Tv Eldorado de Criciúma foi colocada no ar em 1979. Aderbal Machado estava lá.
A sua carteira de trabalho foi assinada em maio de 1979.
Radialista e jornalista, ele foi desafiado a colocar o jornalismo no ar. Até ali, ele só conhecia tv por assistir. Só tinha trabalhado em emissoras de rádio. Não fez curso, não tinha os equipamentos básicos necessários, mas sobrava coragem e vontade de fazer.
Foi na cara e na coragem. E se fez um ícone da comunicação.
Aderbal foi o primeiro “âncora" da televisão catarinense. Apresentava o telejornal e comentava as notícias. Saia daquele modelo quase mecânico, onde o apresentador é um mero “leitor” de notícias.
Por isso, se fez conhecido (e reconhecido) em todo o estado.
Além disso, foi um grande formador e comandante de equipe. Fez de um advogado o editor dos telejornais (dos melhores do estado, por sinal). O motorista de ônibus virou cinegrafista. E recrutou alguns jovens jornalistas.
Um ano depois de ele ter colocado a Tv Eldorado no ar, nos encontramos no ônibus de Criciúma para Araranguá. Eu trabalhava na sucursal do jornal O Estado.
Ele sentou ao meu lado e não fez “rodeio”: “guri, vem trabalhar conosco; se quiser, começa amanhã”.
Não pensei duas vezes.
Foi uma escola.
O programa “Nomes e Marcas” deste sábado, na Rádio Som Maior, será com Aderbal.
Gravei no início da semana e rimos muitos de passagens da época. Depois, ficamos trocando mensagens lembrando de outras tantas.
Porque além de um belo trabalho profissional, que orgulha a todos da época, tínhamos uma relação pessoal muito fraterna. Aderbal era comandante, mas também um “animador”. Estava sempre brincando com todos.
Um dia, ele pegou o operador cochilando na mesa. Antes de acordá-lo, pegou um morcego e grudou na cara dele. Ai, ele foi acordado. Com aquilo na sua frente. Deu pulo para trás, ficou branco e correu como raio.
Outro dia, chegou na redação, queria fazer o seu editorial, e não tinha máquina de escrever disponível (era o que tínhamos na época, notebook nem pensar).
Pediu que fosse liberada a máquina que ele normalmente usava. Um repórter estava lá. Fazia o texto da sua reportagem.
Ele pediu de novo.
E mais uma vez.
Não atendido, acionou o isqueiro e colocou fogo na ponta da folha que estava na máquina.
Quando o repórter percebeu, teve que agir rápido para salvar o que foi possível do texto. Mas, liberou a máquina.
A história de Aderbal pela Tv Eldorado tem grandes coberturas, e muita ousadia.
A implosão de um prédio no centro de Criciúma, provocada por um incêndio criminoso que matou 13 pessoas, foi uma das mais importantes e impactantes.
Teve cobertura de eleição que se equipara ao que é feito nos tempos de hoje, com dinamismo e informações de vários pontos ao mesmo tempo.
Eu fiz a primeira transmissão ao vivo externa da Tv Eldorado.Por ironia, na morte de Diomício Freitas, fundador e dono da Tv. Foi em maio de 1981.
Aderbal entrou na sala e apontou: “tu vais fazer ao vivo a missa de corpo presente na Igreja Matriz e depois no cemitério”.
E aconselhou: “Respira, e vai com calma; é uma reportagem normal, só que não pode parar para gravar de novo”.
Missão dada, missão cumprida. E bem cumprida.
Aderbal hoje mora e trabalha em Balneário Camboriú, aos 78 anos. A história da comunicação no sul do estado tem que lhe dedicar espaço de destaque.
Ele foi um ícone.