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Movimentos de Dória e Moro deixam agitada a terceira via, mas trazem poucos efeitos

Por Upiara Boschi Edição 01/04/2022

Um aparente faniquito do governador paulista João Dória (Psdb) e um recuo do ex-juiz Sérgio Moro (ex-Podemos, agora União) movimentaram o dia do amplo e pouco bem sucedido, até agora, campo da terceira via presidencial. Logo pela manhã, a Folha de S. Paulo noticiava que Dória havia desistido de renunciar ao governo de São Paulo e de disputar a presidência da República. Logo depois, foi a vez de Moro anunciar que estava deixando a corrida presidencial, o Podemos e o Paraná, buscando abrigo no União Brasil de São Paulo para uma possível candidatura a deputado federal. Seriam duas baixas na turma que defende o "nem Bolsonaro e nem Lula", ajudando talvez a pavimentar uma chapa com a senadora Simone Tebet (Mdb do Mato Grosso do Sul) e o quase ex-governador gaúcho Eduardo Leite (Psdb), apoiada pelo União.

Dória recebeu pressões para desistir de desistir. Ficando no governo, desmancharia todo o projeto do vice Rodrigo Garcia (Psdb), que depende do comando da máquina estadual para deslanchar como candidato a governador de São Paulo. Fora a desconfiança, até a convenção, de que Dória poderia estar tramando concorrer à reeleição. No fim da manhã, Dória começou a desfritar o ovo. Ficou a narrativa de que o tucano queria um gesto forte para barrar a volta de Eduardo Leite, a quem venceu nas prévias tucanas em novembro, para o jogo pelas mãos de caciques como Aécio Neves e Tasso Jereissati. Quanto a Moro, o movimento foi confirmado. Ele apenas disse que "por enquanto" está fora da disputa. No União, ele é vetado como presidenciável pelo núcleo originário do Democratas. E deve continuar assim.

A decisão do ex-juiz é mais explicável que a quase decisão de Dória, mas ambos tem problemas semelhantes: ninguém quer apoiar suas candidaturas. Moro surgiu com algum impacto nas pesquisas eleitorais quando se filiou ao Podemos e foi lançado pré-candidato a presidente, mas estacionou em uma incômoda disputa com Ciro Gomes (Pdt) pelo terceiro lugar - ambos abaixo dos 10%. Sem deslanchar, foi desdenhado por possíveis aliados como Mdb e o próprio União. Ao convidar Simone Tebet para ser sua vice, levou uma enquadrada que pode ter sido a centelha para a decisão anunciada hoje. Sem aliança, Moro teria no Podemos cerca de 20 segundos no horário eleitoral para dizer quem é e o que quer para o país.

Dória quer os mesmos aliados e enfrenta os mesmos percalços, mas tem um partido mais estruturado. O problema é que os tucanos estão rachados desde antes da prévia - e a disputa interna apertada potencializou a divisão. Eduardo Leite flertou com o Psd de Gilberto Kassab, mas acabou decidindo apostar na continuidade no Psdb e na tese de que é mais palatável para alianças que o paulista. Quem levar o apoio do Mdb e do União vira presidenciável e candidato a estrela da terceira via.

Em Santa Catarina, os movimentos de Dória e Moro chamaram atenção, mas não tiraram o sono de ninguém. O Podemos ficou atento ao potencial de Moro como cabo eleitoral em Santa Catarina logo que ele se filiou, mas não viu grande diferença. Focou na aproximação com o governador Carlos Moisés (Republicanos) para filiar parte de seus aliados e assim fortalecer a chapa. A ida de Moro para o União poderia ser um problema para o agora ex-prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, administrar como pré-candidato a governador. Mas se o ex-juiz concorrer mesmo a deputado federal por São Paulo, será facilmente ignorado se for problema. 

Em relação a Dória, o Psdb catarinense deve ter prestado atenção no movimento. A maior parte das lideranças tucanas apostou em Eduardo Leite na prévia e depois se recolheu. Alguns nomes até cogitam deixar de concorrer nas eleições por medo de que o paulista - odiado por bolsonaristas e esquerdistas - seja uma âncora eleitoral. No Centro Administrativo, alguém brincou: se Dória tivesse desistido antes, o Psdb teria sido uma opção para Moisés. Tarde demais.

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