Com dois meses e meio, um pouco menos até, de prazo para decidir qual será o partido em que disputará a reeleição, o governador Carlos Moisés (ex-Psl) vai mostrando que gosta mesmo é dos amores difíceis. Enquanto o Mdb se esfacela em uma disputa interna entre os que defendem o aclamado pré-candidato Antídio Lunelli e os que querem apoiar o governador, enquanto o Psdb e o Progressistas abrem suas portas em busca de seu nome para liderar o projeto eleitoral, enquanto o Avante vê no comandante um bilhete premiado para o protagonismo político estadual, os olhos azuis de Moisés brilham mesmo é para o arredio Podemos.
Difícil que qualquer um de nós não entenda o que se passa no coração de Moisés. A dificuldade na conquista muitas vezes ajuda a alimentar as paixões. Ainda mais quando o difícil vai começando a parecer possível, como acontece nesse flerte entre o governador e o Podemos. Tempos atrás - e seis meses são muito tempo na política catarinense atual - a legenda estava do outro lado do rio, longe demais para ser banhada pelas águas governistas. Líder político do Podemos catarinense, o ex-deputado Paulo Bornhausen sempre rejeitou qualquer aproximação e o ponto máximo dessa incompatibilidade foi o voto do deputado estadual Laércio Schuster a favor da abertura do processo de impeachment, fundamental para o segundo afastamento de Moisés do cargo.
Prefeitos do partido, como Mário Hildebrant, de Blumenau, e Fabrício Oliveira, de Balneário Camboriú, acabaram sofrendo por tabela nesse distanciamento. O ponto de inflexão veio no final do ano passado, quando o ex-juiz, ex-ministro e ex-bolsonarista Sérgio Moro ingressou na legenda com a pretensão de concorrer à Presidência da República. A relação entre Moisés e Moro sempre foi boa nos tempos em que ele era ministro. Quando saiu do governo, o catarinense se apressou em fazer um convite público para que virasse secretário estadual - irritando ainda mais os bolsonaristas locais.
Para Moisés, Moro é um antídoto à fama de traidor de Bolsonaro. Poderia advogar, como faz o ex-juiz, a narrativa de que se manteve onde estava em 2018, que foi o presidente quem desgarrou. Nesse contexto, ainda em outubro do ano passado, Moisés foi a Brasília conversar pessoalmente com a presidente nacional da legenda, Renata Abreu. Uma conversa pouco frutífera naquele momento, rejeitada por Paulo Bornhausen localmente. Mas que deixou sementes.
A partir dela, o presidente estadual Camilo Martins deu início a uma aproximação que rendeu repasses e fotografias para os prefeitos do Podemos. Os movimentos geraram reação interna, especialmente quando agora em janeiro o grupo ligado a Paulo Bornhausen tentou aprovar na executiva estadual o acordo pré-nupcial com o União Brasil do prefeito florianopolitano Gean Loureiro. Um acerto que recolocaria de vez o Podemos no lado oposto do rio. Até agora, a carta não foi votada.
Dias atrás, um visitante de Brasília esteve na Casa d'Agronômica. Era Bruno Ornelas, coordenador político nacional do Podemos e homem de confiança de Renata Abreu. O que conversou com Moisés, poucos sabem. Mas os olhos azuis do governador andam brilhando.
A presidente nacional ouviu de Camilo Martins que a vinda de Moisés poderia até robustecer a chapa, mas que a popularidade dele ainda não faz de sua filiação um projeto irresistível. Enquanto isso, Bornhausen manda sinais a Brasília de que o projeto com o governador é ruim localmente e nacionalmente. Renata Abreu, pragmática como todo cacique nacional é, só pergunta quantos deputados federais o Podemos de Santa Catarina vai eleger para se dar ao luxo de esnobar um governador candidato à reeleição. A resposta, por enquanto, é que a atual chapa em construção só permite sonhar com a reeleição do deputado federal Rodrigo Coelho, lambendo os beiços.
Se a resposta continuar a mesma no próximo mês, é possível que a direção nacional recompense a súbita paixão de Moisés pelo Podemos. E deixe, assim, várias legendas viúvas por Santa Catarina.