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O mundo descobriu o crediário

Por Arthur Lessa Edição 15/07/2022
Foto: Divulgação
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Que as tecnologias financeiras estão evoluindo numa velocidade vertiginosa, não é segredo pra ninguém. Parece que a cada dia surge uma nova maneira de pagar e receber dinheiro. Por vezes, nem é dinheiro, mas créditos, pontos, tokens, criptoativos…

Alguns desses novos modelos de transação dão aquela sensação de “como não pensei nisso antes?”, enquanto outras trazem aquele deja vu de “já vi isso em algum lugar…”. E é sobre esse segundo sentimento que vou tratar.

Buy Now, Pay Later. Ou BNPL.

Uma das inovações da pandemia, que vem se espalhando rapidamente pelo mundo, é o Buy Now, Pay Later (Compre agora, Pague Depois, na tradução direta). Nesse método de pagamento, voltado principalmente para pessoas sem vínculo com instituições bancárias, o cliente compra um produto e, após a confirmação de alguns dados, recebe uma lista de opções de parcelamento sem juros, com uma entrada e o pagamento do restante em um período entre 30 dias e 12 meses, por transferência bancária, pix, cartão de crédito ou débito.

O único cuidado importante nesse modelo é não atrasar o pagamento das parcelas, correndo o risco de multas e juros.

Familiar, não? Pois é…

Esse tipo de negociação pode até ser novidade nos países mais desenvolvidos, principalmente os europeus. Mas no Brasil o que mais se faz é parcelar as compras. Em 2022, com tantas opções de contas digitais, praticamente todos tem um cartão. Mas anos atrás o que mandava nos parcelamentos sem juros era o crediário, com seus intermináveis carnês (chamados carinhosamente de “carneirinho”)!

Mas por que só agora?

Uma das forças que mais modela o mundo é a cultura. Na dinâmica de consumo, não é diferente. É bastante que um brasileiro, ao fazer compras numa loja de roupas, por exemplo, pedir para parcelar o valor. É quase automático! Eu já fiz isso numa viagem. E a experiência foi interessante.

Eu estava numa Zara, em Londres, comprei um casaco e, com toda a naturalidade, perguntei para a atendente de caixa se podia parcelar a compra. Ela me olhou com a mesma cara de confusão que faria se eu perguntasse se podia pagar com uma nota de R$ 100. Até hoje não sei se o sistema da loja tinha esse recurso. Sei que, se tinha, ela não sabia.

Lá, assim como em outros países da Zona do Euro, também nos Estados Unidos, parcelar o pagamento é feito por meio de financiamento, e em compras de valores altos, como um carro, uma casa ou algo do tipo.

A diferença entre o financiamento, o parcelamento no cartão de crédito e o crediário (ou o “novo” BNPL) é o seguinte:

Financiamento envolve um empréstimo. Ou seja, você pega um empréstimo numa financeira, cria uma dívida com essa instituição e usa esse dinheiro para adquirir o bem (que fica em garantia da dívida). A sua relação financeira com a loja se encerra ali. Por conta dessa garantia, possibilita operações com altos valores.

Parcelamento no cartão de crédito é semelhante, também mantém a relação de crédito entre comprador e financeira. mas o bem não fica em garantia da dívida. Por conta disso há limite de compras e altos juros em caso de atrasos e inadimplências.

Crediário/ BNPL mantém a relação entre o comprador e o vendedor, eliminando o intermediário financeiro, cedendo crédito ao cliente e, assim, assumindo um risco muito maior. Demorou para aparecer em outras economias por conta do poder de compra de bens de consumo em economias mais desenvolvidas ser muito maior (enquanto serviços são mais caros nesses cenários). Já no Brasil, se não houvesse o crediário e os parcelamentos, mobiliar uma casa seria financeiramente impossível para 99% das famílias.

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