivan Lins veio um dia antes, aproveitamos para levá-lo em um programa ao vivo, no estúdio.
Quando ele estava saindo, ouviu o Nassif falar com Jairton Manique ao telefone.
Eles tratavam de um jantar mais tarde, na agência de publicidade do Jairton.
Ivan Lins parou, e voltou, quando ouviu o Nassif falar em “paleta de ovelha”.
Nassif desligou o telefone e o Ivan confessou: “faz muito tempo que eu não como uma paleta de ovelha”.
Nassif não titubeou: “Quer ir? Eu te pego no hotel”.
Ivan Lins deu de acordo, ficou combinado, e o Nassif me intimou na sequência: “Agora tu vai, né?”.
Por via das dúvidas, como o seguro morreu de velho, pedi que o Nassif me ligasse quando estivesse saindo do hotel com Ivan Lins.
Eu fui para casa para fazer a coluna para o jornal e fazer ajustes na produção do programa do dia seguinte na rádio.
Na real, não botei muita fé que o Ivan Lins realmente fosse lá.
Afinal de contas, nunca tinha falado com Nassif, nem tinha ideia de quem era o Jairton e, muito menos, do local onde seria "feita" a , ovelha.
Pois, na hora marcada, pontualidade britânica, Nassif avisa: “Estamos saindo do hotel, não te atrasa”.
Acabamos chegando quase juntos.
Lá, estavam outros convidados do Jairton, inclusive o Plácido. Com seu violão.
Mas, inevitável “explorar" Ivan Lins.
Ele, muito querido, rapidamente estava devidamente ambientando, como se fosse amigo de anos de todos.
Quando falaram de uma das suas “consagradas”, ele logo pegou o violão e começou a tocar.
Mas, estava todo mundo tão à vontade, que o Plácido, sentando ao lado do Ivan, ouviu os primeiros acordes e interrompeu.
“Não é assim, está fora do tom, me dá o violão que eu vou mostrar como é”.
Detalhe: era o Ivan Lins tocando uma musica dele, Ivan Lins. Que o Plácido não deixou porque entendeu que ele, Ivan Lins, autor da musica, que tocava. Em todos os shows fazia 30 anos, estava desafinado!