"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
Essa frase de Lavoisier, simplória à primeira vista, carrega uma dinâmica das mais importantes que existem para entender como os "meios" funcionam. Não só meio ambiente, mas também o meio econômico, o meio social, o meio tecnológico, e por aí vai.
Quem tem menos de 30 anos provavelmente tem dificuldade de imaginar um mundo sem Google. Se temos uma dúvida, vamos direto ao Oráculo e lançamos nossas perguntas. Mas existiu tempo pré-Google. E quem mandava nessa época eram as enciclopédias e almanaques. Eu mesmo tive algumas edições do Almanaque Abril, que já era uma tecnologia avançada.
Google nasceu e desenvolveu, cada vez mais intuitivo. Internet está cada vez mais democrática e móvel. Junte os dois, ninguém mais pega grandes livros para buscar manualmente, procurando a página certa, por informações limitadas. Tchau pras enciclopédias. Adeus Barça, adeus Larrousse!
Se for analisar na camada mais básica, que é "buscar informações", não foi criada uma ação nova. Ela apenas se transformou, pulando do papel para a tela. Ela se transformou. E a enciclopédia perdeu espaço.
O nome dado por Schumpeter para esse fenômeno é destruição criadora. Ela se baseia no fato de que quando algo novo surge, este pode causar a destruição ou obsolescência de algo já estabelecido. Algo como um “darwinismo comportamental”.
Um exemplo de influência dessa dinâmica no mercado de trabalho é a função de ascensorista de elevador. Os primeiros equipamentos eram apenas cabines de metal com grandes motores e roldanas, controle por arcaicos sistemas de liga e desliga. Era necessário um profissional que soubesse quando acionar, quando parar para fique no nível do andar correto, abrir a porta manual e, não menos importante, evitar que algum desavisado caia lá de cima. Atualmente os elevadores pensam sozinhos, tem comandos simples, inúmeros itens de segurança e dispensam totalmente o “motorista”.
Por motivos parecidos, já não existem mais acendedores de poste, telefonista (em centrais telefônicas), operador de telégrafo e leiteiro.
Outro caso bastante discutido no Brasil, já que deixou de existir em diversos países há décadas, é a função de frentista de posto de combustível. Tecnologicamente falando é possível que o próprio motorista digite o valor que quer abastecer, colocar o cartão de crédito na bomba e esperar o abastecimento. Mas por questões legais, os postos seguem obrigados a contar com esses profissionais.
Mas, e eu com isso?
Nenhuma dessas mudanças acontece por acaso. Todas as novas profissões nascem de novas ferramentas. E estas nascem de demandas por eficiência, seja para redução de tempo, de custo ou dos dois. E, como tudo tem dois lados, a evolução de alguns mercados gera dispensas, desemprego.
Acontece que, na contramão, existem movimentos de preservação de empregos de áreas que estão fadadas ao ostracismo. O que parece benéfico à primeira vista, mas gere custo pra ponta final da cadeia, que é o cliente. E o próprio beneficiado pela imposição do seu emprego vai pagar o custo da imposição de outro, zerando a equação.
E a situação piora quando são cruzados os dados de desempregados e vagas nas empresas de empresas. Existem vagas não preenchidas por falta de profissionais, reduzindo a capacidade produtiva, enquanto existem profissionais buscando vagas em funções de pouca ou nenhuma demanda.
Enquanto bons programas preparatórios de base resolveriam bem esse desencontro, vemos leis e normas impondo contratações desnecessárias.
Quem perde com isso é o consumidor. Quem ganha com isso?